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Os prediletos da Madre Teresa

Miguel Ángel Velasco

Conferência sobre População e Desenvolvimento no Cairo. Nafis Sadik, egípcia, Secretária geral da Conferência, defende o controle da natalidade mediante a descriminalização do aborto e o mais que for preciso.

A Madre Teresa sobe ao estrado, no meio de um ansioso silêncio, feito de irreprimível admiração e de temor pelo testemunho vivo da coerência materializada num ser humano, e, com a voz transida de emoção, de uma emoção que contagia os mais recalcitrantes, diz concisamente:

- O mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente, segundo os cientistas e pesquisadores, para todos; existe riqueza mais que de sobra para todos. Só é questão de reparti-la bem, sem egoísmo. O aborto pode ser combatido mediante a adoção. Quem não quiser as crianças que vão nascer, que as dê a mim. Não rejeitarei uma só delas. Encontrarei uns pais para elas. Ninguém tem o direito de matar um ser humano que vai nascer: nem o pai, nem a mãe, nem o Estado, nem o médico. Ninguém. Nunca, jamais, em nenhum caso. Se todo o dinheiro que se gasta para matar fosse gasto em fazer que as pessoas vivessem, todos os seres humanos vivos e os que vêm ao mundo viveriam muito bem e muito felizes. Um país que permite o aborto é um país muito pobre, porque tem medo de uma criança, e o medo é sempre uma grande pobreza.

Uma mulher sem filhos, convertida, pela fé e pelo amor, na mãe mais fecunda do mundo.

Bill Clinton, Presidente dos Estados Unidos, é batista de religião. No meio dos retratos que tem no seu gabinete oval da Casa Branca, encontra-se uma fotografia com dedicatória da Madre Teresa. Clinton nutre verdadeira veneração por ela, apesar de que, cada vez que a recebe, lhe ouve uma repreensão em regra, sem a menor contemplação: a Madre lembra-lhe, não o que há que fazer, mas o que ele, concretamente ele, pode e deve fazer para salvaguardar a paz na justiça e na liberdade, para resolver dignamente os problemas da pobreza e evitar que as mulheres norte-americanas se vejam forçadas ao drama do aborto.

- O aborto provocado - diz-lhe - é uma das minhas maiores cruzes; é a maior barbárie contra a paz do mundo, porque, se uma mãe é capaz de matar o seu filho, o que pode evitar que nos matemos uns aos outros?

Há muitos anos, a Madre declarou à revista italiana Gente: "As crianças são o melhor presente que Deus nos pode fazer, mas o homem, no seu egoísmo, nem sempre aprecia este dom. Com freqüência, as crianças são rejeitadas, abandonadas, maltratadas e até assassinadas. Desde a minha juventude, luto contra esses delitos".

As primeiras criaturas com que a Madre Teresa iniciou a sua nova missão, depois daquela noite em que, viajando de Calcutá a Darjeeling, o Senhor lhe abriu os olhos para a miséria absoluta e nasceu a sua vocação de servir Jesus nos mais pobres, foram precisamente cinco crianças abandonadas. Contou-o assim:

"Vivíamos num tugúrio, nos arredores de Calcutá, na região mais miserável da cidade. Eu buscava alimento entre os desperdícios. Não tínhamos nada, mas eu amava aquelas crianças e elas eram felizes porque se sabiam queridas. Não há pior tristeza no mundo que a falta de amor. Vi crianças que se deixavam morrer porque ninguém as amava. Sou mãe de milhares de crianças abandonadas. Tenho-as recolhido do lixo das ruas. Tenho-as recebido da polícia, dos hospitais onde foram rejeitadas pelas << mães >>. E vou levando-as para diante".

Algumas adolescentes foram violentadas com toda a selvajaria em Bangladesh. As autoridades queriam fazê-las abortar. A Madre Teresa interpôs-se. A uma doutora que insistia em que uma criança não-nascida não é um ser humano, disse-lhe:

- Se a senhora está casada e traz um ser no seu ventre, é um ser humano ou o que é?

- Bem - disse a médica -, isso seria diferente.

- Estas meninas - replicou-lhe a Madre Teresa - foram forçadas contra a sua vontade, mas isso que os senhores querem fazer nelas, isso sim, é que é uma violação muito pior e um assassinato. Eu me encarregarei dos bebês quando nascerem...

Contaram-me alguns dos seus colaboradores que a Madre tem um grande álbum com muitas fotos e que, quando as repassa, fica como que ensimesmada, cheia de ternura e de alegria. Os retardados mentais, os debilóides, os que ninguém aceita, nem acolhe, nem adota, os que ela conseguiu salvar da morte no ventre da mãe, "esses ficam comigo. A natureza foi cruel com eles, mas são filhos de Deus e têm tanta necessidade de carinho! São os meus prediletos".

Retirado do livro "Madre Teresa de Calcutá", de Miguel Ángel Velasco, Editora Quadrante, 1996

 





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