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Fatores pessoais que podem levar um adolescente a integrar bandos criminosos

Gerardo Castillo


A psicologia do bando juvenil com finalidades criminosas é bem conhecida. Ou, para dizê-lo de outra forma, sabe-se bem qual é o mecanismo psicológico que leva os adolescentes a integrar-se nesse tipo de grupo.

Os membros de uma gangue juvenil costumam ter uma personalidade imatura, especialmente quanto ao aspecto emocional. Estão numa situação de "infância afetiva", que se manifesta em autênticas regressões a idades anteriores, como por exemplo o egocentrismo e o capricho. Essa imaturidade emocional favorece a falta de estabilidade e de confiança em si mesmos e é também a causa dos impulsos agressivos e destrutivos.

Esses adolescentes são seres insatisfeitos. Estão tão descontentes consigo mesmos como com tudo o que os rodeia. A insegurança de que sofrem leva-os a reagir negativamente perante o mundo dos adultos, com uma rebeldia elementar e primária, carente de reflexão e de verdadeiro sentido crítico.

O bando juvenil proporciona-lhes o que estão buscando. Oferece-lhes segurança física e moral. Na gangue, encontram uma organização que os defende de todos os perigos. Muitos sentem-se pela primeira vez aceitos pelos outros e aprendem a confiar em si mesmos, embora por ocasião de atividades reprováveis. O bando vem a ser, assim, a saída para diversas frustrações pessoais: "Identificando-se com o grupo e os seus ideais, os seus membros, que se encontram inferiorizados e inseguros, podem ter a impressão de ser alguém e de pertencer a algo" [1].

A gangue satisfaz também a necessidade que esses adolescentes têm de opor-se por princípio ao modo de vida dos mais velhos. No bando, cultiva-se a desconfiança para com os adultos e surgem muitas oportunidades para se rebelarem de forma concreta contra as normas e valores que aqueles estabeleceram. E essa rebeldia acaba por tornar-se agressiva.

Outra função da gangue juvenil é a de canalizar e justificar a agressividade que cada um dos seus membros experimenta. "Uma pessoa só se acostuma a reprimir a sua agressividade por covardia, por indecisão, por medo à sociedade ou por "preconceitos" morais. Mas o bando tem a capacidade de eliminar todos estes inconvenientes: a ação agressiva determinada pelo grupo (que possui a sua moral particular) deixa de ser má; cada membro vê-se obrigado a atuar por fidelidade ao grupo e não tem nada que temer, já que este o apóia e acoberta; os sentimentos pessoais de culpa ficam dissolvidos nos ideais do grupo e sublimados por estes" [2].

Muitos desses jovens não cometeriam sozinhos os crimes que se atrevem a praticar em grupo. O "código moral" do bando proporciona uma pseudo-justificativa moral para a conduta incorreta. Esse código, porém, não está composto somente por valores deformados ou adaptados à conveniência do grupo; costuma conter valores morais autênticos, semelhantes aos dos grupos normais de crianças e adolescentes, como por exemplo a lealdade e solidariedade com os companheiros.

Por que, então, esses valores autênticos não servem para neutralizar a conduta agressiva e criminosa do grupo? Porque "não ultrapassam o círculo estreito do bando; fora deste, já não têm vigência. E, na medida em que estreitam os laços no interior do grupo e reforçam a sua unidade, contribuem para isolá-lo ainda mais do mundo que o rodeia, o qual perde clareza, tal como se esfumam na noite os acessos a um local violentamente iluminado pelos projetores" [3].

Não se deve ignorar, no entanto, que o "código de honra" da gangue juvenil é muitas vezes o primeiro ideal moral que muitos adolescentes encontram, e que isso os move a superar-se a si mesmos em algum aspecto e a valorizar-se positivamente como pessoas.

Se o bando juvenil satisfaz tantas necessidades pessoais, não nos deve estranhar que exerça um autêntico fascínio sobre os seus membros. A gangue os seduz porque lhes dá uma oportunidade de se sentirem importantes. O simples fato de fazerem parte dela - o sentimento de "pertença" - é muito gratificante para jovens que emocionalmente são crianças, mas desejam aparecer diante dos outros como homens. Essa força embriagante do bando é o que converte as suas atividades em algo tão perigoso.

Tão preocupante ou mais que a agressividade e a violência das gangues é a substituição que nelas ocorre dos "bons amigos" pelos "maus amigos". É muito grave aceitar uma "amizade" que não se baseia no desejo mútuo do bem, na melhora pessoal do amigo, e além disso, não ter sequer plena consciência dessa realidade. E é também muito grave substituir a moral objetiva por uma moral subjetiva elaborada pelo próprio grupo, sobretudo se esta é seguida de forma completamente cega.


[1] J. M. Quintana Cabanas, Pedagogia social.
[2] J. M. Quintana Cabanas, Pedagogia social, pág. 159; as aspas da palavra "preconceitos" são minhas; penso que seria mais correto usar a expressão "normas morais".
[3] B. Reymond-Rivier, El desarollo social del nino y del adolescente, pág. 252.



Fonte: livro "Educar para a amizade", Gerardo Castillo, Quadrante, São Paulo, 1999. Os Pais diante dos "desafios" da amizade - pp. 210-213

 

 

 

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