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Um sonho possível
Letícia Colombini

 

Conciliar a maternidade com a responsabilidade do alto cargo é um desafio para muitas executivas. Preparar previamente um time e manter contatos esporádicos durante a licença-maternidade podem ser alternativas para não comprometer a bem-sucedida carreira. Sem prejudicar, lógico, a relação com o bebê.

 

No afã de se tornar uma pessoa realizada e bem-sucedida, não é de hoje que a mulher vem se dedicando de corpo e alma a vida profissional. Considerada competente, proativa e orientada para resultados, sente que conquistou seu espaço no mercado de trabalho e, portanto, pode respirar aliviada. Agora, com a carreira nos trilhos, acha que chegou a hora de realizar o antigo sonho da maternidade. Quem já passou por isso, no entanto, sabe que tomar a decisão de engravidar nem sempre é fácil. Equilibrar-se nos papéis de mãe e profissional é um dos principais desafios da mulher.

É sabido que a participação feminina no mercado de trabalho cresce a cada dia. Apesar desse importante avanço, porém, o conceito de maternidade não mudou tanto. "Continua havendo resistência, por parte das próprias mulheres, em abrir mão do papel materno idealizado, que pressupõe dedicação integral aos filhos", diz Denise Kallas, diretora da Gutemberg Consultores, em São Paulo. "Sentimentos como dúvida, angustia, insegurança e culpa, entre outros, ainda são comuns." De acordo com Kallas, a falta de apoio às profissionais que resolvem ser mães continua sendo regra no mercado de trabalho. "De uns tempos para cá, entretanto, algumas organizações vem se mostrando mais maduras e sensíveis em relação ao assunto. "Entre elas está, por exemplo, a Fersol, fabricante de defensivos agrícolas e produtos veterinários de Mairinque, São Paulo. Criou a licença-maternidade de cinco meses e permite a emenda de mais 30 dias de férias. Somando tudo, é possível permanecer em casa por até um semestre. Assim, não interrompem o processo de amamentação antes dos seis meses recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Fazemos um esforço dobrado no sentido de compreender, colher e dar condições para que as profissionais tenham uma gravidez saudável e tranqüila”, explica Ieda Pozo, gerente de recursos humanos da Fersol. “E elas sabem que, ao retornar ao trabalho, continuarão sendo avaliadas por seus resultados, e não pela nova condição de mães.”

Trabalhar em casa

De acordo com Ieda, a maioria das funcionárias da empresa aceita o benefício oferecido. As executivas, porém, sabem que podem perder terreno e comprometer a carreira caso permaneçam afastadas do trabalho por muito tempo. "Em geral, elas optam por trabalhar até o final da gravidez e, não raro, voltam mais cedo da licença-maternidade", diz José Augusto Minarelli, da empresa de recolocação de executivos e aconselhamento de carreira Lens Minarelli. "Além disso, muitas aproveitam os recursos tecnológicos para preservar o vínculo com a companhia durante o período de afastamento."

Foi assim com a bióloga Vanessa Alves, de 29 anos, mãe de Gaia, hoje com 1 ano de idade. Coordenadora de meio ambiente e saúde ocupacional da Fersol, ela explica que, na época da gravidez, a companhia passava por um período agitado, atribuído a uma crise interna. Diante da situação, combinou que se afastaria de suas funções por cerca de 40 dias e voltaria a trabalhar meio período pelos quatro meses seguintes. Vanessa fez reuniões com sua equipe em casa. "Participei da discussão de cada problema relacionado à minha área", confessa ela.

JOGO DE CINTURA

"Usar o bom senso, ser flexível e, sobretudo, evitar colocar a legislação trabalhista no centro da discussão para justificar o prolongamento da licença-maternidade." Esses são alguns dos conselhos ditados por Moacir Sampaio Silva, chefe do departamento de psicologia social do Instituto Sedes Sapientiae, para as mulheres que ocupam cargos-chave nas empresas e decidem se tornar mães. "Falamos de alguém que dá uma contribuição intelectual e personalizada à organização e, portanto, tem privilégios compatíveis ao seu nível de responsabilidade", diz o psicólogo.

Denise Kallas, da Gutemberg Consultores, concorda que marcar presença durante o período de afastamento é, muitas vezes, fundamental para fornecer oxigênio a carreira nessa fase. Peça para:

  • ser copiada nos e-mails mais importantes;
  • participar de uma ou outra reunião estratégica;
  • ser informada sobre o andamento dos projetos que coordena;
  • sair para almoçar de tempos em tempos com um novo membro de seu time, ou o chefe de sua área.

Desde que isso, é claro, não prejudique o convívio da mãe com o recém-nascido. "Sou a favor de que todas as profissionais, de qualquer nível hierárquico, façam uso dos quatro meses da licença-maternidade", afirma. "Isso não impede porém que, caso seja necessário, a nova mamãe se dedique eventualmente ao trabalho, levando em conta os limites acordados com a companhia."

Mãe de Giovana, de 5 anos, e grávida de quase nove meses, a supervisora de controle das operações financeiras da Redecard, Kátia Araújo Mariano, de 31 anos, acredita que quatro meses são suficientes para dar toda a atenção que o bebê precisa. "Se ficasse em casa mais tempo, além de desatualizada, sei que não ficaria feliz", diz. "Eu me sinto realizada trabalhando, produzindo, e sei que o importante não é a quantidade, mas a qualidade do tempo que a mãe passa com seus filhos."

A segunda gravidez, diz Kátia, está ocorrendo de forma serena graças ao apoio que ela recebe da organização. "Quando avisei minha chefe que pretendia ter o segundo filho, ela me incentivou e fez festa quando, mais tarde, comuniquei que estava grávida", lembra a supervisora. "Estou me sentindo segura com o carinho que a organização tem demonstrado." Carinho que faz questão de retribuir tentando minimizar os impactos de sua futura ausência. Há tempos ela prepara duas pessoas de sua equipe para tomar as decisões relacionadas à área enquanto estiver de licença. "Em princípio, minha idéia era ficar grávida no ano retrasado", conta. "Decidi, porém, adiar meus planos, já que 2003 foi um ano conturbado na empresa."

GRAVIDEZ PLANEJADA

Planejar a gravidez e comunicar a decisão a empresa com antecedência é uma das maneiras eficientes de evitar eventuais conflitos, alertam dez entre dez consultores de carreira. "Uma gravidez não planejada, afinal, requer manutenção em pleno vôo, o que pode acarretar problemas", diz Moacir Silva. Kallas, por sua vez, completa: "O ideal é que a profissional esteja há pelo menos um ano na empresa antes de engravidar; caso contrário, terá de se ausentar na fase em que começa a produzir e agregar valor ã produtividade". Montar uma rede externa de apoio ao bebê – babás e suporte de parentes próximos – ajuda a garantir tranqüilidade para as mães na volta ao trabalho.

Mesmo assim, é natural que a saudade da convivência com o pequeno insistam em atormentá-las. Nesse caso, é bom lembrar que, diferente do que parece, as mulheres que trabalham fora costumam dedicar a seus filhos o mesmo tempo que as donas de casa dos anos 60.

Uma pesquisa da Universidade de Maryland, EUA, revela que em 1965 as mulheres ficavam, em média, 5,6 horas por dia com as crianças. Em 1998, a média ficou em 5,8 horas. As explicações para isso variam. Uma delas é que hoje as profissionais acomodam as atividades de forma que sobre tempo para os pimpolhos.

Acordam mais cedo, dedicam-se menos a trabalhos domésticos, já que a tecnologia se ocupa mais disso...

NENHUM MOTIVO PARA TER CULPA

Logo após a gravidez, as mulheres, em geral, sentem imensa culpa e ficam inseguras em deixar o bebê para voltar a rotina do trabalho. Se a mãe se sente dividida em retomar a atividade profissional, uma alternativa ê investigar as causas da culpa. Por meio de terapia, meditação ou alguma outra atividade que a coloque em contato consigo mesma. "As mulheres que já tendem à ansiedade, ao rancor, a tendências de culpa e à depressão é indicado fazer acompanhamento terapêutico desde o inicio da gravidez", explica Ana Maria Rossi, presidente do Isma-BR, entidade internacional que se dedica a prevenção e tratamento do stress. A mesma opinião é compartilhada por Valentina Pigozzi, psicóloga e terapeuta familiar. "A mulher precisa se ligar, porque a depressão pode acontecer pela falta de tempo para digerir todas as mudanças", enfatiza.
Por Erica Pólo.



 


 
Fonte: Revista Vida Executiva (www.revistavidaexecutiva.com.br). Reportagem de Letícia Colombini. Edição especial “Mães que trabalham” (Ano 1 nº 1).   

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