Portal da Família
|
||||||||||||||||||||||||||||
|
Referendo e reforma - A avaliação dos professores |
|
Mário Pinto |
|
Este artigo faz uma leitura da questão da avaliação e responsabilização dos professores à luz da Liberdade de Educação, identificando alguns dos contra-sensos do atual sistema educativo de Portugal. Embora as sugestões do artigo sejam endereçadas às autoridades portuguesas, é interessante notar que também são interessantes ao Brasil.
Mas, pensando bem, a verdade é que o sistema escolar é propriedade do Estado, criado, regulado, administrado, fiscalizado pelo Estado. O Estado manda tudo, e é assim que a Constituição é interpretada pelos defensores da escola pública, como indispensável instrumento da "socialização" das crianças e jovens segundo uma ideologia politicamente definida e necessária para todos. Só os que podem pagar o ensino nas escolas privadas têm a "liberdade" de se escaparem a esta socialização de Estado. Para não haver o risco da "guetização" das crianças e jovens, os pais (que nesta matéria não merecem confiança) devem ceder o papel educativo escolar ao Estado, em nome da tal "socialização" igual para todos. E os professores devem ser funcionários públicos. Logo, é justo que os ministros da Educação afinal sejam os responsáveis. Contudo, sucede algo de estranho: em vez de, como é tradição dos ministros da Educação (com breves e leves excepções), sofrer em silêncio o respectivo calvário expiatório, de repente a atual ministra parece apontar também culpas aos professores. E mais: diz que os pais devem poder contribuir para avaliar os professores, o que pode entender-se como querendo ainda responsabilizar os pais. Tem razão a ministra? Sim, claro que tem.
Ora, a lógica e a administração do sistema é exclusiva responsabilidade do Estado. É o Estado que recruta os professores, como decidiu fazer. É o Estado que estabelece a carreira dos professores e as avaliações dos Alunos. É o Estado que regula todo os funcionamento das escolas. É o Estado que administra e fiscaliza. Tudo como ele quer. Mesmo se os sindicatos mandam demais, e ainda por cima vivem de professores destacados pelo Ministério, é culpa do Estado. Se os alunos são indisciplinados impunemente e os professores vítimas impotentes, é culpa do Estado. Se os alunos vão passando sem saber, é culpa do Estado, que se deixa dominar pelo "eduquês" da moda ideológica que se instalou dominando as escolas superiores de educação e a máquina do Ministério. Se os professores são culpados, é também como subordinados e vítimas; tal como os pais, que agora alguns descobriram como massivamente incompetentes e perversos
para poderem opinar sobre a avaliação do serviço prestado aos seus filhos. Em suma, tudo, no sistema escolar público, é em última análise sempre culpa do Reforme Vossa Excelência todo o sistema de ensino escolar. Descentralize e dê às escolas autonomia de gestão, com regras amplas e responsabilidade de resultados, mas não as entregue corporativamente e em exclusivo aos professores. Incremente Vossa Excelência com apoios eficazes a participação da comunidade educativa no projeto de escola. Dê aos professores o direito e a responsabilidade de ensinar, disciplinar e avaliar os seus alunos, sem lhes dificultar subrepticiamente a aplicação das justas sanções e reprovações, e jamais por veto dos pais. Mande Vossa Excelência que se façam exames externos aos alunos (únicos formalmente independentes e iguais), pelo menos no termo de todos os ciclos. Mande que os resultados do ensino sejam levados em conta na avaliação de serviço dos professores e das escolas. Estabeleça Vossa Excelência uma carreira docente bem remunerada e exigente, baseada em concursos que incluam provas públicas de saber e competência, em valor absoluto e em valor relativo, competindo os professores justamente entre si, quer para a admissão, quer para a progressão. Fará Vossa Excelência muito bem se der aos pais o direito de também contribuirem com a sua avaliação para a avaliação da escola e dos professores, mas desde logo pelo direito de escolha da escola. Isto é, devolva Vossa Excelência a escola a quem ela deve pertencer. Só depois poderá não apenas regular, financiar e fiscalizar (que mais não é preciso que o Estado faça), mas, então sim, publicamente ainda criticar e responsabilizar. |
|
Fonte: Parte do artigo “Referendo e Reforma”, da autoria do Prof. Mário Pinto, presidente da mesa da Assembleia-geral do Fórum para a Liberdade de Educação, publicado no Jornal Público de 5 de Junho de 2006. Fórum para a Liberdade de Educação - www.liberdade-educacao.org |
Divulgue este artigo para outras famílias e amigos.
Inscreva-se no nosso Boletim Eletrônico e seja informado por email sobre as novidades do Portal
www.portaldafamilia.org