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A Avó

Fernando Sena Esteves

Avós tive duas como toda a gente. A paterna mal a conheci pois faleceu era eu miudito, mas bem me lembro de um seu costume, continuado pela irmã, de nos mandar de vez em quando uma cesta cheia de coisas belíssimas, nomeadamente alheiras. Das autênticas e não como as desgraças que andam por aí, ditas de Mirandela, que abusam do pão, da gordura e do nome de uma bela terra.

Era a Avó da Idanha, para a distinguir da Avó, sem mais nada, que vivia perto de nós e que nos recebia constantemente por horas ou dias ou semanas. Era uma casa sóbria, de um encanto muito próprio, “a casa da Avó”. Também lá vivia o Avô, claro, mas a casa tinha só o nome da Avó.

Agora que sou avô, sinto bem quanto gosto dos netos e vice-versa, mas as avós têm uma mágica especial para os netos que não tem explicação. Se tivesse não era mágica… Dizia que gosto dos netos, e é verdade, e como gostava que soubessem algumas coisas que nem pensar! Como é que se pode, a um miúdo que põe capacete, joelheiras e cotoveleiras para andar de bicicleta, ensinar a fazer um estilingue,?! E não é que me faltasse know-how e matéria prima…

A casa da Avó era uma delícia, com coisas fora do vulgar. Por exemplo, um cágado com cara de filósofo que vagueava pelo quintalzito, uma pereira que o Avô podava e às vezes dava mesmo peras e uma mortalhas que surripiávamos para fazer uns cigarritos colossais: as barbas de milho ou a cidreira seca sabiam muito melhor do que enroladas em papel de jornal! Quando enviuvou, eram os netos que lhe tratavam das papeladas, e um belo dia mete-me na mão uma nota de conto! Fiquei parvo, pois nem sabia que a Avó podia ter poupado tanto dinheiro. Senti-me milionário: um rapazola com um milhão de reis nas unhas! Pelos anos sessenta, um conto não era bem a mesma coisa que aquela notita que se trocou pelos cinco euros de agora. Faleceu, faz este mês 44 anos, rodeada de netos, filha e genro, como é próprio das avós. Muito mais próprio do que nos lares de terceira idade, onde podem ter tudo e mais alguma coisa, mas não têm netos…

Dizia no começo que toda a gente tem duas avós. Bom, o Menino Jesus teve só uma, e como a todos os que lhe eram próximos, deu grandes alegrias mas não lhes poupou também desgostos. Basta imaginar o que sentiu a Avó Ana ao ver a sua Maria naquele estado mais o genro José partir para o recenseamento de Belém, sem poder dar uma ajuda! Terá ficado com a consolação de saber que entre “os paninhos” com que se envolveu o Menino, alguns eram roupinhas que preparara com tanto carinho. E Maria, que nem um SMS podia mandar de Belém a dizer “Mamã, foi um bocado complicado mas correu tudo bem. Depois te conto!” Este depois foram uns anitos até virem do Egipto, e que alegria quando a Avó Ana os recebeu de volta a Nazaré!

Para remate desta homenagem às minhas Avós e a todas as avós, vai esta pérola de uma pequenita de oito anos, tal como apareceu num jornal do Cartaxo:

"Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros.

As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali.

Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas.

Nunca dizem "Despacha-te!". Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos.

Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.

As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.

Quando nos contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes.

As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo.

Não são tão fracas como dizem, apesar de morreram mais vezes do que nós.

Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo se não tiver televisão".

avós amarrando o tênis do neto

 

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Fernando Sena Esteves é Professor Catedrático Aposentado da Faculdade de Farmácia do Porto e colunista do jornal Verdadeiro Olhar - www.verdadeiroolhar.pt

Publicado no Portal da Família em 09/07/2008 [an error occurred while processing this directive]

 

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