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Fabio Toledo

Coluna "Assuntos de Família"

Até quando?

Fábio Henrique Prado de Toledo

Um dia desses tive uma conversa com um amigo e colega de trabalho. O papo saiu das amenidades e enveredou para questões existenciais. É que ele estava muito abalado com o falecimento de um parente que, ao que me pareceu, lhe era muito caro e ele desafiou-me a escrever sobre o assunto: como entender a sorte do que vai e como consolar os que ficam?

Pensei, num primeiro momento, que a dúvida estivesse a incomodar apenas o meu colega. Porém, após a tragédia de Pedreira, estou certo de que muitos andam inquietos com o mesmo assunto. É não é para menos, pois é muito comovedor imaginar mãe e filha morrendo abraçadas, quiçá cada uma buscando na outra uma segurança que elas mesmas não poderiam dar-se.

Confesso, caro amigo, que não tenho a menor condição de apagar suas dúvidas, até porque também as alimento em mim. Mas tive a fortuna de conhecer um sábio conselheiro a quem recorro em tais questões. Assim, acredite, apenas reproduzo o que ele me fez ver.

“Não é difícil de entender o que se sucede com os que partem”, - disse o meu guru com um ar de que retirava as palavras do fundo da alma. “Observe como é perfeita a natureza, o universo, o corpo humano. Tudo é composto de partes, que se subdividem em outras tantas, e tudo funciona com uma harmonia e perfeição impressionantes. É de se supor, portanto, que quem criou tudo isso é de fato muito sábio, bom no que faz”.

“Mas voltemos agora a considerar o homem e a mulher, os seus sentimentos, anseios, projetos, enfim, o seu íntimo. Qual é a aspiração de todos?” Antes que eu pudesse esboçar uma resposta, ele concluiu: “A felicidade, e que ela perdure para sempre. Se há algo a que todos anseiam é a felicidade. Por vezes, quase sempre, a procuram por caminhos errados, mas a buscam, tanto que é correto dizer que a única frustração verdadeira que pode ter o ser humano é passar uma vida e não encontrá-la”.

“Muito bem”, disse o meu caro filósofo, agora dando mostras de que iria concluir: “Aquele mesmo ser que criou o mundo com todas as suas belezas e perfeições, fez o homem e a mulher com esse afã de felicidade. É, pois, razoável concluir que, ou ele é um sádico, que zomba de nós ao nos fazer com um afã de felicidade e eternidade que não pode satisfazer, ou, ao contrário, e muito mais racional, há de se supor que, ao nos criar com tais anseios, tenha ele como aplacá-los”.

Penso que seus argumentos sejam irrefutáveis e de uma lógica difícil de se contestar, caro amigo. Ao menos a mim, que não sou filósofo nem nada, convenceu. De fato, quem de nós não quer ser feliz e que essa felicidade dure para sempre. Ora, se somos assim, quem nos criou pode nos dar isso, de modo que penso que não deve nos preocupar muito a sorte dos que partem, abraçados ou não com a mãe, como ocorreu com a Desiree, em Pedreira.

Mas você andava inquieto também com os que ficam, não é caríssimo amigo? Quanto à sorte deles, os conselhos que recebi me soaram como loucura, de início, mas coerentes. Disse-me aquele meu guru que a morte é uma boa amiga. É bem verdade que, quando ele me disse isso, eu pensei em sair da casa de meu conselheiro para não mais voltar, mas ele se explicou logo. É que considerar que haverá uma partida e que não sabemos como nem quando, pode nos ajudar a viver muito melhor.

“Por exemplo”, acrescentou ele, “você poderá abrir o vidro do carro ao menos para trocar umas palavras afetuosas com o pedinte que o incomoda no semáforo. É que pode ser a última chance que terá de fazer algo de bom a essa criatura. Poderá também resolver dar um passeio divertido com um filho, enquanto é tempo. Poderá trazer flores para a esposa, sem que haja motivos para isso, apenas para lembrá-la que a ama. Poderá resolver ir dar um conselho oportuno a um amigo que está para fazer uma grande bobagem em sua vida. Poderá decidir-se rapidamente por perdoar alguém que lhe ofendeu e buscar uma reconciliação. Enfim, pensar que se pode partir a qualquer momento faz com que não se dê grande importância aos dissabores por que passamos e lutemos pelo que verdadeiramente vale a pena. Isso é que deve ser dito aos que ficam, que em breve, eles também irão”.

E depois o meu fiel conselheiro conclui seus ensinamentos com uma frase que também não é dele, mas que calha muito bem com o que disse: “No dia em que você nasceu, todos sorriam e só você chorava. Viva de tal forma que, quando morrer, todos chorem e você sorria”.

 



Paisagem: uma trilha de partida

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Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC.

e-mail: fabiohptoledo@gmail.com

Blog: http://fabiohptoledo.blogspot.com.br/

Publicado no Portal da Família em 26/10/2010

 

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