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Viramos avós, e agora? Situações matrimoniais de avós jovens
Oliveros F. Otero e José Altarejos

Chega uma hora na vida de um casal em que o último dos filhos sai de casa, constituindo uma nova família. E, de repente, o casal encontra-se na realidade de ter se tornado um casal de jovens avós. E agora?

Dada a variedade de situações matrimoniais de avós jovens, vamos fazer referência a algumas situações ingratas e algumas situações felizes.

Enfim, sós?

Tomamos uma situação matrimonial concreta, que se considera entre a sexta e a sétima etapa do ciclo vital da família: Quando chega o dia em que sai do lar paterno o último dos filhos que convivia com eles.

Enfim sozinhos, se dirá entre sorrisos, jurando com a lembrança da primeira vez em que, jovens e recém casados, se viram em situação de saborear antecipadamente o mundo das esperanças sem limite, de horizontes de felicidade, cujo pórtico franqueavam com aquela frase.

Agora, as coisas são diferentes. Permeia toda uma vida humana; tantas, tantas coisas! - desde aquela primeira vez até o presente. Eles, sem deixar de ser jovens, já são adultos – nada menos que os avós -, e se ao enfim sós foi então como o abrir-se a uma aventura que se perfilava maravilhosa, agora não podem evitar a sensação de página virada, de um livro que se acaba ...

Entretanto, isso não é verdade. Verdade é que se concluiu uma etapa; mas também é verdade que restam muitas páginas por escrever no livro da vida deste casal de avós, que ficaram sozinhos. Da vida “que chama com seus cachos de uvas verdes”, como disse o poeta.

O certo é que a casa dos avós passa a ter mais silêncio, antes distraídos com a voz do filho; que haverá menos coisas em que pensar e em que ocupar-se, sobretudo por parte da mãe- avó, cujos cuidados por “aprontar a roupa do filho” ou por “fazer hoje esta refeição que tanto lhe agrada”, cessam e lhe criam, sobretudo a ela, um certo vazio.

Mas não menos certo que aí estão os dois, ela e ele, o avô e a avó jovens. E que não importa a idade para continuar fazendo-se projetos, para continuar realizando-nos. Ter projetos, saber que há um amanhã, desejá-lo e vivê-lo... Nunca se repetirá o bastante que esse projeto, essa ilusão por continuar fazendo, é a peça chave da maturidade sem envelhecer.

De tal modo que se possa dizer, como Pierre Mauriac, quando já não era nenhum jovem, que

“A VELHICE É PARA OS OUTROS”

Quais situações matrimoniais costumam ocorrer quando os cônjuges são avós?

Estamos falando, nesse caso, de casais completos, não de situações de viuvez. E ainda que já tenhamos acabamos de nos referir à grande variedade de casos que se integram na vida real, cabe consignar algumas que poderíamos considerar típicos por mais estendidos.

(Pequeno parêntese: ao chegar a este ponto, alguém já estaria farto por amor ao tema – às pessoas, aos avós, porque são pessoas - basta refletir situações felizes).

Todas felizes. O escritor inglês Charles Dickens confessa, ao término do livro “Os documentos do Clube Pickwick” como incapaz de impor um final infeliz a nenhum dos personagens... Mas aqui tentamos falar de realidades, porque, refletindo sobre elas, podemos contribuir para melhorá-las.

E então, por pior que nos seja, adentramos também em situações infelizes dolorosas, porque estas simplesmente ocorrem.

Poderíamos começar por situações felizes. Preferimos mencionar, primeiramente algumas situações ingratas, com o fim de evitá-las ou de melhorá-las, conforme os casos, com a ajuda da orientação familiar.

Situações ingratas

Uma situação ingrata é, por exemplo, a do casal de avós, que simplesmente, se suportam. Ao longo de sua vida anterior – antes de ficarem sozinhos - fizeram algo, ou melhor dizendo, deixaram de fazer, que lhes fundiu o tempo atrás de uma vida de rotina.

Ele, provavelmente, viveu mais ocupado em seu trabalho que em sua família; ela se centrou mais nos filhos, talvez como uma lógica consequência. E quando ele, ao aposentar-se, se encontra com todo o tempo do mundo; e ela ao aposentar-se do cargo de mãe, se encontra com a ampla presença do marido em casa..., pode ocorrer que não se encontram.

Suas relações conjugais já estavam esfriadas, para não dizer extintas; não souberam manter vivo o escrúpulo de seu amor de outro tempo, não cresceram em amor com a idade. E agora, todavia tendo em comum toda uma vida passada, e uma vida nova de presente – os filhos já casados, as noras e os genros, os netos - nada em comum lhes resta para suas horas em que apenas estão os dois, e como dizíamos apenas se suportam, e nada mais.

O que fazer então? Como sair da lama? Porque a situação se afundará, irá piorar se apenas se deixar tudo continuar do mesmo jeito.

Todavia, com uma ação reorientadora, pode-se fazer muito se aproveitando dessa nova fase da vida. Isto é:

- em suas novas responsabilidades familiares;

- no exemplo de comunicação matrimonial que necessitam deles seus filhos e suas noras, suas filhas e seus genros;

- nas possibilidades múltiplas que se apresentam nas ocasiões que contam com a presença dos netos, como voltar a desenhar e a realizar projetos comuns.

Não podem defraudar, sobretudo, aos netos. Pode ocorrer de a presença dos netos dar-se alguns anos antes da aposentadoria, e aqui trataremos de uma situação de aposentados reais, tanto para avós jovens quanto para avós idosos.

Mesmo que um pouco tarde, ainda é possível fazer muito. Porém, estes atrasos significam um preço mais alto e alguns resultados mais baixos.

É necessário se preparar antecipadamente para o curioso e universal fenômeno da aposentadoria oficial, para não cair na armadilha de encontrar-se todo o tempo do mundo e não saber o que fazer com ele, como se, ao criar-nos, nos tivessem dado tempo demais. Pelo contrário,

TEMOS O TEMPO NECESSÁRIO PARA O NECESSÁRIO

Por isso, todo pré-aposentado – e o somos há muitos anos antes - deveria prever, para qualquer idade, também para depois da aposentadoria, a justa e amorosa ocupação de seu tempo, para o necessário.

Lembro que em uma ocasião conversava com um avô jovem recém-aposentado que me comentava:

- Há que tomar consciência do que significa a aposentadoria oficial e prepará-la antes, com tempo e desejo; não nos deve chegar de surpresa.

- Há que ter planos ambiciosos de trabalhos e atividades para estar sempre ocupado, até com falta de tempo, pois o ócio é maior inimigo da saúde.

- Há que procurar-se ocupações... e há muitas: é um problema de usar a imaginação ...

Ele me deu uma longa relação de possíveis coisas a fazer, tais como:

• Ocupar-se de assuntos familiares com profissionalismo;

• Aprofundar e conhecer novos campos de estudo;

• Colaborar com sociedades sem fins lucrativos, que ajudem os outros;

• Especializar-se em orientação familiar.

Também é possível dedicar-se a desenvolver atividades culturais como:

• Escrever

• Pintar

• Colecionar algo com profissionalismo.

• Dar conferências.

• Ensinar aos demais o que cada um sabe.

• Colaborar em uma sociedade cultural, etc.

E também lembro como meu amigo, jovem avô, me repetia frequentemente que o êxito de uma aposentadoria é um problema de soltar a imaginação, a criatividade e querê-lo de verdade. Além disso, saber valorizar-se nos demais, pois há muitas pessoas que necessitam e a quem podemos ajudar.

Outra situação que costuma ocorrer é quando um dos cônjuges (com mais frequência, o esposo), cai no desânimo, no sentir-se inútil e vazio por uma doença, mas que não lhe impede de ter uma vida quase normal. A esposa permanece em atividade, com suas amigas, seus netos, a casa, e todo restante das demandas familiares. Ela se preocupa pelo esposo: com o diálogo, procurando-lhe saídas, pedindo-lhe pequenas coisas, fazendo-lhe participar nas coisas dela; com essa fina delicadeza que a mulher, apenas por sê-lo sabe infundir em seus atos. Mas ele, como costuma dizer-se, não levanta a cabeça.

Também esta situação caminha para o mal, se não for corrigida. Inclusive alguma vez pode ocorrer que o cônjuge abatido, com tanto tempo para pensar em tudo, chega a questionar-se se não se enganou gravemente quando escolheu o caminho que traçou até este final (porque, para ele, este presente inútil já tem vislumbre de final).

É óbvio dizer que o cônjuge abatido necessita de ajuda para superar sua aflição. Além da ajuda do cônjuge vivo, de quem mais puder ajudá-lo. Não se trata nunca de uma situação irreversível.

A ajuda orientadora servirá também para que redescubram seu matrimônio; para redescobrir sua vocação matrimonial.

Também os filhos adultos, já casados, podem fazer muito, com ajuda de terceiros, capazes de acessoramento conjugal e familiar, para ajudar estes avôs-jovens. O casal pode redescobrir muitas coisas em sua vida, começando por seu matrimônio. Talvez, o ponto de partida possa ser o descobrimento de seus netos e o de suas responsabilidades de avós jovens.

AVÓS: TODOS OS CASAIS PODEM MELHORAR: TENTE!

Situações felizes

Agora poderíamos colocar como exemplo situações matrimoniais felizes.
Muitos avôs jovens são felizes porque se propuseram a ter algumas metas familiares e a seguí-las. E também porque:

- Deram prioridade a seus passeios e, portanto às relações entre os dois, com respeito às demais relações familiares;

- Estabeleceram algumas normas de relação referentes à “casa dos avós”, e as cumprem e as fazem cumprir;

- Sabem colocar disponibilidade em seus serviços à família extensa.

- Dedicam-se a seus filhos e a seus netos, sem interferir-se nas áreas de autonomia da nova família;

- Como avós, ambos os cônjuges se complementam na relação com os netos, durante os momentos de convivência;

- Dispõem de uma história familiar e também de material audiovisual, como fotos e filmes familiares, suficientes para se criar um projeto comum de ação cultural, e realizá-lo a medida que os netos crescem;

- Viajam juntos com frequência.

Em alguns casos, são felizes porque dão preferência às relações matrimoniais, como espelho no qual refletem as demais relações familiares. São felizes porque continuam tentando o êxito do objetivo educativo mais importante: aprender (e ensinar) a ser felizes. São felizes, porque, sem dúvida, há fortes motivações transcendentes em sua conduta diária.

Importa a história de cada casal de avôs jovens e da família fundada por eles, porque são muitos anos de acertos, de erros, de retificações, de voltar a começar, de fazer as pazes, de crescer em liberdade e em amor, de alegrias, de sofrimentos, etc. Por isso, está justificada a pergunta:

O que fizeram e o que vieram fazendo ao longo de sua vida para chegar à situação atual?

São felizes agora porque souberam prever, ir-se preparando para quando chegar esta etapa de sua vida. São felizes porque souberam manter vivo seu amor, aceitando as mudanças de cada tempo, e querendo-se mutuamente sempre.

São felizes, porque, tendo recebido o dom da fé, souberam manter uma fé viva nas numerosas jornadas de sua vida matrimonial e familiar.

Importa o passado mas também importa muito os projetos comuns como árvores do futuro (que fundem suas raízes na terra das melhores lembranças). Por exemplo, vejamos o caso de um casal de avós jovens: Tem três filhos e duas filhas; sendo, desses, dois filhos e uma filha casados; e seis netos. Na atualidade, tem que atender os estudos do filho e preparar o próximo casamento da filha solteira. O avô, todavia trabalha e tem algumas economias.

Enfrentam os problemas – e as venturas - do viver cada dia. E de vez em quando pensam e conversam sobre o momento – próximo, que chegará em poucos anos - em que, com todos os filhos colocados, poderiam dedicar-se à brincadeira do enfim, sozinhos.

Brincadeira, apenas no modo de dizer; verdade, séria verdade, em sua realidade.

E começaram a fazer planos e projetos sobre como desfrutarão dessa nova situação. Ele já não trabalhará. E sonham juntos. Continuar vivendo com filhos e netos; isso, certamente. (Mas cada um em sua casa). E sair muito juntos. Ir ao cinema e ao teatro, sempre que for possível. Ler, conversar sobre o que lêem. Viajar: viajar sempre que puderem. E, o que mais gostarem... E é o que menos fizeram.

Será que realizarão seus projetos? Pouco importa.

O IMPORTANTE É TER PROJETOS PESSOAIS E COMUNS,

Talvez se concretizem, como qualquer projeto comum do matrimônio e do projeto comum da família. Talvez sigam adiante, sejam modificados ou até abandonados, em função da disponibilidade, de um serviço melhor, dos imprevistos da história humana, mas, principalmente, do surpreendente desenvolvimento dessa novela de amor.

avós jovens


Adaptação do livro “Os Avós Jovens”, de Oliveros F. Otero e José Altarejos.

OLIVEROS F. OTERO é doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Madri. Dirigiu durante muitos anos, desde seu início, o departamento de formação de orientadores familiares do Instituto de Ciências  da Educação da Universidade de Navarra. Foi assessor de centros de estudos superiores. É autor de dezoito livros.

JOSÉ ALTAREJOS é Orientador Familiar, pai de quatro filhos e avô de nove netos. É também diretor de empresas e mestre em Artes Liberais. Autor de um livro de poesia: “Olhares”.

 

Publicado no Portal da Família em 09/07/2012

 

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