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Filhos caros e escassos?

José Luis Olaizola

De vez em quando, nós, os pais de famílias numerosas, nos deparamos com a boa notícia de que não procedemos tão mal assim. Refiro-me ao fato de termos trazido muitos filhos ao mundo.

Numa recente conferência no Instituto Ortega y Gasset, o demógrafo Massimo Livi Bacci, professor da Universidade de Florença, disse que a sociedade tem uma dívida conosco, por uma simples — e econômica — razão: não estamos ajudando a aumentar a cota de idosos.
Mas, por acaso, é ruim ser velho? Muito pelo contrário: todo mundo quer chegar a ser velho um dia, e a sociedade se esforça para que as pessoas vivam o maior tempo possível e, se a expectativa de vida de um país aumenta, considera-se um sinal de progresso.
Entretanto, como a sociedade se empenha tanto para que vivamos muito, mas não faz o esforço paralelo para que as pessoas tenham filhos, aparace o problema. Teoricamente, só nós, que temos muitos filhos para nos sustentar na velhice, teríamos o direito de chegar a ser velhos. Pelo jeito, é o que acontecia na sociedade rural, pré-industrial, mais simples e mais de acordo com as regras da mãe natureza. Porém, na sociedade industrial e pós-industrial, o Estado intervencionista procura repartir o dinheiro, mas não os filhos.

Quem continua sustentando os filhos são aqueles que os concebem, mas o dinheiro produzido por esses filhos é dividido entre todos. Vou explicar. Dos nove filhos que tenho, quase todos já contribuem com a Previdência Social. Da contribuição deles, só receberei uma parte mínima, na aposentadoria, e o resto vai para os outros, que não têm filhos, ou só têm um, mas que também têm o direito de chegar a ser velhos.
O demógrafo Livi Bacci explica isso muito bem, e me diz que tenho direito a reclamar, mas que não me preocupe com isso porque não vai dar em nada mesmo. Parece-me que o ilustre professor é um tanto pessimista quanto à solução estrutural do problema. Em termos econômicos, conclui que a Europa sofre uma escassez, não de matéria-prima, mas de gente. É certo que em outras partes do planeta, situadas mais ao sul, parece que há excedentes, mas transportar gente não é tão fácil quanto transportar matéria-prima.

Custar caro

Uma confusão! Não haverá outro jeito a não ser voltar ao velho procedimento de ter filhos como Deus manda, que parece dar mais certo. Quando alguém anima a juventude, inclusive seus próprios filhos, para que tenham mais filhos, sempre respondem a mesma coisa: "As coisas agora são diferentes, tudo mudou muito". E têm razão; mas ninguém disse que mudou pra melhor.

Quanto menos somos, maior a tendência a vivermos agrupados nos grandes núcleos urbanos com as conseqüências negativas que esse congestionamento de gente produz. Por isso parece que somos muitos, mas basta sobrevoar o mundo para percebermos que somos muito poucos. O que acontece é que estamos mal distribuídos.
"Além disso", acrescentam, "ter filhos agora custa muito caro". E também não estão errados. Mas por que custam tão caro agora? É que as pessoas querem ter filhos muito competitivos, buscando para eles uma educação, quando podem, que vai desde o aprendizado de idiomas, incluindo informática, até aulas de judô, balé, esqui e, se der, de equitação. Como se o destino de todos eles fosse a Casa Branca, para substituir o presidente dos Estados Unidos. É claro que vão ser jovens muito instruídos, mas nem por isso acredito que venham a ser melhores.

Conclusão: no fim das contas, estou disposto a ser generoso e não reclamar nada pelo excedente da contribuição dos meus filhos. Também é verdade que me deram muitas alegrias e reconhecimento.

Quando João Paulo II nos recebeu em audiência privada, mostrou um discreto interesse pelos quarenta e tantos livros que publiquei. Mas, quando soube que tínhamos nove filhos, todas as atenções e admirações foram para minha mulher. Precisei fazer com que Sua Santidade percebesse que eu também tinha algo a ver com isso.

José Luis Olaizola é escritor. Artigo publicado na revista Mundo Cristiano em março de 1998.


Interprensa - www.interprensa.com.br - Número 15 - Julho 1998

 

www.interprensa.com.br


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