Por Gerardo Castilho
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Das experiências que
tiveram tido em casa depende, em boa parte, que os filhos cheguem a ser
pessoas sociáveis e capacitadas para a autêntica vida de
amizade. Mas a família influi sobretudo através das atitudes
dos pais.
Vejamos, em primeiro lugar, algumas atitudes paternas que não favorecem
as atitudes sociais e amistosas dos filhos:
1. Pais que não sabem nada dos filhos
e mal lhes dedicam tempo. O pouco tempo de convivência com
os filhos deve-se, às vezes, a ausências prolongadas e freqüentes
do lar, de um dos pais ou de ambos. Em conseqüência, os filhos
não vêem a casa como um lar, mas como uma simples residência,
um hotel.
2. Pais dominadores, possessivos, autoritários,
excessivamente severos e exigentes. Essas atitudes contribuem
nuns casos para tornar os filhos irascíveis, impulsivos e agressivos,
e em outros para desenvolver neles uma personalidade insegura e instável.
Todas estas características lhes trazem sérias dificuldades
para a adaptação aos grupos de brincadeiras e de estudo
e à vida de amizade.
3. Pais superprotetores, que oferecem
aos filhos mais ajuda do que eles precisam e tendem a resolver todos os
seus problemas por eles. Esse protecionismo pode obedecer a um apego afetivo
aos filhos, a um amor mal-entendido, ou à fraca opinião
acerca de algum filho, que os pais consideram incapaz de enfrentar situações
próprias da sua idade.
A criança superprotegida torna-se excessivamente dependente dos
outros: precisa da atenção, aprovação e ajuda
quase contínuas das outras pessoas. Não desenvolve a capacidade
de valer-se por si: não sabe iniciar atividades próprias
nem lutar por vencer as dificuldades que se lhe apresentam. Nessas condições,
a mentalidade egocêntrica própria da criança prolonga-se
pela vida fora e não lhe permite contribuir com nada de valioso
para os outros.
4. Pais permissivos, excessivamente indulgentes,
que mimam os filhos e os deixam agir em função dos caprichos
de cada momento. Esta atitude leva os filhos a torna-se egoístas
e fracos, a esperar dos outros uma atenção contínua
e a não saber aceitar a frustração de um desejo,
levando-os a reagir de forma impaciente e agressiva. Uma vez que toda
a convivência exige dar e não apenas receber, essas crianças
dificilmente se adaptam à vida em sociedade.
5. Pais frios ou indiferentes para com os filhos,
que não lhe dão mostras de carinho e afeto. Os filhos costumam
agir, nas relações com os companheiros e amigos, com a mesma
indiferença e frieza com que foram tratados em casa. Costumam ser
crianças tristes, pouco cordiais, que fogem das situações
de convivência. E quando tentam relacionar-se com os outros, encontram
dificuldades porque lhes falta elemento central da amizade: o afeto.
O problema é maior quando a indiferença dos pais se converte
em rejeição, que nem sempre é aberta: às vezes,
expressa-se em atitudes de insensibilidade ou de prepotência. Essa
rejeição diminui a auto-estima dos filhos, a segurança
em si mesmos, e pode dar lugar, mais adiante, a condutas anti-sociais
que resultam da necessidade de "descarregar" a agressividade
acumulada ou de chamar a atenção dos outros.
Quais as atitudes paternas que, pelo contrário, favorecem a capacidade
dos filhos para a convivência?
Uma primeira resposta é a seguinte: todas as que ajudem a serem
harmônicas e satisfatórias as relações entre
os esposos, entre pais e filhos e entre irmãos. Está
mais do que comprovado que, se as relações familiares são
adequadas, os filhos conseguem adaptar-se muito mais facilmente à
convivência social fora de casa.
Uma dessas atitudes é o amor aos filhos. E não basta
o amor teórico ou abstrato; os filhos precisam de expressões
concretas desse amor dos pais todos os dias. Precisam de afeto e carinho
no relacionamento pessoal. Os pais afetuosos e cálidos ajudam os
filhos a ter confiança em si mesmos e a relacionar-se com os outros
de forma aberta e espontânea.
Mas o carinho com os filhos não deve significar falta de exigência.
Precisamente por serem queridos é que devem ser exigidos de maneira
progressiva. Com efeito, as crianças que não se sentem exigidas
pelos pais consideram-se menos queridas, já que recebem menos atenção.
O carinho aos filhos deve levar, isso sim, a uma exigência compreensiva,
isto é, proporcionada ao que se pode pedir a cada filho em cada
momento. É preciso, portanto, que os pais sejam ao mesmo tempo
exigentes e compreensivos, o que, evidentemente, não é fácil.
Na prática, diante dessa dificuldade, os pais costumam polarizar-se
numa dessas atitudes, de forma que a compreensão sem exigência
cria pais permissivos, e a exigência sem compreensão cria
pais autoritários.
Diversas pesquisas confirmam as afirmações que acabamos
de fazer. Assim, por exemplo, Lieberman verificou que as crianças
pequenas que se sentiam queridas pela mãe eram mais bem aceitas
pelos companheiros e participavam mais das atividades comuns no colégio.
Winder e Rau descobriram que os pais das crianças mais "sociáveis"
tinham duas qualidades: eram muito pouco agressivos e proporcionavam-lhes
muito apoio e reforço na sua conduta ("reforço"
no sentido de que valorizavam e premiavam os comportamentos positivos
dos filhos).
Se houver amor, haverá também aceitação
de cada filho. A aceitação começa pelo desejo
de que o filho chegue a existir, casais que têm um filho por falha
dos métodos contraceptivos dificilmente conseguirão criar
esse clima em que todo o filho que vem ao mundo se sente desejado acima
de tudo pelos seus pais. A aceitação implica também
esbanjar - com gosto, não como algo que atrapalha - os cuidados
de que cada filho necessita. Os pais devem estabelecer uma relação
ardentemente afetuosa com cada um dos filhos e fazê-los ver que
todos eles são "importantes" na vida da família.
Comprovou-se que a criança aceita pelos pais "é geralmente
cooperativa, sociável, amigável, leal, emocionalmente estável
e simpática"; e que "encara a vida com confiança".
Há diferentes tipos de aceitação dos filhos por parte
dos pais em função do amadurecimento emocional destes. Pais
emocionalmente maduros aceitam o filho como um ser autônomo e capaz
de participar ativamente da vida familiar, ao passo que pais emocionalmente
imaturos tendem a identificar-se totalmente com o filho, dificultando
seriamente a conduta independente tanto deste como deles mesmos. É
importante que os pais concedam a cada filho uma liberdade razoável,
proporcionada à sua idade. Quando se estimula a conduta autônoma
dos filhos, estes acabam por tornar-se "mais habilidosos, cooperativos,
independentes e adaptados às situações sociais".
Frisarei, por fim, que é importante fomentar desde a infância
a vinda de outra crianças ao lar, sejam irmãos naturais
ou adotivos. Verificou-se que isso contribui para que os filhos amadureçam
antes e sejam mais abertos aos outros.
Gerardo Castilho é professor de Pedagogia e Psicopedagogia
da Universidade de Navarra e pesquisador do Instituto de Ciências
da Família da mesma Universidade, além de professor visitante
de diversas Universidades espanholas.
Extraído do livro "Educar
para a amizade", Editora Quadrante
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Das experiências que tiveram tido em casa depende, em boa parte,
que os filhos cheguem a ser pessoas sociáveis e capacitadas para
a autêntica vida de amizade. Quais as atitudes paternas que favorecem
a capacidade dos filhos para a convivência?
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