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Mulher separada e a indissolubilidade do vínculo matrimonial

São Josemaría Escrivá *

Há casais em que a mulher - por qualquer razão - se encontra separada do marido, em situações degradantes e insustentáveis. Nesses casos, torna-se difícil para ela aceitar a indissolubilidade do vínculo matrimonial. Estas mulheres separadas do marido lamentam que lhes seja negada a possibilidade de construir um novo lar.

Compreendendo seu sofrimento, diria eu a essas mulheres que também podem ver nessa situação a Vontade de Deus, que nunca é cruel, porque Deus é Pai amoroso. É possível que por algum tempo a situação seja especialmente difícil; mas, se recorrerem ao Senhor e à sua Mãe bendita, não lhes faltará a ajuda da graça.

A indissolubilidade do matrimônio não é um capricho da Igreja e nem sequer uma mera lei positiva eclesiástica; é de lei natural, de direito divino, e corresponde perfeitamente à nossa natureza e à ordem sobrenatural da graça. Por isso, na imensa maioria dos casos, é condição indispensável de felicidade para os cônjuges, e de segurança, mesmo espiritual, para os filhos. E - inclusive nesses casos dolorosos de que falamos - a aceitação rendida da vontade de Deus traz sempre consigo uma profunda satisfação, que nada pode substituir. Não é um recurso, não é uma simples consolação; é a essência da vida cristã.

Se essas mulheres já têm filhos a seu cargo, devem ver nisso uma exigência contínua de entrega amorosa, maternal, aí especialmente necessária para suprir nessas almas as deficiências de um lar dividido. E devem entender generosamente que essa indissolubilidade, que para elas implica sacrifício, é para a maior parte das famílias uma defesa de sua integridade, algo que enobrece o amor dos esposos e impede o desamparo dos filhos.

Este assombro em face da aparente dureza do preceito cristão da indissolubilidade não é novo. Os Apóstolos estranharam quando Jesus o confirmou. Pode parecer uma carga, um jugo; mas o próprio Cristo disse que o seu jugo é suave e a sua carga leve.

Por outro lado, reconhecendo muito embora a inevitável dureza de bastantes situações - situações que, em não poucos casos, poderiam e deveriam ter sido evitadas - é, necessário não dramatizar demasiado. A vida de uma mulher nessas condições será realmente mais dura do que a de outra mulher maltratada, ou do que a vida de quem padece algum dos outros grandes sofrimentos físicos ou morais que a existência traz consigo?

O que verdadeiramente torna uma pessoa infeliz - e até uma sociedade inteira - é essa busca ansiosa de bem-estar. A vida apresenta mil facetas, situações diversíssimas, umas árduas, outras fáceis, talvez apenas na aparência. Cada uma delas tem a sua própria graça, é um chamado original de Deus, uma ocasião inédita para trabalhar, para dar o testemunho divino da caridade. A quem sentir a angústia de uma situação difícil, eu aconselharia que procurasse também esquecer-se um pouco de seus próprios problemas, para se preocupar com os problemas dos outros. Fazendo isto, terá mais paz e, sobretudo, se santificará.


Retirado do livro "Questões atuais do Cristianismo", 2a. Edição, Editora Quadrante, S.Paulo.
Escritos do fundador do Opus Dei:
www.escrivaworks.org.br

 





São Josemaría Escrivá

* São Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), fundador do Opus Dei, foi canonizado, em Roma, no dia 6 de outubro de 2002. É autor, dentre outros, dos livros Caminho, Via Sacra, Sulco, Forja, É Cristo que passa e Amigos de Deus. Abriu novos caminhos de santidade na Igreja Católica, recordando que todos os homens e mulheres podem alcançar a santidade realizando o seu trabalho e as suas atividades quotidianas com espírito cristão.

 


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