Portal da Família
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Tanto de amor se disse Paulo Geraldo |
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Os responsáveis da instituição, enquanto tratavam da papelada, foram avisando que se tratava de um processo moroso e nada simples. Mas, quando foi feita a pergunta sobre que preferências tinha o casal quanto à criança a adotar, o processo descomplicou-se bastante. É claro que não se poderiam evitar umas quantas formalidades em forma de papel... mas a preferência que o casal manifestara era tão estranha, tão insólita... Talvez não fosse assim tão difícil. Tinham dito: "Queremos ficar com uma criança
que ninguém deseje; aquela que tenha menos hipóteses de
ser adotada. Não nos importa que seja deficiente. E, se puderem
ser duas, melhor"... E, no entanto, tão natural, tão bonito.
Tão verdadeiramente de acordo com a nossa natureza. Li há muito tempo, num qualquer livro de poesia,
dois versos que de vez em quando me vêm à cabeça,
a propósito de muitas coisas a que vou assistindo. Não sei
exatamente quem os escreveu, nem com que intenção foi escrito
o poema de que faziam parte, o qual, de resto, esqueci totalmente. Mas
os versos falam, mesmo sem a sua moldura original: Tanto do amor se tem dito, que é quase um ato
pornográfico falar, ou escrever, sobre amor. Mas temos assistido a uma mudança subterrânea:
continuaram a dar a mesma importância ao amor, mas mudaram sutilmente
o conteúdo da palavra. Chamaram amor a outras coisas, à
superfície do amor, à escória do amor. Construíram uma mentira gigantesca. Têm chamado amor a coisas nas quais não conseguimos descobrir senão egoísmo, equilíbrio de egoísmos, negócio. Quem diz que amou só porque sentiu prazer não
entende nada de amor. Porque quer colher, enquanto o amor é uma
força que leva a semear. Se nada interessa senão o amor, e se o amor é isto, temos aqui uma explicação para tantas coisas tristes que temos observado em nós e à nossa volta...
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