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O problema do programa de distribuição de preservativos |
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Os Ministérios da Saúde e da Educação iniciaram um programa de distribuição de preservativos nas escolas públicas do ensino fundamental e médio. Pretendem entregar cerca de 235 milhões de preservativos, por ano, para 2,5 milhões de estudantes de todo o País até 2006. Em face desse programa parece ser o nosso dever, manifestar-nos a respeito. É louvável a intenção do Ministério da Saúde ao tentar conter a propagação da Aids e ao fornecer os remédios convenientes a fim de curá-la. Pena que se esteja utilizando um método inadequado. Continuamente tem-se difundido a idéia de que o uso de preservativos é um meio confiável para evitar a contaminação do HIV. É o que se está chamando falsamente de sexo seguro (no jargão americano safe sex). Como a campanha de propaganda tem agora como alvo principal um nível escolar que na sua maioria está formado por adolescentes, isto nos parece extremamente grave. A Eficácia Profilática do Preservativo A verdade cientificamente verificada é que o uso da camisinha não é absolutamente seguro. Têm-se feito inúmeras pesquisas a esse respeito nos meios científicos, como estudos de microscopia eletrônica e testes de passagem de micro partículas. Estes estudos feitos por cientistas europeus (por exemplo De Vicenzi 1) e norte-americanos (por exemplo Davis e Weller 2), entre outros, chegam a uma clara conclusão: o uso de preservativos não é confiável. As percentagens de ineficácia variam muito de acordo com o tipo de parceiro pessoas casadas, homossexuais, relações promíscuas, etc. e o modo de comportar-se na própria relação. Em alguns casos a ineficácia chega a mais de 30%. A média poderia considerar-se, contudo, de uns 10% de falhas 3. Pesquisa realizada com Richard Smith, um especialista norte-americano na transmissão da Aids, apresenta seis grandes falhas do preservativo entre as quais menciona, por exemplo, a deterioração do látex ocasionada pelas condições de transporte e armazenagem. Tomadas, porém, todas as precauções e conseguindo-se que os preservativos cheguem em perfeitas condições aos usuários, seriam ainda seguros para prevenir a Aids? pergunta o autor. Sua resposta é esta: absolutamente não. O tamanho do vírus HIV da Aids é 450 vezes menor que o espermatozóide. Estes pequenos vírus podem passar entre os poros do látex tão facilmente em um bom preservativo como em um defeituoso 4. Roleta Russa Levando-se em conta o resultado destas investigações, poderíamos dizer que servir-se de um preservativo para proteger-se contra o vírus HIV, significa, tanto como, apostar nos resultados de uma roleta russa. Com mais de uma bala no tambor, no caso em que a prática sexual se tornar mais freqüente e promíscua ao sentirem-se os usuários, persuadidos pela propaganda, com absoluta segurança no uso da camisinha. Deste modo tanto mais aumentará a probabilidade de contágio, quanto mais aumentar a promiscuidade e o falso convencimento de proteção que oferece o método. Por esta razão o risco de infecção, ainda que se reduza a percentagem de perigo a uns 10%, em realidade pode ser maior é evidentemente excessivo. Que educador, que pai, que amigo consentiria que um filho ou uma pessoa amada embarcasse num avião que tem 10% de probabilidade de espatifar-se no chão? Método Inibidor ou Propagador? A propaganda para difundir o uso do preservativo é, por isso mesmo, absolutamente inadequada por que, por um lado, favorece a proliferação da promiscuidade e, por outro, não evita devidamente a contaminação. Desta forma, em vez de se tornar um método inibidor da doença, torna-se, de fato, um método propagador da mesma. Pedagogicamente corre o perigo de que a campanha venha a ser entendida assim: Tenha relações sexuais, desde que tome as devidas precauções. Não seria esta uma forma de incentivar a prática do sexo prematuro? Se as adolescentes e os adolescentes viessem a ser induzidos a pensar que é normal o exercício precoce do sexo, prestar-se-ia um péssimo serviço a uma educação sadia e enriquecedora. Falta de Transparência Estas considerações nos levam a pensar que não é transparente uma propaganda de difusão indiscriminada do uso do preservativo, sem chamar a atenção sobre os seus perigos. Se todo laboratório tem a obrigação legal de indicar na bula dos remédios os efeitos colaterais do mesmo, e os fabricantes de cigarros alertar em cada maço as doenças que provoca, o Ministério da Saúde tem também a obrigação de prevenir a população a respeito do alto risco no uso dos preservativos. Coisa que ele sistematicamente não faz: fala-se sempre de sexo seguro. A Educação Afetiva e Sexual, Direito dos Pais Por outro lado, sendo a educação afetiva e sexual uma tarefa que compete primordialmente aos pais, a propaganda maciça, iniludível e impositiva sobre o uso de preservativos entre menores, significa uma interferência abusiva num direito inalienável do pátrio poder. Poderia questionar-se que os pais viriam a ser consultados. Mas, pergunta-se: consultados de que maneira? Apresentando este programa como a solução mais viável, de forma unilateral? Sem dúvida, a organização que promovesse a iniciativa, não poderia ser a mesma que fizesse a consulta: deve ser independente. Poder-se-ia também questionar que os pais não estão preparados para oferecer uma educação afetiva e sexual aos filhos. Isto, porém, não deve levá-los a culpável omissão de relegar obrigação tão grave a uma orientação impessoal e massiva que, pelo que se observa, também não está preparada para transmiti-la. São os pais que devem, com responsabilidade própria e intransferível, ir gradativamente adquirindo esses conhecimentos para passá-los, na sua devida hora, aos seus filhos. Essa tarefa faz toda mãe responsável a respeito da alimentação, dos cuidados de puericultura, de higiene e dessa função tão importante com é a de discernir o certo do errado, sem necessidade de fazer estudos especializados. É uma questão de interesse e de prioridades. Não se podem alienar direitos que são deveres. O Estado não pode instigar a um tipo de educação sexual sem abrir opções aos pais para que possam escolher, com liberdade, entre uma solução ou outra. Será que as autoridades públicas dão à Igreja ou às outras instituições não governamentais formadas por cidadãos brasileiros de forma proporcional, os recursos educacionais semelhantes aos que o governo unilateralmente gasta em um programa milionário como a campanha dos preservativos? Nesse terreno o caráter subsidiário do Estado na educação dos filhos deveria oferecer a estas instituições esses recursos, a fim de que os pais venham a dispor de novas perspectivas e opções. A Lei Natural e o Magistério da Igreja A lei natural determina que existe um vínculo inseparável entre a relação sexual e a transmissão da vida. Romper artificialmente essa união como acontece no uso do preservativo representa uma grave infração dessa mesma lei natural. A Igreja reafirmou este princípio em repetidos documentos. Apresentamos aqui, apenas, um texto da Humanae Vitae: A doutrina da Igreja está fundamentada sobre a conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o significado procriador. Na verdade, pela sua estrutura íntima, o ato conjugal, ao mesmo tempo em que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher. Salvaguardando estes dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato conjugal conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade. Nós pensamos que os homens do nosso tempo estão particularmente em condições de aprender o caráter profundamente razoável e humano deste princípio fundamental.5 A mesma Encíclica esclarece: É de excluir, como o Magistério da Igreja repetidamente declarou, a esterilização direta, tanto perpétua como temporária, e tanto do homem como da mulher; é, ainda, de excluir toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação 6. Não se pode mudar a ordem natural em função de uma solução imediatista e inadequada que, além de não solucionar o problema da proliferação da AIDS, propicia e incentiva a uma prática desregrada do sexo. A Posição da CNBB Levando-se em conta estes pressupostos, e em face da campanha antes aludida, a Conferência dos Bispos do Brasil viu-se na obrigação de apresentar aos meios de comunicação social uma nota esclarecedora que, entre outros, faz o seguinte esclarecimento: A CNBB sente a urgência de um verdadeiro plano de educação afetiva e sexual. A vida sexual não pode ser banalizada. A vivência da sexualidade é uma das expressões do amor. Requer afetividade, doação, responsabilidade e fidelidade. A relação sexual encontra no matrimônio sua verdadeira e plena expressão. A educação afetiva e sexual é tarefa que compete primordialmente aos pais. O ambiente familiar é o lugar natural para transmitir valores, para promover a dignidade da mulher e do homem e do verdadeiro significado dessa relação afetiva e sexual. Em vista disso, a CNBB se empenha em apoiar e desenvolver campanhas educativas, formativas e informativas que visam ampliar os conhecimentos de toda a população, especialmente dos adolescentes e jovens, para que tenham um estilo de vida saudável, comportamentos pautados nos valores humano-cristãos, e não, simplesmente, na mera distribuição de preservativos. A Igreja no Brasil já assumiu o serviço de prevenção de HIV e da assistência a soro-positivos e, sem preconceitos, acolhe, acompanha e defende o direito à assistência médica e gratuita daquelas e daqueles que foram infectados pelo vírus da AIDS. Faz, também, um trabalho de prevenção, pela conscientização dos valores evangélicos, sendo presença misericordiosa e promovendo a vida como bem maior (Cf. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, nº 123 Doc 71, 2003). É preciso trabalhar as questões de prevenção da AIDS de forma ampla. Urge enfatizar a dignidade e os valores da vida, da saúde e da sexualidade. A CNBB reconhece a complexidade humana e busca contribuir para que o homem e a mulher cresçam na conquista dos verdadeiros valores que os tornem felizes conforme os planos de Deus. A Luta em Defesa dos Direitos da Família Estes esclarecimentos devem ser levados em consideração para que os pais, individualmente ou associados com outros, tenham o direito e o dever de promover o bem estar de seus filhos e exigir que as autoridades previnam e reprimam a exploração da sensibilidade das crianças e dos adolescentes 7. Esse direito natural dos pais tem que ser defendido de maneira vigorosa. A ingerência do Estado em matéria tão delicada, é absolutamente inadmissível. Nesse sentido, os pais têm que se unir para formar, em cada país, uma força coesa que contrabalance a injusta pretensão dos órgãos públicos de suplantar esse direito inalienável. É preciso influir para que as campanhas que porventura se tenham feito, com relativo sucesso, para evitar, por exemplo, a implantação de qualquer tipo de aborto em nosso País, tenham também um paralelo no campo da educação sexual. Afinal, como indicam as estatísticas, quando é mal orientada, a própria educação afetiva e sexual propicia o aumento galopante do índice de abortos. Um Diálogo Enriquecedor Não é nossa intenção fomentar um conflito entre as autoridades governamentais e a instituição familiar. Pelo contrário, tentamos harmonizar o desejo inegável, de reconhecido valor, do Estado de evitar a propagação da AIDS, com os direitos das famílias de serem devidamente informadas e de fazerem valer as suas prerrogativas no que diz respeito à educação afetiva e sexual dos seus filhos. Tomara que estas considerações contribuam de alguma forma para que se estabeleça um diálogo respeitoso, construtivo e enriquecedor, entre o Estado e as famílias. Dom Rafael Llano Cifuentes -------------------------------------------------------------------------------- DE VICENZI, For the European Study Group on Heterosexual
Transmission of HIV, a Longitudinal study of Fonte: "Conjuntura Social e Documentação Eclesial" - Encarte do Boletim Semanal da CNBB Nº 698, de 18/09/2003 - www.cnbb.org.br |
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