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CLONAGEM TERAPÊUTICA: IMPLICAÇÕES ÉTICAS E ECONÔMICAS Profa. Dra. Alice Teixeira Ferreira Prof. Dr. Dalton Luiz de Paula Ramos |
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Concordamos que o embrião, mesmo com algumas horas de existência, já é um ser humano. A partir desse fundamento, as pesquisas que envolvam o sacrifício de embriões humanos, eufemisticamente denominadas de clonagem "terapêutica", são inaceitáveis pois desvirtuam o próprio sentido da investigação científica. Aceitamos que existe limites éticos para a
pesquisa científica e admitimos que é legítimo se
buscar as soluções para os males que comprometem a humanidade
- paraplegia, diabetes, Parkinson, etc - e os cientistas devem se empenhar
nessa busca, mas não admitimos, como Jeramy Bentham, que TUDO se
justifica para se atingir a maior felicidade do maior número de
pessoas. Justaponho à esta idéia de sacrifício de
alguns para a felicidade de todos a outra posição do materialista
Sartre: é impossível se fazer o BEM à todos, como
ele procura demonstrar em sua peça "O Diabo e o Bom Deus". Reafirmamos que para reparar tecidos lesados é
possível utilizar outras fontes de células-tronco que não
as embrionárias humanas e estamos demonstrando com fatos resultante
de nossos resultados experimentais. O Código de Nuremberg (1947) estabeleceu internacionalmente o princípio ético que não se deve realizar experimentos que envolvam seres humanos cuja avaliação de riscos e benefícios não estejam suficientemente comprovadas e mensuradas em pesquisas pré-clínicas. Este código baseia-se na afirmação kantiana sobre a DIGNIDADE HUMANA: o ser humano não deve ser utilizado como um meio para atingir outro objetivo que não a sua própria humanidade. Esta afirmativa exclui categoricamente qualquer instrumentalização de seres humanos para outros objetivos que não a sua própria existência. Como este principio de Immanuel Kant norteando a DIGNIDADE HUMANA proibe a procriação de um embrião humano com o propósito de pesquisa científica ou médica, no Sexto Congresso Internacional de Bioética, realizado em Brasilia de 30/10 à 3/11 de 2002 houve muitos discursos ideológicos explorando os justos sentimentos da população que anseia pela solução de seus problemas de saúde. Os debates foram desde uma re-interpretação da filosofia kantiana até a categorização do ser humano, que obviamente privilegia a categoria adulto produtivo tornando descartáveis os embriões, os doentes, os velhos. Com isto tivemos francas ( para não dizer descaradas)
defesas da eutanásia, da eugenia (seleção de embriões
e clonagem humana) e obviamente da clonagem terapeutica pelos "filósofos
do milênio": Peter Singer, Julian Savulescu, John Harris, Fermin
Roland Schramm. Em suas argumentações não aceitavam
a oposição de fatos, pois eram tão frágeis
que esvaneciam-se frente a realidade de dados expeimentais. Não
valia para eles o ditado : "frente à dados não se opõe
argumentos". Com isto procuraram criar um clima cultural que favorecesse a condenação de todos aqueles que levantavam prudentes objeções àquelas pesquisas que, supostamente, necessitam desses embriões para alcançar aquelas descobertas científicas tão almejadas por todos. Estes últimos passaram a ser rotulados de "moralistas retrógrados", "fundamentalistas" ou "dogmáticos". Assim, os verdadeiros realistas - aqueles que apenas desejam que todos os fatores da realidade sejam considerados em prol do benefício de todos - são apresentados como os vilões da história, pois estavam engessando a Ciência Mas a quem, então, interessa a liberação
do uso de embriões humanos nessas pesquisas ? Hoje, no Brasil, podem existir entre 10 a 20 mil embriões
humanos congelados, excedentes dos processos de reprodução
assistida. Essa superpopulação de embriões gera despesas
e constitui-se em um problema sem solução, a não
ser que se "legitimize" - moral e legalmente - seu uso. Pior ainda, "legitima-se" também
o aborto, fonte de embriões e células fetais. Essa legitimização, além dos
conseqüentes benefícios financeiros para aqueles que custosamente
precisam manter congelados embriões excedentes e que passariam
a ter onde escoar seus estoques, também representaria um incentivo
indireto para a prática da reprodução assistida,
uma vez que deixariam de existir objeções à utilização
dessas técnicas devido ao incômodo moral ou sentimental da
produção dos embriões excedentes, o que aqueceria
o mercado de oferecimento dessas técnicas. E, ainda pior, não podemos deixar de considerar
a catastrófica possibilidade de se estabelecer - com ou sem o apoio
da lei - um mercado de embriões humanos. O aborto passa também
a interessar a um mercado sedento de embriões e fetos humanos. O desenvolvimento de novas terapêuticas é
desejado. O século passado está repleto de relatos de pesquisas
que envolveram pessoas hiposuficientes ou com autonomia comprometida -
prisioneiros, etnias desprovidas de direitos civis, populações
miseráveis de países subdesenvolvidos, etc - que se tornaram
público alvo de pesquisadores (e seus patrocinadores) sem escrúpulos
que escolhiam tais grupos populacionais para constituir os grupos amostrais
de suas pesquisas, justamente porque essas pessoas, nas precárias
condições que se encontravam, não poderiam cobrar
dos pesquisadores as responsabilidades éticas e legais que esses
tem para com aqueles que colaboram com suas pesquisas, principalmente
se os resultados não forem bons. Mais ainda, para os patrocinadores da pesquisa (industrias
e/ou governos), que depois vão deter as patentes e os direitos
comerciais dos bons resultados da pesquisa, interessa a utilização
desses sujeitos que dificilmente saberão ou poderão exigir
os seus direitos de participação nestas patentes. Nessa
lógica utilitarista, nada mais cômodo que a utilização
de embriões humanos, desprovidos de "identidade civil"
e voz própria para fazer valer seus direitos. O respeito pelo ser humano nos coloca em oposição
aos esforços em reduzir a vidas humanas ao status de meras ferramentas
de investigação, patentes e produtos industriais. No documento Reflexões sobre a Clonagem,
da Pontifícia Academia para a Vida (L'Osservatore Romano, N.27,
05.07.97) afirma-se, muito propriamente, que "o progresso da investigação
científica não se identifica com o despotismo científico
emergente, que hoje parece tomar o lugar das antigas ideologias".
O mesmo documento afirma que "a solicitação mais urgente,
neste momento, é a de recompor a harmonia das exigências
da investigação científica com os valores humanos
inalienáveis." Extremamente pertinente a declaração de Mary Jane Owen, pessoa cega e paraplégica, diretora executiva do National Catholic Office for Person with Disabilities no Congresso Americano, em 26/4/2000: "Eu penso que perdemos nosso senso de moralidade e de maravilha sobre a vida humana. Nos tornamos tão utilitaristas que aparentemente parece ser apropriado fazermos pesquisas que sacrificamos uma vida futura para o benefício de alguém. Isto é o que se está propondo na produção de embriões humanos para propósitos utilitários, pondo de lado as regras éticas". E finaliza: "Eu aqui imploro: Não faça isto em nome do benefício das pessoas deficientes, não justifique a destruição de embriões humanos na pesquisa de clonagem terapêutica dizendo que vai salvar vidas, pois tal prática além de imoral é desnecessária".
Profa. Dra. Alice Teixeira Ferreira Prof. Dr. Dalton Luiz de Paula Ramos |
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