Portal da Família
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Moda:
Uma Linguagem Pessoal Ana Sánchez de la Nieta |
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A moda transmite aos outros quem e como somos. Adaptando o refrão clássico poderíamos exclamar: "diz-me como vestes e dir-te-ei como és". E, embora um ditado também diga que as aparências iludem, a maioria das vezes as aparências traduzem a verdade. Especialmente no tema do vestuário. Observa-se muitas vezes, quando uma pessoa quer mudar de vida, a primeira coisa que costuma fazer é renovar o seu vestuário. Há tempos uma conhecida revista propunha como tema da capa a mudança de look de uma famosa aristocrata. A alguns pareceu despropositado dar tanta importância a uma notícia destas, mas a realidade é que uma mudança radical de look pode implicar muitas mais coisas: um descontentamento com o seu passado, uma forma de romper com este, uma aposta em transformar a vida futura... A roupa que uso define-me diante dos outros, situa-me perante o mundo e diz coisas acerca da minha posição dentro deste; se visto com autenticidade, a roupa pode falar da minha idade, da minha profissão, da minha condição social. Não veste da mesma maneira, ou pelo menos não devia, uma rapariga de vinte anos e uma anciã de oitenta; os jeans permitidos numa redação de jornal são proibidos ao recepcionista do Ritz; não se apresenta um estudante da mesma forma que um diretor de empresa. O vestuário fala de mim, e não só de aspectos externos da minha vida. A moda também fala de escalas de valores e das ideias que tenho sobre o homem. "O ser humano no ato de se vestir e através da sua indumentária autodefine-se, expondo diante da sociedade maior quantidade de informação sobre si mesmo que um escultor poderia transmitir com a sua obra" [8]. Cada indivíduo veste-se conforme os seus ideais, as suas aspirações, o que pretende ser. Evidentemente, a mulher que quer ser "fatal" não vestirá da mesma forma que aquela que quer ser apreciada no seu trabalho pela sua competência profissional e não está disposta a utilizar as "armas da mulher".
Como o vestuário fala de nós, é necessário que diga o que verdadeiramente queremos comunicar. E importante vestir com coerência, segundo a nossa própria forma de vida; não se deixando levar por tendências com que não se concorda. Sem entrar em polêmicas, há peças do vestuário que levam inscrito, quer se queira ou não, um determinado significado. A mini-saia no trabalho, por exemplo, está associada a essas "armas de mulher" a que se aludiu anteriormente. Se sou uma pessoa que defendo a igualdade de oportunidades para o homem e a mulher no campo laboral não faz sentido que, por definição, vá trabalhar com mini-saia. Se tenho idéias contrárias ao enfoque sexual da mulher, o lógico é que rejeite também as famosas transparências que precisamente fazem salientar as características sexuais da mulher. Se estou contra o consumismo atroz, causa de muitos dos desequilíbrios da sociedade, o mais coerente é que não renove o armário de cada vez que muda a moda. Neste sentido, a pessoa não pode ser ingênua; não basta ser, também é preciso parecer; mais ainda, numa sociedade como a atual em que a imagem é muito importante e se converteu em escaparate da alma. Antes de escolher uma peça tenho de pensar se satisfaz as funções da moda; isto é, se cobre a minha intimidade, se respeita a minha dignidade como pessoa, se me protege do frio e do calor, se permite que os outros me vejam de uma forma agradável, se pelo seu preço posso usá-la sem incorrer numa injustiça com aqueles que não têm nada... Assim, vestirei com autenticidade, com coerência, e o meu vestuário falará com veracidade daquilo que sou e penso. Por isso não tem sentido seguir à risca as sugestões da moda. "A moda não é uma imposição - declara Melinda de Ruspoli, relações públicas de Chanel em Espanha -. A moda propõe e a mulher dispõe" [9] . E a mulher que tem de decidir o que quer e não quer usar e negar-se a passar pelo crivo da moda quando esta quer reduzi-Ia a um simples objeto de decoração.
[8]
Fernández, Diana, La moda en el vestir:
consideraciones sobre su valor comunicativo. Situação 2,
Departamento de estudos BBV, Bilbau 1996, p. 221.
Ana
Sánchez de la Nieta Hernández. Jornalista,
colabora em diversos meios de comunicação sobre temas de
juventude, universidade, moda e cinema. |
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