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Os pais e o risco das "gangues" juvenis

Gerardo Castillo


O que é uma "gangue"?

A expressão "gangue" usa-se normalmente para designar um grupo de adolescentes ou jovens que se comportam de modo anormal, podendo chegar à violência e ao crime. Assim como as "amizades particulares" são mais freqüentes e intensas nas moças, as gangues adolescentes ou juvenis são um fenômeno masculino. Há gangues de moças, mas não passam de cerca de três a cinco por cento do total.

A UNESCO dispõe de uma estatística que analisa a composição das gangues por idades: 7% estão integradas por garotos menores de doze anos; 15% por adolescentes de doze a catorze anos; 38% têm membros de catorze a dezesseis anos; e 40% estão compostas por jovens de dezoito anos ou mais [1].

Embora o fenômeno afete de modo predominante os jovens (daí a sua denominação de gangues juvenis), chama no entanto a atenção que existam gangues delinqüentes já na pré-adolescência. Essa precocidade na conduta criminosa ou anti-social intencional e organizada vem crescendo na sociedade atual, a ponto de surgirem cada vez mais casos na terceira infância ou idade escolar, o que parece estar relacionado com as deficiências que se verificam em alguns ambientes familiares e sociais, como veremos.

Esse tipo de gangues é mais freqüente entre as classes sociais de baixa renda e nas zonas periféricas dos grandes centros urbanos, embora o problema não seja exclusivo desses setores. Cada vez há mais rapazes das classes média e alta entre os seus integrantes.

A gangue juvenil delinqüente corresponde a um desvio de direção da turma adolescente normal. Vimos acima que os adolescentes têm necessidade de formar grupos e que estes grupos são não apenas inofensivos, mas têm uma autêntica e necessária função educativa. Essa turma adolescente desvia-se de seu rumo normal quando os seus integrantes sofrem de certos problemas de personalidade, fomentados muitas vezes por erros na vida familiar e por estímulos negativos do ambiente atual.

Cada vez é menos válida, infelizmente, a afirmação de que as gangues juvenis são um fenômeno excepcional ou raro. Hoje em dia, todas as famílias estão expostas (em maior ou menor grau) a que algum dos filhos chegue a fazer parte de uma dessas gangues. Remplein afirma que "entre a forma de vida de uma turma de jovens normal e a que tem caráter criminoso há apenas um passo" [2].

À primeira vista, causa surpresa verificar que a adaptação à vida grupal é muito mais forte nas turmas anti-sociais do que nas turmas normais de adolescentes. Ao passo que o adolescente normal mantém certa distância na sua identificação com o grupo, o adolescente que pertence a uma gangue adapta-se inteiramente a uma vida que exige obediência cega. Não é paradoxal que jovens socialmente inadaptados se adaptem perfeitamente às rígidas normas dos bandos juvenis?

A explicação é bem simples. Acontece que, para o adolescente "normal", a vida dentro do grupo de amigos é somente uma fase transitória da sua evolução, que visa a autonomia pessoal, ao passo que a gangue representa o ponto de chegada para o adolescente que sofre de alguma frustração grave [3].

Inicialmente, a gangue juvenil é um agrupamento espontâneo. Mas em breve estrutura-se de forma completa. Surge um líder que manda e produz-se uma divisão de trabalho de acordo com as capacidades de cada membro: o "cérebro", que proporciona idéias ao líder; o "palhaço", que diverte todo o grupo, etc.; e aparecem também os elementos ou sinais que conferem à gangue uma personalidade própria, como o "quartel general", a "gíria secreta", etc. A gangue juvenil apresenta-se como um grupo muito fechado, com extrema continuidade, organização e disciplina. A solidariedade entre os seus membros é muito maior do que nos agrupamentos "normais", porque isso é fundamental para conseguir "êxito", uma vez que "a força da turma patológica reside na sua extrema unidade: o bando funciona como um só homem" [4].

Outra diferença com relação às turmas normais consiste nos motivos e circunstâncias que favorecem a coesão do grupo. Os membros da turma unem-se e ajudam-se mutuamente para realizar pacificamente atividades normais, como acampamentos, excursões, etc., e para compartilhar problemas normais, próprios da idade. Os componentes de uma gangue, pelo contrário, agrupam-se porque têm problemas especiais; o grupo passa a ser um refúgio para as frustrações pessoais e nasce com uma finalidade criminosa.

Pode-se dizer, via de regra, que a gangue juvenil é formada por rapazes que se encontram em conflito com os outros, sejam eles pais, companheiros de es tudo, adultos em geral; mas, por sua vez, o bando inteiro está em conflito permanente com outros grupos ou gangues.

O líder ou cabecilha da gangue é uma peça-chave. É graças a ele que se mantém a unidade do grupo e a sua capacidade operativa. O líder "sugere aos membros a realização de atos que, no fundo, desejavam executar, mas a que não se atreviam por medo à sociedade ou às normas morais. Graças ao papel do cabeça, os seus companheiros chegam a satisfazer os seus desejos, enganando a voz da sua consciência e a oposição dos adultos" [5].

O líder precisa identificar-se com as insatisfações dos seus companheiros, falar-lhes na linguagem que dele esperam, dar vazão à agressividade que acumularam e tranqüilizá-los nos momentos difíceis. Exerce uma autoridade despótica à qual todos se submetem, e assim pode impor-se sem discussão e evitar possíveis rebeldias e dissidências que poriam em perigo a existência do grupo e a consecução dos seus objetivos. A sua autoridade emana tanto do fato de ser um líder natural, como da situação de perigo em que o grupo vive quase continuamente.

O líder da gangue juvenil possui qualidades especiais para a ação, superiores às dos restantes membros do grupo. Precisa ser decidido, rápido e enérgico. O seu traço principal é a ousadia: "Vai aonde os outros temem ir. É audaz diante do perigo. Caminha sempre à frente, e os outros sentem-se seguros na sua companhia, com a sua presença" [6].


[1] Cfr. J. M. Quintana Cabanas, Pedagogia social, n. 3, UNED, pág. 50.
[2] M. Remplein, Tratado de psicologia evolutiva, pág. 457.
[3] Cfr. B. Reymond-Rivier, EI desarrollo social del nino y del adolescente, pág. 249.
[4] Ibid., pág. 256.
[5] J. M. Quintana Cabanas, Pedagogia social, pág. 159.
[6] Ibid, pág. 159.



Fonte: livro "Educar para a amizade", Gerardo Castillo, Quadrante, São Paulo, 1999. Os Pais diante dos "desafios" da amizade - pp. 205-210

 

 

 

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