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A MATURIDADE AFETIVA Rafael Llano Cifuentes |
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A afetividade não está por assim dizer encerrada no coração, nos sentimentos, mas permeia toda a personalidade. Estamos continuamente sentindo
aquilo que pensamos e fazemos. Por isso, qualquer distúrbio da
vida afetiva acaba por impedir ou pelo menos entravar o amadurecimento
da personalidade como um todo.
É significativo verificar como essa imaturidade parece ser uma característica da atual geração. No nosso mundo altamente técnico e cheio de avanços científicos, pouco se tem progredido no conhecimento das profundezas do coração, e daí resulta aquilo que Alexis Carrel, prêmio Nobel de Medicina, apontava no seu célebre trabalho O homem, esse desconhecido: vivemos hoje o drama de um desnível gritante entre o fabuloso progresso técnico e científico e a imaturidade quase infantil no que diz respeito aos sentimentos humanos. Mesmo em pessoas de alto nível intelectual, ocorre um autêntico analfabetismo afetivo: são indivíduos truncados, incompletos, mal-formados, imaturos; estão preparados para trabalhar de forma eficiente, mas são absolutamente incapazes de amar. Esta desproporção tem conseqüências devastadoras: basta reparar na facilidade com que as pessoas se casam e se "descasam", se "juntam" e se separam. Dão a impressão de reparar apenas na camada epidérmica do amor e de não aprofundar nos valores do coração humano e nas leis do verdadeiro amor. Quais são, então, os valores do verdadeiro amor? Que significado tem essa palavra? O amor, na realidade, tem um significado polivalente, tão dificil de definir que já houve quem dissesse que o amor é aquilo que se sente quando se ama, e, se perguntássemos o que se sente quando se ama, só seria possível responder simplesmente: "Amor". Este círculo vicioso deve-se ao que o insigne médico e pensador Gregório Marañon descrevia com precisão: "O amor é algo muito complexo e variado; chama-se amor a muitas coisas que são muito diferentes, mesmo que a sua raiz seja a mesma". A imaturidade no amor Hoje, considera-se a satisfação sexual autocentrada como a expressão mais importante do amor. Não o entendia assim o pensamento clássico, que considerava o amor da mãe pelos filhos como o paradigma de todos os tipos de amor: o amor que prefere o bem da pessoa amada ao próprio. Este conceito, perpassando os séculos, permitiu que até um pensador como Hegel, que tem pouco de cristão, afirmasse que "a verdadeira essência do amor consiste em esquecer-se no outro". Bem diferente é o conceito de amor que se cultua na nossa época. Parece que se retrocedeu a uma espécie de adolescência da humanidade, onde o que mais conta é o prazer. Este fenômeno tem inúmeras manifestações. Referir-nos-emos apenas a algumas delas:
Há pouco, um amigo, professor de uma Faculdade de Jornalismo, referiu-me um episódio relacionado com um seu primo - extremamente egoísta - que se tinha casado e separado três vezes. No cartão de Natal, após desejar-lhe boas festas, esse professor perguntava-lhe em que situação afetiva se encontrava. Recebeu uma resposta chocante: "Assino eu e a minha gata. Como ela não sabe assinar, o faz estampando a sua pata no cartão: são as suas marcas digitais. Este animalzinho é o único que quer permanecer ao meu lado. É o único que me ama". O imaturo pretende introduzir o outro no seu projeto pessoal de vida,
em vez de tentar contribuir com o outro num projeto construído
em comum. A felicidade do cônjuge, da família e dos filhos:
esse é o projeto comum do verdadeiro amor. As pessoas imaturas
não compreendem que a dedicação aos filhos constitui
um fator importante para a estabilidade afetiva dos pais. Também
não assimilaram a idéia de que, para se realizarem a si
mesmos, têm de se empenhar na realização do cônjuge.
Quem não é solidário termina solitário.
Ou juntando-se a uma "gatinha", seja de que espécie for. Fonte: Livro A Maturidade, de Rafael Llano Cifuentes, Editora Quadrante, São Paulo 2003 |
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