O dia a dia familiar está repleto de pequenos acontecimentos que se repetem. Se não fosse assim, possivelmente não haveria quem o conseguisse gerir. É adequado que haja horário certo para se levantar, para tomar o café, para que passe a condução para pegar as crianças, para se iniciar as aulas, para o almoço, etc..

O dia a dia é como múltiplas engrenagens que se encaixam perfeitamente, cujas arestas foram abastadas, à força da repetição habitual. Se de início há alguma perda de energia para se almodarem perfeitamente, estas pequenas engrenagens, quando ajustadas, dão força e viabilizam o desenvolvimento de outras atividades e habilidades.

É natural que a família zele pelo desenvolvimento de seus membros. Um dos familiares, gratuitamente, por ter mais experiência, por ter prestígio, autoridade natural ou simplesmente por estar vendo melhor de fora, sugere a outro a maneira mais adequada e produtiva de ser e agir. Por este motivo se diz que em família se moldam grandes homens e mulheres.

Por outro lado o ser humano não é uma máquina. A energia inicial para a aquisição de um bom hábito pode vir a ser desgastante, principalmente para quem o promove. E se este tomou para si a responsabilidade de educar, pode chegar ao limite tolerável, de tanto esforço sem sinal sensível de melhora, e venha a se desiludir.

Deriva-se na rotina diária de lamentos e desabafos estressados... você nunca faz aquilo... você é sempre isto... Surdo! Quantas vezes terei que repetir e você nunca me ouve... sempre, nunca, nunca, sempre.

E o tiro sai pela culatra. Pois de tanto ouvir nunca e sempre, e ouvindo de quem considera, subliminarmente conclui que não tem jeito mesmo, que ele é assim, vai ser sempre assim, e não se esforça por melhorar. Nossos desabafos têm efeito desastroso, e passamos a ser des-educadores.

Nestes momentos o melhor é respirar e não falar nada. A estratégia tem que ser justamente a oposta. Se você quer que seu filho seja, primeiro convença-se de que ele é, ou pelo menos de que é capaz. Depois lhe repita incansavelmente que ele é. Ele acabará subliminarmente acreditando que é mesmo, e terminará por se esforçar para ser.

Se você quer que seu filho seja, por exemplo, ordenado, assuma que ele é, mesmo que não esteja ao nível que você gostaria. Depois, toda vez que você encontrar algo fora do lugar, diga-lhe... meu filho, você é tão ordenado, como você foi capaz de deixar isto fora do lugar?

Quando vierem comentar de seu filho... ih!! Mas tem uma cara de bagunceiro!!! Mesmo que o seja, e principalmente se ele estiver ouvindo, imediatamente rebata... de forma alguma!!! Esforça-se para ser ordenado!! E está conseguindo progressos a olhos vistos!!!

Esta é uma atitude positiva frente ao problema. Demandará esforço de nossa parte. Teremos que engolir muitas situações em que estamos prestes a explodir negativamente, para reagirmos positivamente mais tarde. Cairemos muitas vezes, mas levantaremos e tornaremos a insistir. Esta técnica chama-se programação neo-linguística.

Se você acha que nunca será capaz de agir desta forma... então primeiro acredite que você é capaz, e depois siga interminavelmente repetindo para si. Sou um ótimo pai (marido, irmão, etc..!!) Sempre fecho a boca quando não quero, e a abro quando devo, com pleníssimo controle sobre o que falo.

Ver outros artigos da coluna

André Pessoa é pai de seis filhos, Mestrado em Orientação Familiar por Navarra, ministra cursos e palestras de Educação de Filhos desde 1995; Graduado pelo IME (Engenharia), Pós-Graduado pela PUC (Administração), FGV (Contabilidade Gerencial), ISE (Programa de Treinamento de Executivos) e Navarra (Orientação Familiar); Consultor da Accenture.
e-mail: andre.v.pessoa@gmail.com

Publicado no Portal da Família em 23/08/2006