Portal da Família
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Os bons momentos da vida |
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Eduardo Gama |
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Será que, não raras vezes, damos pouco valor às pessoas a nossa volta? Não me refiro a uma estima que, quase sempre a temos. Quase todos diriam gostar, até mesmo amar, amigos, familiares, parentes (bem, nem todos), cônjuge, filhos, etc. Não, não me refiro ao "gostar", até mesmo verdadeiro, do fundo do coração, mas sim a valorizar a companhia, gostar de ouvir o que o outro tem a dizer, gostar de ouvi-lo contar fatos, histórias, conquistas que dizem respeito ao outro e não nos interessam de imediato. No dia-a-dia podemos viver situações que sequer imaginamos a importância de vivê-las bem. Comecei a pensar sobre esse assunto quando escutava um quarteto de Mozart. Explico-me: o genial compositor, talvez o maior gênio de que se tem notícia na história das artes, criou seis quartetos de cordas (para dois violinos, viola e violoncelo) e dedicou-os ao grande mestre da música à época, Joseph Haydn. Dedicou-os ao seu mestre e o convidou para uma audição das obras. Dias depois, o pai de Mozart, Leopold, escrevia com orgulho à filha: "Na tarde de sábado estivemos com o sr. Joseph Haydn. Ele me disse: 'Digo ao senhor, tendo a Deus como testemunha e falando como homem honrado, que o seu filho é o melhor compositor que conheço, tanto pessoalmente como por reputação. Ele tem gosto e, mais, compreende completamente a arte da composição" (Carta à sua filha, 14 de fevereiro de 1785, em Letters of Wolfgang Amadeus Mozart, Dover Publications, s/d). O que essa história tem a ver com o que foi dito antes? Tudo. Quem gosta de música, daria a vida para ver Mozart tocando viola, segundo consta, na presença de Haydn que, tomado pelo entusiasmo frente ao jovem gênio, dirigiu aquelas palavras ao pai de Mozart. À época, foi um encontro privado, a que talvez muitos tivessem a oportunidade de assistir, mas ao qual não deram o devido valor; tinham coisas "mais importantes para fazer" e essas desculpas dadas por nós com freqüência! Mas o leitor pode continuar se perguntando: o que a oportunidade de ver um gênio tocando tem a ver com valorizar a presença dos outros? Muito. Diz-nos que as oportunidades são únicas, que o tempo passa, que as pessoas com as quais temos contato não são para sempre. Não me refiro somente à morte, mas também a todas essas inúmeras oportunidades que temos para aprender, para crescer, às vezes em paciência, outras em bom humor, outras em coragem no convívio com os outros. Em certas ocasiões, trata-se de um bom professor a quem não damos o devido valor, e depois, com o tempo, percebemos que era ótimo; de um familiar que, certo, tem os seus defeitos, mas possuiu algumas qualidades que não possuímos, de um amigo que fala sempre do seu trabalho e com o qual poderíamos ter a chance de aprender algo que jamais saberíamos se não for por meio do convívio com essa pessoa. Não acredito que valorizar o outro, valorizar sua companhia seja possível apenas porque achamos bom, porque acreditamos ser a coisa certa. Esse é o primeiro passo, sem dúvida. Contudo, não existe em nós nenhuma qualidade se não há bons hábitos. E a qualidade, falando mais tecnicamente, significa virtude, neste caso, a paciência. Não a paciência de ter de agüentar somente, mas a paciência ativa, que nos leva a sofrer em vistas de um bem. Um exemplo: é comum, embora haja exceções, as mulheres gostarem de contar um problema mais do que ouvir a resposta. Não, não é um defeito, mas uma característica. Elas, comumente, já sabem a resposta, mas querem contar para ver se agiram certo, se aquela palavra não foi muito forte, etc. Alguns maridos em vez de ter a paciência necessária para ouvir, dão logo a resposta, certa e inequívoca, e não entendem a razão da mulher ficar chateada... O assunto é muito vasto e é preciso parar por aqui. Antes, gostaria de reafirmar a importância da virtude, pois todos nós temos a tendência a pensar que o sentimento resolve, quando ele é um impulso. É como um vento, que por vezes está a favor da nossa vontade, outras contra. Se queremos não perder tempo nesta vida, aproveitar bem as oportunidades que nos são dadas e, principalmente, as pessoas à nossa volta, temos que, como bons navegadores, dirigir os ventos a nosso favor com a vela da virtude. |
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Eduardo Gama, professor de redação e literatura em Jundiaí e Campinas. Mestres em Literatura pela USP, tradutor, jornalista e publicitário. É autor do livro de poemas "Sonata para verso e voz" e editor dos sites www.doutrinacatolica.com.br e www.revisaoetraducao.com.br e-mail: redator@portaldafamilia.org Publicado no Portal da Família em 19/03/2007 |
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