Portal da Família
|
||||||||||||||||||||||||||||
|
Crimes contra a honra e uso de falsa identidade praticados por e-mail |
|
Carolina de Aguiar Teixeira Mendes |
|
Há tempos tem-se tentado mostrar que a Internet não é uma terra sem leis, sendo a maioria das leis vigentes no país perfeitamente aplicáveis nas situações ocorridas em ambiente digital. O ambiente digital é apenas uma extensão da vida real. Em ambos podemos compartilhar, comprar, comunicar, pagar contas, e, inclusive, traficar drogas, instigar ao suicídio, ofender à honra, entre outros. Assim, as pessoas, as boas maneiras exigidas, os crimes e as leis aplicadas são os mesmos em ambas as comunidades. Como bem ensina o Prof. Amaro Moraes e Silva Neto, o que ocorre é apenas a “necessidade de algumas adequações às leis já existentes. A certificação digital e o crime por disseminação de vírus bíticos são um exemplo de que não surgiram novos bens jurídicos a serem tutelados, mas, isso sim, novas formas de se os adequar a novas situações — o que é bastante diferente. Afinal, surrupiar dinheiro da conta-corrente de alguém, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento não é estelionato? Imputar, falsamente, a alguém, fato definido como crime não é calúnia? Imputar fato ofensivo à reputação de alguém não é difamação? Atacar a honra, ou a dignidade de alguém não é injúria? Violar a intimidade, ou a privacidade, de alguém não é ilícito civil?”1 O ato é o mesmo. O que muda é o meio. Neste sentido a Justiça brasileira tem tido bastante trabalho, mas já há algumas decisões que servem de precedentes a ações em trâmite e outras por vir. Na comarca de Anaurilândia, interior do Mato Grosso do Sul, o juiz Fábio Henrique Calazans Ramos decretou a prisão preventiva do ex-marido da juíza Margarida Elizabeth Weiler por calúnia, injúria e difamação praticados em blogs, e-mails e sites de relacionamento.2 Em casos como este é necessário pedir ao Judiciário a quebra do sigilo de dados, a fim de que o provedor de Internet identifique a origem do e-mail ou site. Vejamos uma decisão de Agravo de Instrumento em que o Tribunal decidiu que o provedor Hotmail deveria identificar o usuário ofensor: Dano moral praticado por e-mail No mesmo sentido decidiu a 9a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que condenou à indenização de 30 mil reais um homem que fez uso de endereço eletrônico com o nome da namorada, divulgando profissão, telefone, faculdade e fotos de uma mulher em posições eróticas. Em conseqüência, a moça passou a ser chamada de “garota de programa”, recebendo ainda telefonemas convidativos a sexo. Foi movida ação cautelar contra o provedor para exibição de documentos, descobrindo-se que o endereço pertencia ao acusado e o assinante do provedor era o irmão deste. A vítima pediu indenização em relação aos dois, porém a ação contra o irmão foi julgada extinta por ilegitimidade passiva, isto é, o irmão era apenas o contratante do serviço, e não o remetente das mensagens.4 Além do usar os e-mails, pessoas mal-intencionadas exploram todos os recursos da Internet para o cometimento de crimes sob a falsa impressão de anonimato, “esquecendo-se” que o provedor possui todos os dados e pode ser forçado pela Justiça a fornecê-los em casos específicos. Caso você seja vítima de crimes contra a honra ou uso de falsa identidade, procure um advogado para que juntos possam requerer ao Judiciário a quebra do sigilo de dados, a fim de que o provedor seja determinado a fornecer os dados do usuário malfeitor. Assim, poderão prosseguir em ações ações cíveis e criminais, inclusive com o requerimento de indenização por danos morais, em sendo este o caso. Notas 1Disponível em: http://conjur.estadao.com.br/static/text/50802,1 Acesso em 12 Jun. 2006.
2Disponível em: http://www.valoronline.com.br. Acesso em 05 Mai. 2006.
3Disponível em: http://jus2.uol.com.br/pecas/texto.asp?id=590
4Processo 70015438997. Revista Consultor Jurídico, 21 de agosto de 2006. Disponível em: http://conjur.estadao.com.br/static/text/47537. Acesso em 23 Ago. 2006.
|
|
Carolina de Aguiar Teixeira Mendes é Advogada, consultora e educadora. Direito & Educação – Novas Tecnologias. eMail: carolinaatm@yahoo.com Publicado no Portal da Família em 19/03/2007 |
Divulgue este artigo para outras famílias e amigos.
Inscreva-se no nosso Boletim Eletrônico e seja informado por email sobre as novidades do Portal
www.portaldafamilia.org