Portal da Família
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Paixão, Amor e Impasse |
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Rosely Jorge |
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Começa com um gostar de estar juntos, logo estamos perdidos no tempo, pensando no outro e aí algo vai crescendo dentro da gente... um sentimento tão forte que se apossa de nós e denuncia este estado de paixão. Assunto presente e recorrente em nossa cultura, cantado em verso e prosa, fala de um encantamento particular e quase incomunicável. Aqueles que se apaixonam, querem eternizar este momento vivido como encontro. Outros que não estão neste estado mágico de existência buscam este amor romântico que muitas vezes se traduz por uma idealização de si, do outro e da vida. Nos relacionamentos, projetamos nossos melhores anseios e sonhos em terrenos nem sempre tão férteis. Muitos pensam que a paixão é o amor. O amor pode nascer da paixão, mais vai além dela. O amor se completa sempre que para além do sentimento, tomamos uma decisão. O amor não é algo passivo, existe um elemento ativo que é a capacidade que temos de ir além dos sentimentos e decidirmos por nos comprometermos com o outro. Nos dias atuais vivemos um grande impasse refletido nos relacionamentos: o relativismo e a crença de que assumir vínculos deteriora os sentimentos, aliado a um jeito “fast” e descompromissado de se relacionar. Temos urgência para vivenciarmos a paixão, mas assumir compromisso, nem pensar... Aliás, temos sido levados a crer que decidir por nos compromissar com o outro, além de ser algo que nos remete para um passado recente cheio de fracassos, representa para muitos, o início do fim nos relacionamentos. Diagnosticar o impasse dos relacionamentos hoje é indicar a saída. Não podemos pensar, contudo, que a solução dos relacionamentos humanos, principalmente na relação homem-mulher, está na “inexistência de problemas”. Não existe vida sem conflitos, pois a própria pulsão de vida requer obstáculos para surgir e se expandir. Podemos, entretanto, preferir a estreiteza dos hábitos atuais, que reduz os relacionamentos a busca deste estado de “paixão instantânea”, quase mágica, à abertura para novos horizontes emocionais, onde se comprometer com o outro pode vir a significar nos realizar como pessoas. Comprometimento implica em abrir-se para o outro, tornando-se responsável por ele, sem se substituir a ele. Amar é assumir um compromisso. É decidir compartilhar com o outro o esforço de crescer como gente. É passar a pensar no próprio bem e ao mesmo tempo, no bem do outro e em muitos momentos, não recear assumir o tão evitado “nós”. Sempre que há o sentimento, mas a decisão, o compromisso e a responsabilidade inexistem, somos levados pelo sentir, mas não construímos efetivamente nada em comum. O que une duas pessoas, para além do sentimento, é o querer. O que define, em última análise, a união, não é somente o sentir, mas sim o querer. Acontece que este jeito contemporâneo de ser e de se relacionar, tem encorajado o tal “ficar”, evitando a toda prova, o se compromissar. Este estado de coisas nos tira a angústia natural da responsabilidade de um compromisso, ainda que se trate de um compromisso de amor. Diluímos a nossa decisão e adiamos o nosso querer, mergulhados em distintos níveis de envolvimento e apesar de características distintas em cada relação, há a presença de um tão familiar “ir levando”. O decidir e o querer responsáveis devem ser construídos dentro de cada pessoa, é um crescer de dentro para fora e se a relação comportar este nível de compromisso, se materializará por meio de um vínculo assumido perante outros e não ao contrário. Sacramentar o vínculo em cima de um documento externo e não da vontade decidida é que faz do casamento uma prisão onde a paixão, que um dia existiu, se entrega aos dias desesperançosos de uma vida a dois sem atrativos e traduzida por verdadeiros cativeiros emocionais. Ë no engajamento que se completa o amor. Passamos de um sentir passivo e partimos para a ação: decidimos por nos compromissar e assumimos a responsabilidade pela decisão, sabendo que o amor maduro nos traz desafios diários. Não se trata de um estado assegurado de coisas, com base em promessas eternas extraídas de um “flash” vivido em momento de paixão. O ceder a uma acomodação empobrecedora pelas conquistas alcançadas, rouba o brilho e os atrativos de um cotidiano tecido na realidade dos fatos e na solidez de um companheirismo verdadeiro, onde se preserva tanto o espaço individual quanto o relacional para assim permitir um sonhar e um realizar compartilhado, na jornada da vida. |
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Rosely Jorge é Psicóloga clínica e organizacional e orientadora vocacional, em São Paulo-SP. É autora de diversos artigos sobre o tema do desenvolvimento humano e presta atendimento psicológico a famílias, adultos, idosos e adolescentes. Também atua em consultoria à empresas, com ênfase no desenvolvimento organizacional. Sites: |
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