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Floriano Serra

Coluna "Comportamento & Qualidade de vida no trabalho"

O  DELICADO  LIMITE  DO PODER

Floriano Serra

Todo líder precisa fazer valer sua autoridade e não deve ter medo nem receio de usá-la, quando sua consciência e seu profissionalismo  lhe disserem que deve fazê-lo. Mas, atenção: liderança exercida sem respeito, justiça, afeto e generosidade não merece esse nome.


Em nenhum outro momento da história corporativa, discutiu-se tanto a questão da liderança. A oferta de livros, artigos, filmes, seminários e palestras é imensa – todos bem intencionados e capazes de agradar aos mais variados gostos.

Mas hoje, a tendência é disseminar-se o conceito da Liderança Servidora, aquela humana, afetiva, espiritualizada, que recomenda ao gestor colocar-se no lugar do outro – cujo “carro-chefe” está sendo o excelente livro “O Monge e o Executivo”, do James Hunter.

Não preciso dizer que concordo e assino embaixo do que o “monge” fala. E, considerando-se que o livro está há meses em primeiro lugar no “ranking” dos mais vendidos no Brasil, há muito mais gente levando o assunto a sério. Que bom!

No entanto, tenho ouvido algumas críticas – não ao livro, mas ao conceito. Essas críticas vêm de gestores que acreditam que ser um Líder Servidor é ser “bonzinho”, permissivo, passivo, excessivamente paternalista, quase um pateta. Para esses, liderança tem que ser exercida meio que na base do grito e da porrada e estamos conversados.

Eles estão errados, ou, na melhor das hipóteses, desinformados.

Teorias como a da Liderança Servidora ou, desculpem a imodéstia, a da Terceira Inteligência da autoria deste escrevinhador, pregam  a prática de conceitos simples e milenares como o do respeito ao próximo, da generosidade, do diálogo, da afetividade e da espiritualidade no trabalho – lugar onde se pode e se deve ser feliz.

É simples assim.

O que uma parcela de gestores parece não entender é que estes conceitos não excluem outros tantos, como bom senso, adequação, conveniência e equilíbrio – para o Bem.

Para um correto entendimento deste novo e definitivo modelo de gestão de pessoas, é preciso que se parta da premissa de que a boa e verdadeira liderança no trabalho é necessariamente uma ação do Bem – e é o BEM que deve ser praticado com “bom senso, adequação, conveniência e equilíbrio”, confere?

Sabe-se que todo excesso é condenável e que isso certamente se aplica também ao Bem, porque este, quando praticado com exagero e sem critério, vira pieguismo, permissividade, alienação e irresponsabilidade.

E o que é pior: faz com que o gestor adquira péssimos hábitos  como “passar a mão na cabeça” de incompetentes, fingir que não vê o que está errado, proteger quem não faz por merecer e outras disfunções gerenciais semelhantes.

A autoridade do gestor é um bem que lhe foi outorgado pela empresa e do qual ele não pode nem deve abrir mão. Todo líder precisa fazer valer sua autoridade e não deve ter medo nem receio de usá-la, quando sua consciência e seu profissionalismo  lhe disser que deve fazê-lo.

Mas, atenção: liderança exercida sem respeito, justiça, afeto e generosidade não merece esse nome.

Numa empresa, a autoridade concedida ao Líder,  existe para conduzir equipes aos bons resultados, ao crescimento e ao sucesso – com motivação, alegria e felicidade.

Quando criança, algumas pessoas foram obrigadas, pela força física dos pais, a engolir o remédio amargo. A intenção era boa, mas o método era medieval e inadequado. Felizmente outros pais sabiam dialogar com a criança ou usar um jeitinho especial para adoçar a pílula, investindo apenas um pouco mais de tempo, de paciência e de afeto.

Esse exemplo vale como analogia para a relação do gestor com seus colaboradores. Hoje em dia, o estilo “goela abaixo” não funciona mais, nem no jardim da infância. Em seu lugar, para quem evoluiu ou se atualizou, existem várias e várias alternativas, a escolher: diálogo,  argumentação,   persuasão,  troca de idéias, convencimento, negociação... e tantas outras formas de se dizer à equipe que um duro caminho, uma árdua tarefa ou um esforço extra devem ser aplicados num determinado momento da empresa, sobretudo em épocas de crise.

Todo trabalhador sabe que a presença de um líder é fundamental, porque caberá a ele mostrar o melhor caminho e os melhores meios para conduzir a equipe à vitória. O problema, pois, não está na presença de um líder, mas nas atitudes, ações e decisões que o façam legitimar sua presença.

Esse é o delicado limite do poder que pode transformar o líder em tirano.


big boss, little employee

 

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Floriano Serra é psicólogo, escritor e palestrante, autor de vários livros e artigos sobre o comportamento humano nas empresas. Foi diretor de Recursos Humanos em empresas nacionais e multinacionais, recebendo vários prêmios pela excelência em Gestão de Pessoas. É autor de uma dezena de livros, como "A Empresa Sorriso" e "A Terceira Inteligência", e mais de 200 artigos sobre o comportamento humano - pessoal e profissional, publicados em websites, jornais e revistas, inclusive no Exterior.
E-mail: florianoserra@terra.com.br

Publicado no Portal da Família em 03/04/2007

 

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