Portal da Família
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PARABÉNS… A SI, LEITOR, POR ESTAR VIVO… |
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Teresa Gonçalves |
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Ao chegar à rotunda, frente ao Hospital de Aveiro, deparamo-nos com um enorme cartaz com estas duas frases: «Em 2006, nasceram, no nosso hospital, 1418 bebês. A todos e aos que já nasceram em Dezembro…Felicidades.» Entre as duas frases, todo o espaço central do cartaz é preenchido com os primeiros nomes de todos os bebês que nasceram em cada mês do ano. É importante e significativo este pormenor dos nomes. Aqueles bebês não são uma massa humana indiferenciada. Cada bebê é um novo cidadão, uma nova pessoa. Cada um daqueles bebês é único, valioso e insubstituível na sua família e como membro integrante da grande família humana. É louvável que o Hospital de Aveiro mostre, assim, à sua cidade, como está ao serviço da vida. De fato, parabéns à vida que cresce, nasce e se desenvolve. Parabéns, porque é sempre um acontecimento único e irrepetível no longo caminho do Universo e da Humanidade. Para chegar onde cada bebê chega, quando nasce, já teve que superar trilhões de desafios e, antes dele, os seus pais, avós, bisavós, trisavós, tetravós, recuando na imensa cadeia até aos primórdios da Humanidade e da Vida, tiveram que superar outro tanto. Um livro muito premiado (Breve História de Quase Tudo, de Bill Bryson, prêmio Aventis 2004 para melhor obra de divulgação científica) começa, precisamente, assim: «Bem-vindo. E parabéns. Ainda bem que chegou até aqui. (…) Em primeiro lugar, para que o leitor esteja aqui agora, foi preciso que trilhões de átomos errantes tenham conseguido juntar-se, numa dança misteriosamente coordenada, de forma a criá-lo a si. Trata-se de uma combinação tão única e especializada que nunca foi feita antes e só vai existir desta vez. Durante muitos anos futuros (esperemos), estas partículas minúsculas irão dedicar-se sem qualquer queixume aos biliões de hábeis e articulados esforços necessários para o manter intacto e deixá-lo desfrutar da experiência supremamente agradável, mas geralmente subestimada, a que chamamos existência.» Vale a pena transcrever mais um pouco e entrever algo da imensidade de acontecimentos que em momentos precisos e com as condições exactas foram necessários para construir toda a imensa cadeia que acabou por chegar àquilo que cada um de nós é. «Mas o facto de sermos formados por átomos e de eles se manterem juntos com tal boa vontade, só constitui parte do que o trouxe até aqui. Para estar aqui agora, no século XXI, vivo e com inteligência suficiente para o constatar, o leitor também teve de ser bafejado por uma extraordinária cadeia de felizes acontecimentos biológicos. A sobrevivência na Terra é um assunto complicadíssimo. Dos bilhões e bilhões de espécies de seres vivos que existiram desde o raiar dos tempos, a maior parte - 99,99 por cento – já não anda por cá. O fato é que a vida na Terra não só é breve como também de uma fragilidade deprimente. Uma característica curiosa da nossa existência é que vivemos num planeta
exímio em promover a vida, mas que ainda o é mais em acabar com ela. (…) O leitor não só teve a sorte de estar ligado desde tempos imemoriais a uma linha evolucionária beneficiada como também teve uma sorte extraordinária, diria mesmo milagrosa, com os antepassados que lhe calharam. Pense só que durante um período de 3,8 biliões de anos, período anterior à formação das montanhas, dos rios e oceanos da Terra, cada um dos seus antepassados de ambos os lados foi suficientemente atraente para encontrar um companheiro, teve a saúde necessária para se reproduzir, e foi suficientemente bafejado pelo destino e pelas circunstâncias para viver o tempo necessário para o fazer. Nenhum dos antepassados necessários à sua existência foi esmagado, devorado, afogado, morreu de fome, foi atacado ferozmente, ferido
mortalmente, ou de alguma forma desviado da missão vital de deixar uma minúscula carga de material genético ao parceiro certo no momento exacto, de forma a perpetuar a única seqüência possível de combinações hereditárias que, eventualmente, espantosamente, e com uma rapidez incrível, resultariam na sua pessoa.» Na verdade, não é nada fácil ter chegado até aqui. E temos mais sorte ainda: somos os únicos com capacidade de apreciar a vida e até de a melhorar. E chegamos a esta posição privilegiadíssima com uma enorme rapidez. «Os seres humanos modernos em termos de comportamento – ou seja, pessoas capazes de falar, de criar arte e organizar actividades complexas – só existem há um período correspondente a 0,0001 por cento da história da Terra.» Somos ainda primitivos, estamos no princípio de quase tudo, mas já somos capazes de vislumbrar muito do que é certo e errado, na nossa curta História. Sabemos que Hitler e Stalin erraram profundamente com o seu projeto de sociedade ideal que excluía milhões de outros seres humanos. Sabemos que os terroristas e os senhores da guerra estão errados. Sabemos que as salas da morte na China para crianças e deficientes são um atentado à dignidade humana. Sentimo-nos orgulhosos por pertencermos a um país que desde o século XIX aboliu a escravatura e a pena de morte; consideramos este fato uma marca de civilização digna da nossa auto-estima como povo. Sabemos que atentar contra a diversidade da vida na Terra, caçar animais em extinção ou destruir ninhos de cegonhas está errado. Sabemos que poluir os rios e os mares, com todas as implicações que isso tem para a vida aquática, está errado. Sabemos, com toda a certeza, que só um profundo respeito pela Vida em todas as suas formas, e com especial reverência para a vida humana, é digno de nós. |
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Teresa Gonçalves, de Portugal Publicado no Portal da Família em 28/05/2007 |
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