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Fabio Toledo

Coluna "Assuntos de Família"

Dia dos pais

Fábio Henrique Prado de Toledo

O próximo domingo é dia dos pais. Como homenagem a todos os que se aventuram a viver a fantástica aventura da paternidade nos dias de hoje, convido-os a meditar um pouco sobre a responsabilidade do empreendimento a que se lançaram.

Soube de um pai que foi indagado por um filho sobre quem teria razão no conflito no oriente médio.

O pai respondeu: “Filho, eu conheço um judeu, professor universitário, extremamente competente em seu trabalho, bom pai de família, uma pessoa que só tem bondade no seu coração. Ele é meu amigo e gosto muito de falar com ele, especialmente quando ele fala de seu pai, o Babbo, como o chama carinhosamente, pois viveram na Itália e tem fortes raízes nesse país. E conheço também um libanês, de quem também me considero muito amigo. Trata-se de um grande juiz, grande fisicamente também, mas, apesar de seu porte avantajado, é de se admirar que caiba em seu peito um coração tão grande, em seus olhos puros não se vê falsidade, mas transborda uma bondade terna e sincera”. E depois concluiu o pai a sua lição: “Sabe, filho, quando vejo pessoas morrendo nessa guerra sangrenta, não consigo pensar em judeus e libaneses, mas em pessoas, seres humanos, com carne e osso e, mais que isso, com uma alma imortal destinada a viver feliz na casa do Pai, como O chama um desses meus amigos, ou na casa do Eterno, como o trata o outro”.

O filho, que já entrava na adolescência, fez ares de insatisfeito e lançou uma incisiva acusação: “Pai, você não me respondeu à pergunta”. “Você têm razão, filho, não respondi mesmo”, admitiu o pai.

Mas em seguida prosseguiu a lição: “É que não tenho a resposta. Não sei o que se passa na cabeça de uma pessoa em concreto que lançou uma primeira bomba, nem da outra que ordenou a retaliação, nem da outra que manda destruir pontes, edifício e gentes inocentes no afã de pegar o inimigo, não sei o que se passou na vida de cada um desses. Para ser sincero, filho, eu detesto generalizações e não sei analisar os fatos com frases do tipo ‘Israel fez isso’ e o ‘Líbano fez aquilo’, para mim, qualquer ação é sempre individual, praticada por uma pessoa, com nome, sobrenome e filiação, ainda que cada qual aja em conjunto e de acordo com outras, com quem se associa para construir ou para destruir. Por esse motivo, sinceramente não sei quem tem razão”.

O filho estava por sair ainda insatisfeito, quando o pai o chamou: “Filho, não estou fugindo da resposta, apenas estou fazendo ver que é muito triste causar divisões. O Eterno, ou o Pai, quer que vejamos a ele em cada pessoa com quem nos relacionamos em cada dia. Quer que O vejamos em cada ser humano que há sobre a face da terra, seja ele judeu, libanês, árabe, africano, cristão, islamita, ateu o que for. É que pode não concordar com nada, ou quase nada do que essa pessoa faz ou pensa, mas, quer queira quer não, todos, absolutamente todos, têm igual dignidade que você. Até o ateu, que mesmo não crendo em Deus não deixa de ser filho desse Pai em que não acredita”.

Confesso que participar dessa conversa me fez um bem imenso, mas ao mesmo tempo fica a indagação de se nos dispomos a aproveitar todos os momentos de nossas vidas para formar nossos filhos. Como são os nossos diálogos com eles? Ficam no superficial, no corriqueiro? Ou, pior ainda, limito-me a reclamar do que ele ou ela faz e que nos desagrada? Há diálogo?

Nossos filhos não precisam de que lhes falemos dos estragos de PCC e da Guerra no Líbano. Eles estão vendo isso, posto estão no mundo. Precisam, porém, e muito, que lhes digamos, com palavras, mas, sobretudo com exemplos de serenidade e alegria nos tempos em que se passam juntos, que a vida vale a pena, apesar dos pesares, que há um mundo fantasticamente belo por detrás das bombas e atentados, mas que esse mundo só pode ser visto com olhos de criança. É que as crianças, em sua visão concreta, não conseguem enxergar instituições, países, raças, nada disso, mas apenas pessoas, e essas, de carne e osso como elas, que, também como elas, mantêm um irreprimível anseio de felicidade, ainda que insistam em procurá-la por caminhos onde não a poderão encontrar.

A todos, um feliz dia dos pais!

 


pai, mãe e filhos

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Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC.

e-mail: fabiohptoledo@gmail.com

Blog: http://fabiohptoledo.blogspot.com.br/

Publicado no Portal da Família em 03/08/2008

 

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