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Piercing: um presente perigoso
Fernanda Aranda

Uma reportagem de Fernanda Aranda, publicada pela Agência Estado em 13/dez/2007, falava sobre os problemas no uso de piercing, uma moda comum entre alguns grupos de adolescentes que traz muitos mais problemas. Muitos jovens desconhecem esses problemas, outros já mudaram de idéia sobre o que pedir de presente. Reproduzimos, a seguir, essa reportagem.

São Paulo, 13/dez/2007 (Agência Estado, por Fernanda Aranda) - O Natal vai se aproximando e, simultaneamente, aumenta a lista dos pedidos de filhos e sobrinhos adolescentes. Entre as encomendas estão os tênis da moda, computadores de última geração, jogos eletrônicos e também os famosos piercings. No entanto, é bom pensar duas vezes antes de satisfazer o desejo dos teens. Isso porque ele não apenas valoriza o visual, mas também pode provocar problemas.

Foi o que aconteceu com Ariana Batista de Oliveira, hoje com 22 anos. Ela decidiu colocar um piercing na parte superior da orelha, pois queria deixar sua marca registrada. Só não contava que a marca seria para a vida inteira: uma cicatriz enorme, complicações de saúde e até a necessidade de uma cirurgia para tratar a infecção. E ela não é a única que carrega esses "efeitos colaterais" do acessório. Só no Hospital das Clínicas, 80% dos pacientes que chegam à unidade por problemas na colocação da jóia precisam recorrer à mesa de operação.

"Eu sofri demais. Minha orelha dobrou de tamanho, sentia muita dor e vergonha. Até perdi oportunidades de emprego. O piercing parecia tão inofensivo, mas resultou em um quelóide (cicatriz muito saliente e avermelhada)", conta a jovem que, dois anos depois do ocorrido, ainda precisa fazer tratamento.

Segundo o diretor da Clínica de Otorrinolaringologia do HC, Perboyre Sampaio, não há nada de inofensivo em um piercing e as chances de complicações são muitas. "Recebemos, em média, 20 pacientes por ano que ficam muito machucados. Nos casos mais graves, perdem a orelha, o nariz fica necrosado e as marcas são eternas. Nem sempre dá para corrigir."

O alarde não vem só desse especialista. Na realidade, é difícil encontrar algum profissional da área médica que defenda a colocação do piercing, em qualquer parte do corpo. "Não há uma região isenta de riscos de infecção. O organismo reage severamente ao metal e não há como prever quem pode apresentar essas reações", alerta o diretor da Sociedade Paulista de Estomatologia e Câncer Bucal, Carlos Eduardo Ribeiro da Silva.

Mas em alguns locais do corpo, o perigo é ainda mais iminente. Silva cita que na língua, por exemplo, o piercing atua como um canal direto entre as bactérias e a boca, o que facilita o contágio de doenças, como hepatite e HPV.

Os problemas não param por aí. Uma pesquisa ainda inédita da Universidade de Santo Amaro (Unisa), realizada com cem pessoas de São Paulo com piercing na língua, mostrou que em 100% dos casos foi encontrado alguma alteração, desde inflamações rotineiras a processos crônicos. Nas análises por biópsia, foi comprovado que em dois casos havia lesões cancerígenas."Sem contar que, como a língua pode ficar muito inchada, dificulta a respiração. Já houve registros no Brasil de pessoas que morreram sufocadas por causa disso", conta o dentista Artur Cerri, professor da Unisa e coordenador da pesquisa.

Os especialistas explicam ainda que colocar o acessório em lugares renomados e higiênicos não é garantia de evitar totalmente as complicações. "Por mais experiência que o colocador tenha, existem algumas características do corpo que precisam de conhecimento de saúde. Eu sou contrário e não recomendo a prática", fala Carlos Eduardo.

Todos concordam sobre as chances reais de problemas e também que é muito difícil convencer os jovens e deixarem de lado essa "febre". Um exemplo é o próprio estudo da Unisa. Mesmo depois que os participantes souberam dos riscos, apenas 25% deixaram de usar piercing na língua. Quem se esforça para convencer a galera é Ariana que, de adepta ao uso, tornou-se a maior representante da turma dos contrários. "Dá para mostrar a vaidade de muitos outros jeitos. Pintando o cabelo, fazendo chapinha, usando roupas legais. O risco do piercing não vale à pena", define.

PEQUENOS E PERIGOSOS

- A pele em cima da orelha é muito parecida com a do nariz, dois locais muito procurados para piercing. Os médicos dizem que as cartilagens nessas regiões não são adaptados para a perfuração, como é o caso do lóbulo da orelha. Isso pode provocar infecção aguda, deformações, quelóides e reações perigosas.

- Involuntariamente, a língua se mexe 1.300 vezes por dia e a maioria dos movimentos ocorre à noite. O trauma com o piercing provoca lesões que podem até evoluir para câncer, dependendo do tempo de exposição. Sem contar que há quem coloque o brinco entre os dentes, o que pode quebrá-los.

- As regiões do umbigo e da sobrancelha são praticamente iguais. Os especialistas dizem que são as partes mais seguras para a colocação da jóia. Alertam, porém, que não estão isentas de riscos de infecção, já que a reação não é previsível e cada organismo se manifesta de um jeito diferente.

jovem grampeando a língua: piercing, um grande problema

Agência Estado  

Publicado no Portal da Família em 30/11/2008

 

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