Portal da Família
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Carta aos amigos mortos |
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Sophia de Mello Breyner Andresen |
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Eis que morrestes – agora já não bate O vosso coração cujo bater Dava ritmo e esperança ao meu viver Agora estais perdidos para mim – O olhar não atravessa esta distância – Nem irei procurar-vos pois não sou Orpheu tendo escolhido para mim Estar presente aqui onde estou viva.
Eu vos desejo a paz nesse caminho Fora do mundo que respiro e vejo. Porém aqui eu escolhi viver Nada me resta senão olhar de frente Neste país de dor e incerteza.
Aqui eu escolhi permanecer Onde a visão é dura e mais difícil Aqui me resta apenas fazer frente Ao rosto sujo de ódio e de injustiça A lucidez me serve para ver A cidade a cair muro por muro E as faces a morrerem uma a uma E a morte que me corta ela me ensina Que o sinal do homem não é uma coluna.
E eu vos peço por este amor cortado Que vos lembreis de mim lá onde o amor Já não pode morrer nem ser quebrado.
Que o vosso coração que já não bate O tempo denso de sangue e de saudade Mas vive a perfeição da claridade Se compadeça de mim e de meu pranto Se compadeça de mim e do meu canto. Fonte: Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto http://belostextos.aaldeia.net/carta-aos-amigos-mortos/ Publicado no Portal da Família em 31/10/2016 |
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