Portal da Família
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Casamento: Tornar-se mais amável pelo sacrifício |
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Cormac Burke |
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Para que o amor sobreviva no matrimônio, cada um dos cônjuges tem de aprender a amar o outro com os defeitos que tem. Para que o amor não somente sobreviva, mas cresça, cada um dos cônjuges tem de poder descobrir virtudes – virtudes novas ou virtudes mais amadurecidas – no outro. Para que o amor no casamento cresça, o outro tem de tornar-se cada vez mais amável. E ele (ou ela) só se tornará mais amável se progredir, se efetivamente se for convertendo numa pessoa melhor. No plano natural, a generosidade e a doação de si mesmo são o que torna uma pessoa melhor e mais amável. E o egoísmo é o que mata o amor, não só no próprio egoísta, como também naqueles que convivem com ele. Quem ama deve ser capaz de sacrificar-se pela pessoa amada, se quiser ele próprio tornar-se mais amável. Quem é incapaz de sacrificar-se é também incapaz de dar, de receber ou de reter mais amor. É bom que, no casamento, cada um se sacrifique pelo outro. É duvidoso, porém, que no plano natural, o marido ou a mulher bastem por si mesmos para levar indefinidamente o outro cônjuge a ser generoso e sacrificado. Acabamos de dizer que aquele que ama deve ser capaz de sacrificar-se pela pessoa amada, se quiser ele mesmo tornar-se mais amável. Acrescentemos agora que essa pessoa amada, segundo os desígnios da natureza para o casamento, inclui os filhos. Os filhos podem e realmente costumam exigir dos pais um grau de sacrifício que nenhum dos cônjuges seria capaz de inspirar. “Um homem supera-se a si mesmo mais facilmente por causa dos filhos. O amor paternal é o amor mais naturalmente desinteressado” [1]. Neste sentido, na medida em que se sacrifica pelos filhos, cada um dos pais realmente se aperfeiçoa e se transforma – também aos olhos do seu cônjuge – numa pessoa verdadeiramente mais amável. “Por causa dos filhos, os pais superam-se a si mesmos e superam a visão limitada que tinham da sua própria felicidade. Só se adquire grandeza moral mediante a auto superação. E os filhos são, acima de qualquer outra coisa, o que estimula um casal a adquirir grandeza moral” [2]. O casamento necessita de sacrifício Por outro lado, se marido e mulher não exploram a capacidade de sacrifício armazenada nos seus instintos paternos e maternos, provavelmente, e no melhor dos casos, acabarão por ser pessoas semidesenvolvidas, semi-amáveis. E isto não é suficiente nem mesmo para a sobrevivência do casamento. A verdade é que o sacrifício é uma exigência positiva da vida matrimonial. Todo o sacrifício que os filhos exigem dos pais já desde os seus primeiros anos é o principal fator previsto pela natureza para amadurecer, desenvolver e unir os pais. É bom que marido e mulher se sacrifiquem um pelo outro; mas é melhor que se sacrifiquem juntos pelos seus filhos. O sacrifício compartilhado é um dos melhores laços do amor. Parece-me que um dos erros mais claros, frequentes e tristes de muitos casais jovens de hoje é casarem-se com a decisão já tomada de adiar a vinda dos filhos por alguns anos – dois, três ou cinco. O resultado é que justamente no momento em que o clima romântico começa a desvanecer-se, em que o amor começa a encontrar dificuldades e necessita de um suporte, desse pilar central que a natureza previu (até diria “planejou”) para enfrenta esse momento – os filhos -, esse suporte ainda não existe. O egoísmo a dois não basta para a felicidade Compreendo que muitos casais jovens queiram desfrutar durante alguns anos da sua vida em comum. Sentem-se ainda demasiado jovens para instalar-se numa vida familiar, e preferem conciliar o que consideram as vantagens da vida conjugal com os atrativos da vida social a que estavam acostumados. Mas podemos dizer a sério que estamos diante de um modo natural de viver o casamento? Não estarão esses casais demasiado voltados para o prazer que o casamento oferece, e muito pouco interessados no compromisso que supõe? Não estarão preferindo partilhar o egoísmo a partilhar o amor? No final das contas, “passar bons momentos juntos” não é propriamente um grande ideal para ser compartilhado por duas pessoas, e é sem dúvida incapaz de mantê-las unidas durante toda a vida. Tem-se às vezes a impressão de que muitos casais jovens sonham com um casamento em que a necessidade do sacrifício esteja reduzida ao mínimo e, se possível, totalmente eliminada. O mais triste nessa situação é que o casal que deseja um casamento sem sacrifício, quer um casamento em que cedo ou tarde marido e mulher perderão o respeito um pelo outro. [1] Jacques Leclercq, Le mariage Chrétien, cap. 6. [2] Ibidem. Cormac Burke, no livro Amor e Casamento, Quadrante, São Paulo, 1991, pp.25-27. Publicado no Portal da Família em 20/03/2014 |
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