Nesta série de artigos, o objetivo é apresentar diversas dicas para tornar sua casa mais segura, principalmente para residências onde moram crianças, pessoas idosas ou pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida (por exemplo, pessoas adoentadas com dificuldade de locomoção ou com problemas na visão).

Todas as partes e detalhes de uma casa podem representar um enorme risco. Algumas estatísticas apontam que a maioria dos acidentes envolvendo crianças acontece em sua própria casa ou na de parentes. E que grande parte dos atendimentos por lesões traumáticas nos hospitais ocorre com pessoas com mais de 60 anos, sendo que cerca de 75% dessas lesões acontecem dentro de casa.

Estes artigos tem o intuito apenas de orientar e dar sugestões para prevenir algumas situações que podem ocasionar ou favorecer acidentes em uma edificação, principalmente nos aspectos referentes à arquitetura, evitando qualquer opinião no que diz respeito a partido arquitetônico, modismos, visões de design ou quaisquer outras tendências de época ou de mercado.

Neste artigo, o arquiteto e urbanista João Carlos de Freitas Nunes apresenta algumas orientações para a escolha de qual a escada com patamar mais segura para uma casa.

Escadas com patamares

Em residências que possuem algum tipo de escada, é muito provável que este seja o local de uma edifícação que propicia o maior número de acidentes preocupante. A escolha do tipo de escada ideal para cada lugar, bem como orientações corretas para sua construção, podem evitar inúmeros acidentes em uma residência.

Recomenda-se, no caso de escada privativa, que não devam ter pisada (local aonde se põe o solado do pé) inferior a 25 cm. A altura do degrau (diferença entre um degrau em relação ao anterior ou posterior) deve ter no máximo 19 cm, e a largura não deve ser inferior a 60 cm.

Principalmente nas áreas urbanas (ou seja, nas cidades), a tendência atual é que a cada dia o espaço destinado às edificações diminua cada vez mais e, por isso, procura-se ganhar o maior espaço possível interior e exterior. Como a escada não é considerada um “ambiente” por si só, muitas vezes não se dá a devida importância à sua concepção, optando-se por soluções que não atendem as normas de legislação e nem as normas do bom senso.

As chamadas escadas com patamar intermediário, em formato “U” ou “L”, são as mais usualmente utilizadas e, por isso, vamos analisar a seguir as soluções mais corriqueiras usadas para esse tipo de escada, do ponto de vista dos aspectos de prevenção contra acidentes.

Situação “A” – Escada em formato “U” com um patamar de descanso sem degrau

As figuras a seguir ilustram, em planta (vista de cima) e em perspectiva, uma escada que adota esse tipo de solução.

Figura A1 – Vista de cima (Planta)

Figura A2 – Visão em perpectiva

Comentário: É uma solução muito boa (a solução ideal é a escada reta sem patamar) pois o patamar de descanso e virada do sentido da escada permite boa visualização e espaço para que a pessoa que for usá-la suba e mude o sentido de direção sem dificuldade.

Situação “B” – Escada em formato “U” com um patamar de descanso dividido em 2 partes, ou “L” com um patamar

Figura B1 – Vista de cima (Planta) de escada em formato “U” e de escada em formato “L”

Figura B2 – Visão em perpectiva

Comentário: É uma solução ainda boa, pois, apesar da diminuição da área do patamar de descanso pela metade, permite a virada do sentido da escada, com boa visualização e bom espaço para que a pessoa que for usá-la suba e mude o sentido de direção sem grande dificuldade.

Situação “C” – Escada em formato “U” com um patamar de descanso dividido em 4 partes ou “L” com um patamar de descanso dividido em 2 partes

Figura C1 – Vista de cima (Planta) de escada em formato “U” e de escada em formato “L”

Figura C2 – Visão em perpectiva

Comentário: É uma solução já não recomendável, pois há uma diminuição sensível da área de pisada do patamar, o que gera dificuldade na virada do sentido da escada e possibilita que exista algum sombreamento do piso superior em relação ao degrau no qual a pessoa possa posicionado um dos pés.

Situação “D” – Escada em formato “U” com um patamar de descanso dividido em 6 partes ou “L” com um patamar de descanso dividido em 3 partes

Figura D1 – Vista de cima (Planta) de escada em formato “U” e de escada em formato “L”

Figura D2 – Visão em perpectiva

Comentário: Certamente você já deve prever que esta não é uma solução recomendável, pois há uma área de pisada do patamar muito pequena que gera dificuldade e insegurança tanto na virada do sentido da escada quanto na possibilidade de geração de algum sombreamento do piso superior em relação ao degrau onde a pessoa possa ter o pé. Só deveriam ser usadas quando a largura do degrau fosse bem grande (acima de 1,20 m), mas, se você tivesse todo esse espaço para pôr uma escada, certamente nem estaria observando este item.

Situação “E” – Escada em formato “Caracol”

Figura E1 – Visão em perpectiva

Comentários: Vou fazer uma citação breve a respeito, pois apesar de tecnicamente não se poder dizer que ela tenha patamar (pessoalmente, entendo que esse tipo de escada tem vários micro-patamares), trata-se, sem dúvida alguma, da pior das soluções abordadas e que deveria sempre ser evitada. Juntamente com a garantia do fabricante, esse tipo de escada deveria vir sempre acompanhada do cartão de um bom médico ortopedista. Independente da largura de seus degraus e de quão boa possa ser sua construção, o fato é que ficar descendo ou subindo degraus em movimentos uniformes circulares não é exatamente um movimento que tem atraído bom desempenho de nenhum ser humano e deve ser evitado a todo custo.

Entretanto, por ser o tipo de escada com menor perda de espaço, tanto no pavimento em que ela se inicia quanto no que termina, é muito utilizada no mercado, principalmente em edificações de metragem reduzida (apartamentos duplex, lojas comerciais com 2 pavimentos, acesso a mezaninos, etc.).

Iluminação

Por fim, uma recomendação que sempre devemos ter no projeto de uma escada. Quando nos dirigimos à ela, com o intuito de descer um pavimento, é necessário que haja boa iluminação, independentemente de ser horário diurno ou noturno, e que esta iluminação (natural ou não) seja boa o suficiente, sem todavia ser muito forte tal qual um farol de automóvel mal regulado com lâmpada do tipo xenon que ao invés de proporcionar facilidade na chegada aos primeiros degraus obrigue o seu usuário a mudar o seu campo natural de visão ou que então dificulte sua locomoção para iniciar a sua descida.

Outras preocupações que não só atendem a escadas, mas também processos construtivos em outros locais em geral serão abordados posteriormente nos próximos artigos.

João Carlos de Freitas Nunes é Arquiteto e Urbanista

CREA/SP 50.607.808.50/D

http://freitas-nunes-arq.vila.bol.com.br

e-mail: freitas_nunes_arq@yahoo.com.br

Publicado no Portal da Família em 02/09/2011