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Frenesi da sensibilidade

Pe. Paulo M. Ramalho

Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “frenesi da sensibilidade”.

Li uma vez um filósofo que disse que vivemos hoje o frenesi da sensibilidade. Dizia, e concordo plenamente com ele, que a sociedade passou séculos dando ênfase muito grande à inteligência. Esse período vai da descoberta da filosofia pelos gregos, no séc. IV a.C., até Descartes.
 
De Descartes à queda do Muro de Berlim, em 1989, foi, segundo esse filósofo, o período da ênfase à vontade. A humanidade viveu um “desejo” de que o mundo fosse de determinada maneira. Daí o surgimento das ideologias que culminou com o marxismo. Esse sonho ruiu com a queda do Muro de Berlim.
 
A partir daí, afirma o filósofo, desacreditando que o mundo pudesse ser de determinada maneira através das ideologias (descrédito da vontade), cansados de querer “compreender” este mundo (descrédito da inteligência), caímos no frenesi da sensibilidade. Mergulhamos no que nos resta agora que é o culto às sensações.
 
E é verdade!!! Vejam alguns exemplos desse fato:
- o sucesso das telenovelas, em contraponto com programas de televisão de maior conteúdo;
- o sucesso dos videoclipes;
- os jornais e telejornais que carregam no enfoque sensacionalista, senão perdem a audiência;
- os filmes que valorizam a ação; dezenas de tomadas por segundo; poucos diálogos;
- as propagandas que focam as sensações: o prazer de uma bebida, o prazer de um carro, a alegria de ter um relógio;
- a valorização do esporte por que ele te permite boas sensações: bem estar, alegria etc; valorização de esportes radicais; emoções fortes;
- os livros que exploram a imaginação, as emoções etc.
 
Por que quero falar sobre isso? Porque refletir a esse respeito é muito importante. É muito importante saber o ambiente em que estamos inseridos e ter uma visão crítica do período histórico em que estamos vivendo.
 
É muito importante saber que hoje o que muitos procuram é o prazer (o prazer a qualquer custo). E isso é muito perigoso!
 
É muito importante saber que o foco principal hoje é dado à sensibilidade:
- o amor é paixão; quando o amor é sobretudo doação;
- a verdade é o que você sente; como na famosa frase: “Se você se sente bem fazendo isso, então tudo bem”! Essa frase é muito perigosa. Um ladrão, por exemplo, se sente bem roubando; um invejoso se sente bem prejudicando quem é objeto da sua inveja.
 
É muito importante saber que a sensibilidade — ou seja, as emoções, os sentimentos, os afetos, as paixões — é extremamente instável, variável. As sensações são como montanha-russa. E apoiar-se numa realidade que se parece com uma montanha-russa é muito perigoso.
 
A sensibilidade é um elemento muito importante da alma humana, mas não é o mais importante. A alma humana, sempre lembro, se assemelha a um triângulo equilátero voltado para baixo, sendo que em cima estão a inteligência e a vontade e embaixo, a sensibilidade.
 
A sensibilidade está embaixo porque o mais importante para o ser humano é “fazer o bem” e não tanto “sentir o bem”. A “inteligência” capta o bem e a “vontade” se move para o bem. Uma pessoa, por exemplo, que toma um remédio amargo, não “sente” prazer nesta hora, mas o toma porque o mais importante é cuidar da sua saúde e não tanto “sentir prazer” em cuidar da sua saúde.
 
Não nos deixemos levar pelo frenesi da sensibilidade, pela busca das sensações acima de tudo! Seguir esse caminho é colocar o triângulo da alma com a ponta dos sentimentos voltada para cima. Se a sensibilidade está no alto, acima da inteligência, será uma sensibilidade cega, que causará muitos estragos. Pensemos nessas ideias para que a nossa alma esteja sempre bem equilibrada.

Pensem nisso!

Simpson, vendo TV

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Pe. Paulo M. Ramalho é Sacerdote ordenado em 1993. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce; Capelão do IICS (Instituto Internacional de Ciências Sociais).

Site: http://www.fecomvirtudes.com.br

Publicado no Portal da Família em 04/10/2015

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