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Ines Rodrigues


Pai e Filho

Inês Rodrigues
ines_rodrigues@hotmail.com


O jornalista e escritor Tony Parsons é celebridade na Inglaterra. Não só pelas colunas que assina ou pelos livros que escreve, mas também porque consolidou com o livro "Pai e Fiho" (em inglês, Man and Boy) a nova voz do anti-machão.

Quando li o livro, no ano em que foi lançado aqui, 1999 (no Brasil, saiu pela editora Sextante em 2002), fiquei impressionada não com a história do pai que passa a cuidar sozinho do filho de quatro anos, mas pelo relato ter sido escrito do ponto de vista de um homem, admitindo abertamente suas imensas dificuldades nesse terreno escorregadio que é educar uma criança.

Vou contar rapidamente o enredo: o protagonista é bem-casado e pai de um menino. Um belo dia, faz uma grande besteira, a mulher descobre tudo e eles se separam. Ela arranja um trabalho temporário no Japão e eles decidem que ele terá a guarda provisória de Pat, o filho de quatro anos. E aí ele começa a deparar com uma realidade que nunca sonhara: além de trabalhar e trazer dinheiro para casa, tem que sair do escritório todos os dias na hora, precisa recusar encontros, pois não tem com quem deixar o menino, aprende a participar mais das brincadeiras, entender suas manhas, alimentá-lo direito.

Sua experiência de pai-mãe é contada de coração aberto, com as palavras de um homem que não tem vergonha da sua imaturidade. Sem ser sentimentalóide, sem correr atrás da primeira esposa que aparecer só para que ela se encarregue da tarefa de educar os filhos. Uma das cenas mais desconcertantes para o pai-mãe é quando ele vai dar banho em Pat, faz tudo errado e o menino retruca: "Quando é que a mamãe volta? Você não sabe fazer nada direito".

Não, o livro não é nenhum prêmio Nobel, nenhum primor de linguagem ou sofisticação. Aqui foi um enorme best-seller. No Brasil, fiquei estarrecida ao encontrá-lo no website de uma livraria famosa em São Paulo sob a classificação de "auto-ajuda"! Será que é só para vender alguns exemplares a mais??

Talvez o grande sucesso de "Pai e Filho" esteja na tendência não-sou-durão que ele tão bem aponta e que já é bem visível nas ruas da Europa.

Um dos maiores ídolos ingleses do momento, o jogador de futebol David Beckham, é um marido dedicado e pai de dois meninos. Ele não esconde sua satisfação com a vida familiar, mesmo tendo menos de 30 anos, idade em que os machões de plantão se gabam de ainda não ter sido "fisgados" para a "prisão" do casamento. O próprio Tony Parsons ganhou a guarda definitiva de seu único filho num difícil processo de divórcio há muitos anos. Homens empurrando carrinhos de bebê são visões mais e mais comuns nos parques de Londres. Pais que decidiram parar de trabalhar e cuidar dos filhos, deixando o sustento da casa aos cuidados das esposas mais bem-sucedidas, também não são mais bicho-de-sete-cabeças.

Os homens se vestem com roupas mais coloridas, perdem a vergonha de trocar fraldas em público e parecem cada vez mais tranqüilos jogando na lata do lixo - junto às Pampers sujas - a máscara de Rambo. O livro, portanto, só documentou uma tendência. Talvez seja essa a chave do seu sucesso.

Agosto/2003



 

Inês Rodrigues é jornalista e reside em Londres.

 


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