Está
tão presente o tempo em que eu, pequenina,
procurava tuas mãos,
pedia colo e que me repetisses as estórias
que sabias.
O contato de tuas mãos fortes com minhas mãos
fofinhas deixava passar toda a segurança de
que eu precisava e buscava.
Teu
colo paterno era a certeza de tempo com gosto de
gratuidade,
aconchego e segredos. Cada palavra tua, nas repetidas
estórias,
alimentava minha imaginação, fazia-me
sonhar, voar no tempo e no espaço,mexiam
com minhas emoções.
E, quantas vezes, papai, me colocavas como personagem
de tuas narrações,para dar-me pequenas
lições.
Hoje,
depois de tantos anos, conservo-o bem presente nos
meus dias e
bendigo a Deus pela infância que tive, pelo
pai que Ele me deu. Por
muitos motivos, costumo dizer: Para mim é
fácil chamar a Deus de Pai.
Sinto ainda tua presença em tantas bênçãos
que vêm para minha vida. É
como se, o tantas vezes repetido: "Deus te
abençoe, filha"! tenha se
transformado em: "Com Deus, abençôo-te,
minha filha!
Tenho
certeza, papai, de que agora estás com Deus,
naquele colo que,
através de ti, a Ele eu pude sentir.
Era como se o tempo parasse - gosto de eternidade.
Era sentir-me única - sensação
de cumplicidade.
Desde
que o devolvemos para Deus, quando converso com
Ele procuro também por ti, papai, na felicidade
eterna.
Tenho certeza de que dás a cada um de nós
a noção de que estamos aqui de passagem
e nem é bom que todos os problemas sejam
resolvidos e os sonhos e esperanças concretizados.
Tua volta para o Deus da Vida dá-nos a oportunidade
de olharmos para o Céu, em nossa saudade
alimentada pela esperança de um reencontro
feliz.
Nas
minhas lembranças, sinto como se tivesses
escrito para mim um livro de vivências para
mim. Nosso tempo era preenchido com brincadeiras,canções,
orações e poesia... Lembras de como
te imitava lendo jornal? Ainda sem saber ler, pegava
aquelas folhas grandes demais para minhas mãos
e passava bons momentos olhando as figuras e balbuciando
a minha imaginativa versão dos fatos.
Quantas
vezes o observava escrevendo e relendo seus discursos,
com
planos para algum cargo público. Foi o tempo
em que aprendi também a
correr os olhos pelos mapas, acompanhando-o com
os olhos e com o coração em suas viagens
de campanhas. Na verdade, papai, valeu a tentativa,
mas achei muito bom o fato de não ter sido
eleito para cuidar de tanta gente; continuastes
assim todo nosso.
Era
tão serena minha certeza do teu amor que,
só depois de tua partida
para o Céu, percebi claramente que eras o
eleito de minha vida. Um
sorriso aflora quando alguém sugere que sou
um pouco parecida contigo.
Aquelas
minhas mãos pequenas, que tantas vezes segurastes,
contemplastes e aquecestes, estão crescidas
e trabalhando muito.
Meu rosto ainda se ilumina e acolhe algumas lágrimas,
quando penso em
ti, nas minhas andanças reais e virtuais,
na dança da vida.
Crescida
e agradecida a Deus, peço:
Abraça-me e dá-me tua bênção,
papai!