Portal da Família
|
||||||||||||||||||||||||||||
|
Como surgiram os Hospitais
|
|||||||||||||||
Um dos principais lugares onde um médico exerce sua profissão é o hospital. É lá, também, onde grande parte dos cuidados às pessoas doentes ou acidentadas é realizado. Muito comum nos dias atuais em praticamente todos os países. Mas, de onde será que surgiu a ideia de se construir hospitais, se na antiguidade não existia nada semelhante? De uma forma geral o hospital moderno representa a solicitude natural humana para com o sofrimento das pessoas, enobrecido pela fraternidade e tornada eficiente devido aos inúmeros recursos da tecnologia médica e das especializações profissionais. O nome Hospital vem do latim “hospes”, que significa “convidado”. Daí deriva “hospitalis” (hospitaleiro) e “hospitium”, uma casa de hóspedes ou quarto de hóspedes. Originalmente, o termo hospital significava um lugar onde estrangeiros ou visitantes eram recebidos e, no decorrer do tempo, o uso desse termo ficou restrito a instituições destinadas ao cuidado dos doentes. Esta modificação é incidental devido ao longo desenvolvimento pelo qual os hospitais passaram, sob as variadas influências de sociais, mudanças nas condições políticas e econômicas, e ao progresso científico. Antiguidade pagã Em tribos selvagens, como os antigos povos germânicos, os doentes e fracos eram muitas vezes abandonados para morrer, práticas mais humanas só foram encontradas entre alguns povos mais civilizados. Um dos primeiros lugares para cuidar de enfermos de que se tem registro foi fundado na Irlanda, no ano 300 antes de Cristo, pela Princesa Macha. Era chamado de "Broin Bearg" (casa de tristeza), e era usado pelos Cavaleiros da Casa Vermelha (Red Branch Knights) como residência no Ulster até sua destruição no ano 332 da era Cristão (332 d.C.) ("Seanchus Mor", 123. Cf. Sir W. Wilde, "Notas sobre a Irlanda Antiga", pt. III). Na Índia, o reino budista de Azoka (252 a.C.) tinha um local para tratar de homens e animais. Os mexicanos, em tempos pré-colombianos, tinham várias instituições em que os doentes e os pobres eram atendidos (Bancroft, "Raças nativas", II, 596). Entretanto, nem tudo que poderia ser chamado de hospital corresponde ao conceito de hospital usado atualmente. Apesar de possuírem alguns conhecimentos médicos, sabe-se que a maior parte dos procedimentos nesses lugares destinava-se apenas a aliviar o sofrimento não a curar. Do estudo dos Papiros, em especial os de Ebers, aprendemos que os egípcios empregavam um número considerável de remédios e que mantinham algum tipo de clínica nos templos. Costumes semelhantes prevaleceram na Grécia. Os doentes recorriam ao templo de Esculápio (Esculapium), onde poderiam ter banhos térmicos, realizar consultas a oráculos e passar a noite (incubatio) na esperança de receber instruções do deus por meio de sonhos que os sacerdotes interpretavam. Pacientes curados faziam doações denominadas “Taxas”. Médicos leigos (Esculapiades) cuidavam de certo tipo de farmácia nas quais as pessoas recebiam tratamento. Em Epidauro o senador romano Antonino ergueu (ano 170 d.C.) dois estabelecimentos, um para os moribundos e o outro para as mulheres grávidas, pois esses pacientes não eram admitidos no Esculapium. Os romanos, em seus tratamentos aos doentes, adotaram muitos dos costumes gregos. Havia um templo de Esculápio na ilha de Tibre (ano 291 a.C.), onde agora existe a igreja e mosteiro de São Bartolomeu, no qual se observavam os mesmos ritos adotados entre os gregos. Médicos municipais eram designados para tratar várias classes de cidadãos, e estes profissionais geralmente gozavam de privilégios e imunidades. Provisões eram armazenadas para o cuidado dos soldados doentes e escravos, os últimos a receberem atenção nas chamadas valetudinarias, locais privados que os romanos mais ricos mantinham anexos às suas propriedades. Mas não há registro de qualquer instituição correspondente ao nosso conceito moderno de hospital. Embora a Grécia e Roma tenham atingido o mais alto grau de cultura no seu tempo, o tratamento dispensado aos doentes era praticamente igual, e certamente não superior, ao que era encontrado nas nações orientais. Ambos, gregos e romanos, consideraram a doença como uma maldição imposta por poderes sobrenaturais e por isso procurava mais apaziguar a divindade malévola do que aplicar procedimentos de alívio ao doente. INÍCIO DA ERA CRISTÃ
Dessa forma, o cuidado dos doentes foi desde o início um dever sagrado para cada um dos cristãos, mas atribuída, de modo especial, a os bispos, presbíteros e diáconos. Os mesmos auxílios que traziam alívio para os pobres incluíam também atenção aos doentes, os quais eram visitados em suas casas. Este foi especialmente o caso durante as epidemias que se alastraram em diferentes partes do Império Romano, como a de Cartago, no ano 252 d.C. (São Cipriano, "De mortalitate", XIV, in: Migne, PL, IV, 591-593) e a de Alexandria, em 268 d.C. (Eusébio, História da Igreja, VII.22; "Acta S.S.", VI, 726). Cipriano (210-258), bispo de Cartago, norte da África, repreendeu a população pagã por não socorrer as vítimas da praga preferindo saqueá-las. Ele convocou os cristãos chamando-os a socorrer os doentes e enterrar os mortos. Valiosa assistência também foi prestada por médicos, escravos ou libertos, que haviam se tornado cristãos, como Cosme e Damião, que eram solícitos para com as necessidades físicas, conforto corporal e bem-estar de seus pacientes. Outra característica da vida cristã era a obrigação da prática da hospitalidade (Romanos 12:13, Hebreus 13:02, 1 Pedro 4:9; 3 João). O bispo em particular deve ser "dado à hospitalidade" (1 Timóteo 3:2). O cristão, portanto, indo de um lugar para outro, era bem recebido nas casas dos irmãos, mas essa hospitalidade também era estendida ao visitante pagão. Clemente de Roma elogia o povo de Coríntio por sua hospitalidade (Ep. ad. Coríntios, C. I) e Dionísio de Corinto, pela mesma razão dá crédito aos Romanos (Eusébio, História da Igreja, IV. 23). A casa do bispo, em especial, era aberta ao viajante que não só encontrava comida e abrigo, mas também, em caso de necessidade, os meios para continuar sua jornada. Em alguns casos o bispo era também um médico, que provia ajuda para aqueles que dela necessitavam (Harnack, "Medicinisches aus d. ältesten Kirchengesch", in: "Texte u. Untersuchungen" VIII, Leipzig, 1892). Os doentes também eram atendidos na "valetudinaria" dos romanos cristãos ricos, que com espírito de caridade estendiam a hospitalidade para aqueles que não podiam ser acomodados na casa do bispo. Havia, portanto, desde os primeiros tempos, um sistema bem organizado para fornecer ajuda às várias formas de sofrimento, mas que era necessariamente limitado e dependente do esforço privado, principalmente porque, ao mesmo tempo, os cristãos estavam sob o julgo de um Estado hostil que muitas vezes os perseguia. Enquanto havia perseguição aos cristãos, uma instituição de caráter público, como nossos hospitais modernos, estava fora de questão. Somente quando o imperador Constantino (ano 313) deu liberdade à Igreja Católica, tirando-a da clandestinidade e interrompendo, pelo menos durante seu reinado, as perseguições, os cristãos puderam aproveitar sua maior liberdade para ajudar os doentes por meio dos primeiros hospitais. Vários motivos e causas têm sido propostas para explicar o desenvolvimento de serviços de cuidados aos doentes na forma de um trabalho institucional em hospitais (Uhlhorn, I, 317 ss). Não foi, porém, devido a um enfraquecimento da caridade, como tem sido afirmado (Moreau-Christophe, "Du probleme de la misere", II, 236, III, 527), mas sim devido ao rápido crescimento no número de cristãos e à disseminação da pobreza sob novas e variadas condições econômicas adversas. Para atender a essa grande demanda, um tipo diferente de organização era necessário, e isto, em conformidade com a tendência predominante para dar um caráter institucional a todo trabalho voltado ao bem comum, levou à organização e fundação de hospitais. Quando e onde o primeiro hospital foi criado é uma questão aberta. De acordo com algumas autoridades (Ratzinger, OBRA p. 141), São Zoticus construiu um em Constantinopla durante o reinado de Constantino, fato esse não comprovado. Mas que os cristãos no Oriente haviam fundado hospitais antes de Juliano o Apóstata subir ao trono (361 d.C.) é evidente a partir da carta que o imperador enviou a Arsacius, sumo sacerdote da Galácia, direcionando-o a estabelecer algo equivalente em cada cidade às custas da receita pública (Soxomen, V, 16). Como ele declara em sua carta, o objetivo era rivalizar com o trabalho filantrópico dos cristãos, que se preocupavam tanto com os cristãos como com os pagãos. Um exemplo desta obra abrangente é encontrado na obra de Santo Efrém que, durante a peste em Edessa (375 d.C.), providenciou 300 camas para os doentes. Mas as fundações mais famosas foram as de São Basílio Magno (330-369), em Cesaréia, na Capadócia. Suas "Basilias", como eram chamadas, tinham as dimensões de uma pequena cidade, com suas ruas regulares edifícios para diferentes tipos de pacientes. Residências para médicos e enfermeiros, oficinas e escolas industriais. Fundou também um hospital especialmente para cuidar dos leprosos. São Gregório de Nazianzo ficou profundamente impressionado com a extensão e a eficiência desta instituição que descreveu com entusiasmo (Or. 39, "In laudem Basilii"; Or. fun. "In Basil.", P.G., XXXVI, 578-579). O exemplo de São Basílio foi seguido por todo o Oriente: em Alexandria, por São João, o doador de esmolas (610 d.C.); em Éfeso pelo bispo, Brassianus; em Constantinopla por São João Crisóstomo e outros, nomeadamente Santa Pulquéria, irmã de Teodósio II, que fundou a "Multa publica hospitum et pauperum DOMICILIA", que eram diversas casas para atender estrangeiros e pobres (Acta S.S., XLIII). Na mesma cidade, Samson, no início do século VI, fundou um hospital perto da igreja de Santa Sofia (Procópio, "De aedif. Justiniani", I, c. 2), que foi destruído e posteriormente restaurado na época de Justiniano, que também construiu outros hospitais em Constantinopla. Du Cange (História Bizantina, II, "Constantinopolis Christiana") enumera 35 estabelecimentos desse tipo apenas nessa cidade. Entre os estabelecimentos surgidos posteriormente, em Constantinopla, os mais notáveis foram o “Orphanotrophium”, fundado por Aleixo I (1081-1118), e o hospital dos Quarenta Mártires, fundado por Isaac II (1185-1195).
O primeiro estabelecimento na França remonta ao século VI, quando o Rei Chuldebert e sua esposa fundaram uma “xenodochium” em Lion, que foi aprovado pelo Quinto Conselho de Orleans (ano de 549). Outras fundações foram as de Brunehaut, esposa do Rei Sigibert, em Autun (perto do século VI); de São Radegonda, esposa de Clotário, em Athis, perto de Paris; de Dagoberto I (622-638), em Paris; de Cesário e sua irmã Santa Cesária de Arles (542), e o hospício ao qual Hincmar de Reims (806-882) doou valores consideráveis.
Como o nome indica, pertencia ao grupo de instituições que cresceu em conexão com a catedral ou com a igreja principal de cada grande cidade e para o qual não há certeza quanto a sua data de fundação. A mesma incerteza prevalece em relação a outras fundações, como a “hospitalia Scothorum”, estabelecida no continente pelos monges irlandeses, que havia entrado em decadência, mas o Concílio de Meaux (845) ordenou sua restauração. Na Espanha, a instituição mais importante para o cuidado dos doentes foi fundada em 580 pelo bispo Masona em Augusta Emerita (Mérida), uma cidade na província de Badajoz. A partir do relato feito por Paulo, o Diácono, sabemos que o bispo dotou este hospital com uma receita de grande porte, médicos e enfermeiros, e deu ordens para que onde quer que eles encontrassem um homem doente "escravo ou livre, cristão ou judeu", deveriam trazê-lo para o hospital e lhes fornecesse cama e alimentação adequada (Florez, "España Sagrada", XIII, 539; Heusinger, "Em Beitrag", etc, em "Janus", 1846, I). IDADE MÉDIA Guenter Risse, Ph.D., historiador da ciência e medicina, em “A History of Hospitals”, mostra que quando caiu o império romano do ocidente (476), os mosteiros assumiram cada vez mais os cuidados dos doentes na Europa e por vários séculos. Esses mosteiros se tornaram verdadeiras escolas de medicina entre os séculos V e X, chamado de período da medicina monástica (Felipe Aquino, 2008). Durante o período de declínio e de corrupção que culminou com o reinado de Carlos Martelo (668-741), os hospitais, assim como outras instituições eclesiásticas, sofreram consideravelmente. Mas no reinado de Carlos Magno (747-814), entretanto, junto com suas outras reformas, foram tomadas sábias providências para o cuidado dos enfermos, decretando que os hospitais que tinham entrado em decadência deveriam ser restaurados de acordo com as necessidades do momento (Capit. duplex, 803, c. III). Ele ainda ordenou que um hospital deveria ser anexado a cada catedral e mosteiro. Hincmar em seu "capitula ad presbyteros" (Harduin, Y, 392) exortava seus clérigos a suprir as necessidades dos doentes e os pobres. Nesse período, os mosteiros se destacaram como os principais centros de estudo e transmissão dos textos antigos de medicina. Não obstante estas medidas, seguiu-se, após a morte de Carlos Magno, um novo período de decadência marcado por abuso generalizado e desordem, e muitos dos cuidados aos pobres que eram feitos nas paróquias das igrejas migrou para os mosteiros. Em cada lugar onde surgia um mosteiro formavam-se centros de vida religiosa organizada com escolas, modelos para a agricultura, indústria, piscicultura, reflorestamento, proteção aos viajantes, alívio para os pobres, órfãos, cuidado dos doentes, e atividade cultural (Felipe Aquino, 2008). Os hospitais sofriam de várias maneiras, especialmente através da perda de suas receitas que foram confiscadas pelos Reis ou desviadas para outros fins. Em uma carta a Luís, o Piedoso, escrita por volta de 822, Victor, bispo de Chur, reclama que os hospitais estavam sendo destruídos. Mas, mesmo nestas condições desfavoráveis muitos dos bispos se distinguiram, entre eles Ansgar, o arcebispo de Hamburgo (falecido em 865), que fundou um hospital em Bremen o qual ele visitava diariamente. Durante o século X os mosteiros tornaram-se um fator dominante nos trabalhos hospitalares. A famosa abadia beneditina de Cluny, fundada em 910, tornou-se um exemplo que foi amplamente imitado por toda a França e Alemanha. Além de sua enfermaria para os religiosos, cada mosteiro tinha um hospital (Hospitale pauperum, ou E leemosynaria) que atendia as pessoas externas ao mosteiro. Os monges eram responsáveis por funções, cuidadosamente prescritas por uma regra de conduta, que detalhava cada tipo de serviço que um visitante ou paciente poderia precisar. Como eles também se incumbiam de procurar doentes e necessitados nas vizinhanças, cada mosteiro se tornou um centro para de alívio do sofrimento. Entre os mosteiros mais famosos desse tipo pode-se citar os dos monges beneditinos em Corbie na Picardia, Hirschau, Braunweiler, Deutz, Ilsenburg, Liesborn, Prum, e Fulda, e os dos monges Cistercienses em Arnsberg, Baumgarten, Eberbach, Himmenrode, Herrnalb, Volkenrode e Walkenried. Não menos eficiente foi o trabalho realizado pelo clero diocesano, em acordo com os atos disciplinares dos Concílios de Aachen (anos 817 e 836), que prescreviam que um hospital deveria ser mantido em conexão com cada igreja colegiada. Os clérigos eram obrigados a contribuir para manter o hospital. Como esses hospitais eram geralmente localizados nas cidades, tinham uma procura maior do que os hospitais ligados aos mosteiros. Nesse movimento de criação desses hospitais o bispo tomava a liderança, daí muitos hospitais terem sido fundados por bispos, como Heribert (falecido em 1021) em Colônia, Godard (falecido em 1038) em Hildesheim, Conrad (falecido em 975) em Constance e Ulrich (falecido em 973) em Augsburg. Mas disposições semelhantes eram encontradas em outros clérigos. Assim, os hospitais de São Maximiniano, São Mateus, São Simeão e São Tiago levaram os nomes das igrejas aos quais estavam anexados. Durante o período de 1207-1577 cerca de 155 hospitais foram fundados na Alemanha (cfr. Virchow, in: "Gesch. Abhandl.", II). AS ORDENS HOSPITALARES O surgimento de confrarias e ordens religiosas com a finalidade de ajudar os doentes é uma das fases mais importantes na história do desenvolvimento dos hospitais. A primeira delas surgiu em Siena (Toscana, Itália) no final do século IX, com a fundação do hospital de Santa Maria della Scala e a elaboração de suas regras. A gestão desses hospitais ficava em grande parte nas mãos dos cidadãos, embora sujeito ao controle do bispo. Instituições similares, na maioria das vezes regida pela Regra de Santo Agostinho, surgiram em todas as partes da Itália. Nos países do norte (Bélgica, França e Alemanha) algumas ordens religiosas fundadas no fim do século XII incluíam em seus objetivos a caridade e o cuidado dos doentes. Nessa época, Santa Isabel da Hungria fundou dois hospitais em Eisenach e um terceiro em Wartburg. Além da ordem dos Antoninos, que seguiam o regimento da Ordem de Santo Antonio, a ordem mais importante surgida durante este período foi a Ordem do Espírito Santo. Por volta de meados do século XII (c. 1145) Guy de Montpellier abriu um hospital em honra do Espírito Santo e prescreveu as Regra de Santo Agostinho para os irmãos encarregados de mantê-lo. Aprovado em 23 de abril de 1198 pelo Papa Inocêncio III, esse instituto se espalhou rapidamente por toda a França. Em 1204 esse mesmo papa construiu um hospital chamado de Santa Maria, em Sassia. Por ordem do papa, Guy de Montpellier foi para Roma e assumiu o comando do hospital, que dali em diante passou a chamar-se Hospital do Espírito Santo (Cf. Morichini, "Instituti di Carita”, in: Roma, 1870). O exemplo do Papa foi imitado por toda a Europa. Quase todas as cidades tinham um hospital do Espírito Santo, embora nem todas as instituições que levavam esse nome pertencessem à ordem que Guy de Montpellier havia fundado.
AS ORDENS MILITARES As Cruzadas deram origem a várias ordens de cavalaria que combinavam o serviço militar com o cuidado dos doentes. A mais antiga delas foi a Ordem dos Cavaleiros de São João (Hospitaleiros). Vários hospitais foram fundados em Jerusalém para fornecer cuidados aos peregrinos. O mais antigo foi o da abadia beneditina de Santa Maria Latina, fundado na época de Carlos Magno no ano 800. Os “Hospitais de São João” impressionavam pelo profissionalismo, onde se realizavam até pequenas cirurgias e os doentes recebiam visitas de médicos duas vezes ao dia, banhos, refeições e roupas. Esses hospitais foram modelos para a Europa (Felipe Aquino, 2008). Em todo o caso, quando a Primeira Cruzada chegou a Jerusalém em 1099, Gerhard, superior de um hospital, comandou a construção de um novo edifício perto da igreja de São João Batista, de onde aparentemente a ordem obteve seu nome. Essas ordens espalharam-se rapidamente na Terra Santa e na Europa, especialmente nos portos do Mediterrâneo que estavam cheios de cruzados. Sua finalidade original era o trabalho hospitalar. De acordo com John de Wisburg (ano de 1160, cfr. Pez, "Anecdota", I, 3, 526) o hospital em Jerusalém cuidava de mais de 2.000 pacientes. O aspecto militar foi introduzido em meados do século XII. Em ambos os casos por um tempo a Ordem prestou um excelente serviço, mas durante o século XIII o aumento da riqueza e o desleixo moral provocaram um declínio e, com isso, o zelo e o cuidado dos doentes foi em grande parte abandonados. A Ordem Teutônica desenvolveu-se nos hospitais de campo, sob as muralhas de Acre, em que o conde Adolf de Holstein, com outros cidadãos alemães (oriundos de Bremen e Lubeck) cuidavam dos doentes e feridos. Sob o nome de "Domus Hospitalis S. Mariae Teutonicorum in Ier usalem” foi aprovada por Clemente III em 1191. Seus membros faziam voto de serviço a os doentes e sua norma prescrevia que onde quer que a ordem fosse introduzida deveria se construir um hospital. O centro da sua atividade, no entanto, logo foi transferido da Terra Santa para a Europa, especialmente para a Alemanha onde, devido à sua organização rígida e excelentes métodos administrativos, foram encarregados de cuidar dos muitos hospitais já existentes. Entre os seus numerosos estabelecimentos, os de Elbing e Nuremberg gozavam da mais alta reputação. Entretanto, apesar de uma gestão prudente e da lealdade para com seus propósitos originais, a Ordem Teutônica sofreu severamente devido a perdas financeiras e à guerra e ao final do século XV seu vigor primitivo estava bastante desgastado. HOSPITAIS NAS CIDADES As Cruzadas, abrindo uma comunicação mais livre com o Oriente, instauraram um ambiente comercial por toda a Europa e, em consequência, as cidades, distintas da propriedade feudal e das aldeias, começaram a surgir. As condições econômicas daí decorrentes afetaram o desenvolvimento dos hospitais de duas maneiras. O aumento da população nas cidades necessitava a construção de numerosos hospitais, por outro lado, havia uma maior abundância de recursos para os trabalhos de caridade. Fundações dirigidas por leigos tornaram-se mais frequentes. Indivíduos movidos pelo espírito público, corporações, irmandades e governos municipais apoiaram o surgimento de novos hospitais. Neste movimento as cidades italianas foram as mais importantes. Monza no século XII tinha três hospitais, Milão tinha onze e Florença trinta (século XIV). Os mais famosos foram: La Santa Casa di Santa Maria Annunziata, em Nápoles, fundado em 1304 pelos irmãos Nicolo e Scondito Giacomo; Santa Maria Nuova, em Florença (1285) fundado por Falco Portinari (o pai da Beatriz na obra de Dante) e o Maggiore Ospedale em Milão (1456) pelo duque Francesco Sforza e sua esposa Bianca Maria. As cidades alemãs não foram menos ativas: Stendal tinha sete hospitais; Quedlinburg, quatro; Halberstadt oito; Magdeburg, cinco; Halle, quatro; Erfurt, nove; Colônia, dezesseis (cf. Uhlhorn, II, 199 ss). Quanto à parte que os governos municipais tiveram nesse movimento, as opiniões divergem. Alguns autores (Uhlhorn, Ratzinger) sustentam que, na maioria dos casos, o hospital da cidade era fundado e mantido pelas autoridades da cidade, enquanto outros (Lallemand, II, 51) declaram que, entre os séculos XII e XVI, relativamente poucas fundações foram feitas pelos municípios, embora muitas vezes apoiassem a iniciativa privada com terras e subvenções, ou assumiam a direção dos hospitais uma vez estes eram estabelecidos. No entanto, é inquestionável que nesse período houve uma passagem frequente do controle dos hospitais para as mãos dos governos dos municípios, especialmente na Itália e na Alemanha. Normalmente essa transferência era facilmente efetuada com base num acordo entre o superior do hospital e as autoridades civis, como ocorreu, por exemplo, em Lindau (1307), Lucerna (1319), Frankfurt (1283) e Colônia (1321). Em certos casos, quando havia algum litígio quanto ao acordo de transferência, o assunto era submetido à uma autoridade eclesiástica mais alta. Assim, o hospital Espírito Santo em Gottingen foi entregue ao município por ordem do Concílio de Basiléia em 1470 (Uhlhorn, loc. Cit.). Essas transferências, deve-se notar, não implicavam em nenhuma oposição à autoridade eclesiástica. Eram resultado do desenvolvimento geral que obrigavam as autoridades de cada cidade a cuidar da gestão das instituições das quais o bem público em grande medida dependia. Sobre essa transferência de administração não havia a questão da secularização, no sentido moderno do termo. Muito menos ocorreu de a Igreja proibir clérigos de qualquer participação no controle de hospitais, apesar de alguns autores modernos tentarem interpretar dessa forma o decreto do Concílio de Viena, de 1311. Em resposta à Frere Orban (pseudônimo de Jean Vaudamme, "La main Morte et la Charité", Bruxelas, 1857), Lalletnand (II, 106 ss) aponta que o que o conselho fez foi proibir conferir a atribuição de hospitais e sua administração a clérigos a título de benefício ("nullus ex locis ipsis saecularibus clericis em beneficium conferatur"). O decreto visava evitar a possibilidade de desvio de fundos do hospital de seu propósito original de caridade para o benefício pessoal de indivíduos. Por outro lado, o Conselho de Ravena, no mesmo ano (1311), considerando o desperdício e malversação de receitas de hospitais, ordenou que a gestão, supervisão e controle dessas instituições deveria ser dado exclusivamente a pessoas religiosas. Na França, o movimento em favor do controle secular avançou muito mais lentamente. O Rei Filipe Augusto, em 1200, decretou que todos os hospitais e seus fundos financeiros deveriam ser administrados pelo bispo ou algum outro eclesiástico. O Conselho de Paris (1212) tomou medidas para reduzir o número de atendentes nos hospitais que, como os bispos declaravam, foram feitos para servir os doentes e não para o benefício das pessoas de boa saúde. No Concílio de Arles (1260) foi promulgada, em vista da ocorrência de abusos, que os hospitais deviam ser colocados sob a jurisdição eclesiástica e conduzidas por pessoas que deveriam "levar uma vida comunitária, apresentar relatórios anuais de sua administração e não reter para si nada além de alimentos e roupas" (can. 13). Decretos semelhantes foram emitidos pelo Conselho de Avignon (1336). Mas os protestos dos sínodos e bispos eram de pouca valia contra a desordem crescente. Mesmo o Hôtel-Dieu de Paris (“Hotel de Deus”), que na maior parte do tempo tinha sido bem gerido, começou no século XV a sofrer com graves abusos. Depois de várias tentativas de reforma, o responsável por Notre-Dame solicitou às autoridades municipais assumirem a administração do hospital (Abril, 1505). Assim, uma diretoria composta de oito pessoas, delegados do município, foi nomeado e, com a aprovação do tribunal, assumiu a administração do Hôtel-Dieu (Lallemand, II, 112). GRÃ-BRETANHA E IRLANDA Nestes países, o cuidado dos doentes foi por um longo tempo confiado às ordens monásticas. Cada mosteiro, conforme as regras provindas do Continente, proviam o tratamento tanto de seus próprios membros quanto das pessoas da vizinhança que ficavam doentes. No “Penitencial de Teodoro” (668-690) lemos (VI, 15): "em potestate et libertate est monasterii susceptio infirmorum em monasterium", ou seja, o mosteiro era livre para receber em suas dependências os doentes. De acordo com Harduino (IV, 864) um grande hospital foi fundado em St. Albans em 794. Um pouco mais tarde (796) Alcuino escreveu para Eanbald II, Arcebispo de York, exortando-o a ter em mente a fundação de hospitais onde os pobres e os peregrinos pudessem achar proteção e socorro (Haddan e Stubbs, "Conselhos", Oxford, 1871, III, 504). Os governantes dessa época também foram generosos neste aspecto. Em 936 o rei Athelstan, regressando de sua bem-sucedida campanha contra os escoceses, fez doações para os clérigos da Catedral de São Pedro, em York, que foram usadas para fundar um hospital. Este foi conhecido inicialmente como Hospital de São Pedro, e depois como de São Leonardo, que foi o nome da igreja construída no hospital pelo Rei Stephen. Possuía 206 leitos e era cuidado por um mestre, treze irmãos, quatro seculares, oito irmãs, trinta cantores e seis membros da ordem dos mendicantes. O Arcebispo Lanfranc, em 1084, fundou o hospital de São Gregório do lado de fora do portão norte de Canterbury e dotou-o com terras e outras receitas. Era uma casa grande, construída de pedra e dividida em duas seções, uma para homens e outra para mulheres. No início do século XII (1123?), Hospital de São Bartolomeu foi fundado por Rahere, que tinha sido bufão na corte do rei Henrique I, mas havia ingressado em uma comunidade religiosa e agraciado pelo rei com uma concessão de terras em Smoothfield, perto de Londres. Este continuou a ser o hospital mais importante de Londres até ser confiscado pelo rei Henrique VIII. O Hospital da Santa Cruz, em Winchester, foi fundado em 1132 por Henry de Blois, meio-irmão do rei Stephen. E o Hospital de Santa Maria, em 1197, por Walter Brune, cidadão de Londres, e sua esposa Roesia. Este último tinha 180 leitos para pessoas doentes e viajantes na época da Dissolução. A Dissolução dos Mosteiros foi um conjunto de processos administrativos e legais ocorridos entre 1536 e 1541 pelo qual Henrique VIII dissolveu os mosteiros, priorados, conventos e fraternidades católicos da Inglaterra, País de Gales e Irlanda, apropriando-se da renda e dos bens de seus fundadores (incluindo aí os hospitais). Em 1215, Pedro, bispo de Winchester, fundou o hospital São Tomé, em Londres, que também foi confiscado por Henrique VIII, mas foi re-estabelecido por Edward VI. Atualmente, os hospitais de São Bartolomeu e São Tomé estão entre os hospitais mais importantes de Londres. A lista de hospitais fundados pela Igreja Católica na Inglaterra é longa. Tanner em seu "Notitiae" menciona 460. Para saber sobre seus estatutos e outros documentos, ver Dugdale ("Monasticon Anglicanum", nova ed., Londres, 1846, VI, pt. 2). Essas instituições estavam sob jurisdição episcopal, como pode ser visto na promulgação do Conselho de Durham (1217): "aqueles que desejam fundar um hospital devem receber de nós as suas regras e regulamentos" (Wilkins, I, 583). No entanto, abusos começaram a ocorrer, tanto que um texto enviado pela Universidade de Oxford ao reio Henrique V, em 1414, queixava-se de que pobres e doentes foram expulsos de hospitais e deixados sem recursos, enquanto os mestres e os superintendentes apropriaram-se das receitas financeiras (Wilkins, III, 365). Na Escócia, 77 hospitais foram fundados antes da Reforma; Glasgow tinha dois, Aberdeen quatro, Edinburgh cinco. O hospital Santa Maria Madalena, em Roxburgh, foi fundado pelo Rei David I (1124-1153); o Sagrada Trindade, em Soltre, pelo rei Malcolm IV (1153-1163); o de Rothean por John Bisset em 1226; Hollywood em Galloway pelo irmão de Robert Bruce Edward (falecido em 1318); Santa Maria Madalena, em Linlithgow, por James I (1424-1437). Aos três hospitais existentes em Aberdeen, o Bispo Gavin Dunbar (1518-1532) acrescentou um quarto. Os hospitais ficavam geralmente sob direção de um mestre, assistido por enfermeiros. Havia também um capelão disponível, e os enfermos eram incentivados a orar diariamente por seus fundadores e benfeitores (Bellesheim, "História da Igreja Católica na Escócia", Edinburgh, 1887, II, 185, 417; Walcott, "A Igreja Antiga da Escócia", Londres, 1874). A existência de numerosos hospitais na Irlanda é atestado pelos nomes de cidades como Hospital, Spital, Spiddal, etc. O hospital era conhecido como “Forus tuaithe” , ou seja, a casa do território, para indicar que cuidavam dos doentes em um dado distrito . As chamadas Leis de Brehon previam que o hospital devia estar livre de dívidas, teria quatro portas, e deveria haver um fluxo de água que passasse por ali (Leis, I, 131). Cães, loucos e mulheres rabugentas deveriam ser mantidos longe do paciente para que ele evitasse preocupações (ibid.). Quem quer que injustamente infligisse ferimentos em outra pessoa teria de pagar pelos seus cuidadoso médicos, quer em um hospital ou numa casa particular. No caso de a pessoa ferida ser encaminhada a um hospital, sua mãe, se viva e disponível, deveria ir com ele (ibid., III, 357; IV, 303, 333, ver também Joyce, "Uma História Social da Irlanda Antiga", Londres, 1903, I, 616 ss). Numa etapa posterior, os Cavaleiros de São João fundaram um grande número de hospitais, sendo o mais importante destes fundado no Priorado de Kilmainham, em 1174, por Richard Strongbow. No final do século XII, diversos estabelecimentos hospitalares fundados por essa ordem podiam ser encontrados em várias partes da Irlanda. Por volta de 1220, Henry Loundres, Arcebispo de Dublin, fundou um hospital em honra de Deus e São Tiago em um lugar chamado Steyne, perto da cidade de Dublin, e dotou-o com terras e receitas. O Priorado de São João Batista estava localizado em na rua St. Thomas, perto do portão oeste da cidade. Por volta do fim do século XII, Ailred de Palmer fundou ali um hospital para os doentes. Em 1361, ao saber que o hospital cuidava de 115 doentes pobres, o rei Edward III concedeu-lhe uma concessão de terras por 20 anos. Esta concessão foi renovada em 1378 e em 1403. Por volta do ano 1500, Walter, Arcebispo de Dublin, concedeu um terreno para que se construísse uma casa para cuidar de dez homens pobres. Em 8 junho de 1504, John Allen, então decano da Catedral de St. Patrick, fundou o hospital p ara o pobre doente, a ser escolhido, principalmente, das famílias de Allen, Barret, Begge, Hill, Dillon e Rodier, nas Dioceses de Meath e Dublin e para ser fiéis católicos, de boa fama, e conversa honesta. Ele atribuiu terras para o seu apoio e manutenção, e ainda dotou o hospital com uma mensagem na cidade de Duleek, no condado de Meath (Archdall, "Monasticon Hibernicum", Londres, 1786). Após a Reforma, todos esses fundos e instituições de caridade tornaram-se propriedade da Igreja Protestante da Irlanda. A fomes e as epidemias, que atormentavam esses países durante a Idade Média, propiciaram a criação de um número considerável de instituições de caridade, em particular as casas para leprosos. Este nome, entretanto, muitas vezes denominavam hospitais que cuidavam tanto de pacientes normais como de pessoas doentes por lepra, visto que, tendo sido originalmente inaugurado como casa de um leproso, tornou-se um hospital geral quando a epidemia de lepra diminuiu. Havia alguns hospitais de leprosos na Irlanda, mas não é fácil distingui-los, em todos os casos, dos hospitais gerais para os pobres doentes. Assim, o hospital construído pelos monges de Innisfallenin, em 869, normalmente era chamado de “nosocomium”, embora seja considerado uma das primeiras fundações para cuidados de leprosos na Irlanda. Um hospital em Waterford foi "confirmado para os pobres" pelos monges beneditinos em 1185. St. Stephen em Dublin (1344) é especialmente considerado como uma residência para "leprosos pobres da cidade", construído por volta de 1360-1370. Uma localidade da cidade chamada Leper-hill foi talvez o local de outro refúgio. Leprosos também podem ter sido os ocupantes de hospitais em Westmeath (St. Bridget), o de Santa Maria Madalena em Wexford (anteriores a 1408), e de Lismore (1467), em Downpatrick, na Kilclief em County Down, em Cloyne, e de um ou mais dos quatro hospitais de idade em ou perto de Cork. O hospital em Galway foi construído "para os pobres da cidade", por volta de 1543, e não era uma casa para leprosos, nem há razão para considerar o antigo hospital em Dungarran como especialmente para leprosos (Creighton, "A História de epidemias em Grã-Bretanha", Cambridge, 1891, p. 100). AÇÃO DO PAPADO Inúmeros documentos pontifícios atestam o interesse e zelo dos papas em relação aos hospitais. Dessa forma, a Santa Sé estendia seu favor e proteção para as empresas de caridade dos fiéis, a fim de garantir o seu sucesso e para protegê-los contra ameaças de qualquer origem. Esses documentos concediam a permissão aos hospitais para ter uma capela, um capelão e um cemitério próprios. Isentava os hospitais da jurisdição episcopal, tornando-os imediatamente sujeitos à Santa Sé; aprovava estatutos, intervinha para corrigir abusos, defendia os direitos de propriedade dos hospitais, e obrigava a restituição de suas terras caso estas tivessem sido injustamente alienadas ou apreendidas. Em particular, os papas eram liberais na concessão de indulgências, por exemplo, para os fundadores e patronos, para aqueles que rezavam na capela do hospital ou cemitério, a todos os que contribuem quando um apelo era feito para apoiar o hospital, e a todos os que prestavam os seus serviços de enfermagem aos doentes (Lallemand, op cit., III, 92 ss; Uhlhorn, op. cit., II, 224). CARACTERÍSTICAS DOS HOSPITAIS MEDIEVAIS Não é possível dar conta de detalhes que descrevem com precisão cada uma dessas instituições, pois elas diferem muito em tamanho, administração, e equipamentos. A característica em comum era o esforço para fazer o melhor possível para atender o doente em cada circunstância e naturalmente cada hospital melhorava de forma diferente, em um ou outro aspecto, com o passar do tempo. Certas características fundamentais, no entanto, foram mantidas durante toda a Idade Média, ilustrando o desenvolvimento e a disseminação de boas práticas. Por exemplo, havia sempre a preocupação em garantir uma boa localização para essas instituições, de preferência às margens de um rio. O Hôtel-Dieu de Paris era próximo ao rio Sena; o Santo Spirito, em Roma, perto do rio Tibre; o São Francisco, em Praga, perto do rio Moldau; os hospitais de Mains e Constance, perto do rio Reno; o Ratisbona, perto do rio Danúbio. Em alguns casos, como em Fossanova e Beaune, um curso de água passava por baixo do edifício. Muitos dos hospitais, particularmente os menores, eram localizados na porção central da cidade ou vila, com fácil acesso para as pessoas das classes mais pobres. Outros ainda, como Santa Maria Nuova, em Florença, e um bom número dos hospitais ingleses, foram construídos fora dos muros da cidade com o propósito expresso de proporcionar melhor ar para os enfermos e evitar a propagação de doenças infectocontagiosas de todos os tipos. A respeito das construções em si, deve-se notar que muitos dos hospitais acomodavam apenas um pequeno número de pacientes (sete, quinze ou 25), o limite era geralmente determinada pelos recursos do fundador ou benfeitor. E m alguns casos, tratava-se de uma moradia particular ou no máximo um edifício de dimensões modestas. Mas quanto maior eram os recursos disponíveis maiores eram os investimentos feitos, e alguns hospitais eram planejados por hábeis arquitetos e construídos em uma escala maior. A ala principal do Hospital Espírito Santo, em Roma, tinha 409 pés de comprimento por 40 pés de largura; a do hospital de Tonnerre, 260 pés por 60; o de Angers, 195 pés por 72; o de Ghent, 180 pés por 52; em Frankfurt, 130 pés por 40, em Chartres, 117 pés por 42. Em hospitais desse tipo, uma fonte abundante de luz e ar era fornecida por grandes janelas, que possuíam sua parte superior fixa enquanto a parte inferior podia ser aberta ou fechada. Em alguns casos (por exemplo, o hospital do Espírito Santo, em Roma), foi adicionado uma cúpula que subia do meio do teto e era apoiada por colunas graciosas. O interior geralmente era decorado com nichos, pinturas e mancais. A mesma habilidade artística que adornava as igrejas era utilizada para embelezar as enfermarias dos hospitais. O hospital de Siena "constitui um exemplo da arquitetura dos edifícios do período, com um magnífico conjunto de afrescos, alguns deles do século XIV, e muitos outros de séculos mais tarde" (Gardner, "História de Siena", Londres, 1902).
As camas eram separadas por divisórias baixas que garantiam a privacidade dos enfermos, mas podiam ser movidas para o lado, de modo a permitir que os pacientes pudessem assistir à missa que era celebrada no final da ala. Este arranjo, de uma capela em conexão com a ala principal, foi adotado em muitos estabelecimentos, e o sistema de alcova não era tão frequentemente encontrado, com as camas colocadas, via de regra, em várias fileiras em um grande salão aberto. A construção de hospitais chegou a um alto grau de perfeição em meados do século XV. Provavelmente o melhor exemplo disso é o famoso hospital de Milão, fundado em 1445, embora só tenha sido concluído no final do século XV. O Dr. W. Gill Wylie, em seu trabalho sobre a história dos hospitais (“Hospitals Their History, Organization and Construction”, Boylston Prize-Essay of Harvard University for 1876), disse: "Em 1456 o Hospital Grande de Milão foi fundado. Este edifício notável ainda está em uso como um hospital geral e contém mais de 2.000 pacientes”. “As construções eram feitas em forma de quadrados, sendo a principal delas muito maior que as outras, e separava o hospital em duas partes. As alas principais de ambos os lados formam uma grande cruz, no centro da qual havia uma cúpula, com um altar abaixo dela, onde o serviço religioso era realizado diariamente à vista dos pacientes. Estas alas tinham corredores em ambos os lados que não tinham altura tão elevada como as enfermarias, mas havia uma abundância de espaço para janelas acima destas passagens. Os tetos ficavam a trinta ou quarenta pés de altura, e o chão era coberto com tijolos vermelhos. Fora das enfermarias haviam corredores espaçosos. As enfermarias eram aquecidas por braseiros de carvão. Este hospital foi construído no momento em que a Igreja de Roma estava no auge de seu poder, pouco tempo antes da Reforma Protestante, e é um bom exemplo do quanto havia sido alcançado no desenvolvimento dos hospitais e mostra o quanto tudo isso foi devido à Igreja” . A administração do hospital, quando este fazia parte de um mosteiro, estava naturalmente nas mãos do abade ou prior e seus pormenores eram prescritos por regras monásticas. Também os estatutos ordens hospitalares (Cavaleiros) regulamentavam minuciosamente os deveres do "Comandante" que dirigia cada hospital. Em outras instituições o funcionário responsável era conhecido como magister, provisor, ou reitor. Este último título era usado na Alemanha, para o designar o superior, no caso de ele ser um padre, enquanto na Itália, era usado o título de spedalingo . Esses funcionários eram nomeados pelo bispo, pelo chapter , ou pela municipalidade, às vezes pelo fundador ou patrono. Leigos, bem como clérigos, eram elegíveis. Os regulamentos mais adotados foram os da Ordem de São João de Jerusalém, a Regra de Santo Agostinho e a dos dominicanos. O primeiro dever do reitor ou magister , ao assumir o cargo, era fazer um inventário dos bens e equipamentos do hospital. Além da superintendência geral do hospital, ele era responsável pelas contas e por toda a administração financeira, incluindo as propriedades do próprio hospital e os depósitos em dinheiro que muitas vezes eram confiados a ele para manter em segurança. Era também seu dever receber cada paciente e atribuir-lhe um lugar adequado no hospital. Os irmãos e irmãs estavam ligados por os votos de pobreza, castidade e obediência que recebiam das mãos de um sacerdote. Como em todos os estabelecimentos religiosos, a lista de direitos e deveres era estritamente prescrita, assim como também os detalhes de vestimentas, recreação e alimentação. Nenhum funcionário do hospital era autorizado a sair desacompanhado. Penalidades eram infligidas a quem violasse essas regras. Na recepção de pacientes, a maior caridade possível era mostrada. Como descreve Coyecque (Op. cit, I, p. 63) sobre o “Hotel de Deus” (Hôtel-Dieu) de Paris: "soldados e cidadãos, religiosos e leigos, judeus e maometanos, eram encaminhados em caso de necessidade para o Hôtel-Dieu , e todos os que traziam as marcas da pobreza e da miséria eram admitidos; não havia outra exigência". Além disso, os funcionários do hospital eram obrigados, de tempos em tempos, a ir para as ruas e trazer aqueles que precisavam de tratamento. Ao entrar no hospital, o paciente, se fosse cristão, fazia a confissão e recebia a Sagrada Comunhão, a fim de que a paz de espírito pudesse beneficiar sua saúde corporal. Uma vez admitido, ele era tratado quase como um dono da casa (quase domingos secundo posse domus), conforme os estatutos mandavam. Conforme sua capacidade, os doentes exerciam as funções de oração, participavam da Missa e recebiam os sacramentos. Eles recebiam a recomendação de orar por seus benfeitores, pelas autoridades, e por todos os que podiam estar em perigo. À noite, recitavam orações nas enfermarias. Eles eram frequentemente animados com a visita de pessoas ilustres ou da nobreza, que tinham disposição de caridade, como foram exemplos a rainha Catarina da Suécia, Margaret, Rainha da Escócia, Margaret, duquesa de Lorraine, e o rei Luís IX da França. A regulamentação relativa ao bem-estar físico dos enfermos prescrevia que o paciente nunca devia ser deixado sem um atendente (Amiens, XXXV); que os enfermeiros deviam estar de plantão em todas as horas do dia e da noite; que caso a doença se tornasse mais grave o paciente deveria ser removido da enfermaria para um quarto privado e receber atenção especial (Paris, XXII; Troyes, I, XXXIII; Vernon, XI). O hospital de Santa Maria Nuova, em Florença tinha uma seção separada (pazzeria) para os pacientes delirantes. Disposição semelhante era feita para os casos de maternidade, e as pacientes eram mantidas no hospital por três semanas após o parto. Uma devida atenção era dada à limpeza e conforto, como mostram os registros da época que tratam de banhos, camas, lençóis, ventilação e aquecimento por meio de lareiras ou braseiros. O tratamento médico era ministrado por monges ou outros eclesiásticos, ao menos no início do tratamento. A partir do século XII em diante algumas restrições foram colocadas sobre a prática da medicina por clérigos, especialmente em relação a operações cirúrgicas, bastante severas no que dizia respeito à aceitação de pagamento para atendimento dos doentes - ver os decretos dos concílios: Clermont (1130), Reims (1131), segundo e quarto de Latrão (1139 e 1215). Às vezes, era necessário um médico ou cirurgião mais especializado para atender certos casos. Passou a ser mais comum o surgimento de escolas de medicina nas universidades, como em Salerno e Montpellier. Um documento importante é o relatório enviado em 1524 a partir de Santa Maria Nuova, em Florença, para o rei Henrique VIII, que, querendo reorganizar os hospitais de Londres, tinha procurado informações sobre a famosa instituição florentina. A partir desse documento sabe-se que três jovens médicos ficavam residentes (adstantes) no hospital, no atendimento constante aos enfermos e faziam um relatório diário sobre a condição de cada paciente enviados a médicos da cidade que davam prescrições ou ordenavam modificações no tratamento. Anexado ao hospital havia um dispensário (medicinarium) para o tratamento de úlceras e outras doenças leves. Este era coordenado pelo principal cirurgião da cidade e três assistentes, que davam seus serviços gratuitamente aos moradores carentes e lhes forneciam os remédios da farmácia do hospital. Um relato interessante das funções do farmacêutico, com uma lista dos medicamentos à sua disposição, é dado por Lallemand em sua obra “A história da caridade” (L'Histoire de la Charité, II, 225). Para atender suas despesas, cada hospital tinha seus próprios meios de investimento, na forma de terras, por vezes de aldeias inteiras, fazendas, vinhedos e florestas. Suas receitas eram às vezes aumentadas por impostos especiais sobre produtos como óleo, trigo e sal; por contribuições regulares de associações de caridade; e pela renda das igrejas sob seu controle. Em muitos casos, as leis diocesanas obrigavam cada um dos clérigos a contribuir para o apoio do hospital. Os leigos também contribuíam, com liberalidade, quer para os objetivos gerais do hospital como para suprir alguma necessidade especial, tais como aquecimento, iluminação ou provisões. Não era incomum um benfeitor doar uma ou mais camas, ou para contribuir com uma renda anual, o que lhe garantia cuidados e tratamento em caso de necessidade. Frequentemente a generosidade do hospital e de seus patronos era abusada, por exemplo, por simuladores ou vagabundos, e regras mais estritas em matéria de admissão tornaram-se necessárias. Em alguns casos o número de atendentes era excessivo, em outros, o hospital era incapaz de fornecer uma cama separada para cada paciente. Apesar destes inconvenientes, "temos muito a aprender com a caluniada Idade Média - muito do que nós, com meios muito mais abundante, poderíamos fazer por causa de Deus e do homem" (Virchow, Abhandl. II, 16). PERÍODO PÓS-REFORMA Os prejuízos infligidos a todo o sistema de instituições de caridade pela reviravolta do século XVI, foram desastrosos em muitos aspectos para o trabalho dos hospitais. A dissolução dos mosteiros, especialmente na Inglaterra, privou a Igreja, em grande medida, dos meios para ajudar os doentes e da organização através da qual esses meios eram empregados. Espoliações semelhantes ocorreram na Alemanha tão rapidamente com a introdução da nova religião que os próprios reformadores se encontraram em dificuldades para fornecer qualquer coisa que servisse de substituto para as antigas fundações católicas. O próprio Lutero confessou mais de uma vez que, sob o papado, generosas ofertas eram feitas para todas as classes de sofrimento, enquanto que entre os seus próprios seguidores, ninguém contribuía para a manutenção dos doentes e dos pobres (Sammtl. Werke, XIV, 389-390; XIII , 224-225). Como resultado, os hospitais nos países protestantes foram rapidamente secularizados, embora esforços não faltassem, por parte das paróquias e municípios, para obter fundos para fins caritativos (Uhlhorn, III). A Igreja, entretanto, embora privada das receitas necessárias, tomou medidas enérgicas para restaurar e desenvolver o sistema hospitalar. O humanista J.L. Vives (“De subventione pauperum”, Bruges, 1526) declarou que por disposição divina, cada um deveria comer o seu pão depois de ganhá-lo com o suor de sua testa, que os magistrados deveriam analisar quem entre os cidadãos eram capazes de trabalhar e os que realmente são desamparados. Para os hospitais em particular, Vives recomendava uma economia rígida em sua administração, uma melhor prestação de atendimento médico e uma mais justa repartição dos fundos disponíveis através do qual o excedente das instituições mais ricas deveriam ser distribuídas às mais pobres. O plano de Vives foi primeiro colocado em execução em Ypres, na Bélgica, e depois expandido por Charles V para todo o império (1531). Ainda mais decisiva foi a ação tomada pelo Conselho de Trento, que renovou os decretos de Viena e, além disso ordenou que todas as pessoas encarregadas da administração de um hospital deveriam realizar uma rigorosa prestações de contas e, em caso de ineficiência ou irregularidade no uso dos fundos, não só deveriam estar sujeitos a censura eclesiástica, mas também deveriam ser afastados do cargo e obrigados a fazer a restituição (Sessão XXV, c. viii, De Reform.). O mais importante, no entanto, dos decretos tridentinos foi o que colocou o hospital sob controle episcopal e proclamou o direito do bispo de visitar cada instituição, a fim de verificar se é bem gerida e se cada um ligado a ele cumpre fielmente seus deveres (Sessão XXII, c. viii, De Reforma, Sessão VII, c. xv, De Reforma). Esses decretos foram repetidos por sínodos provinciais e diocesanos em toda a Europa. Dando-lhe efeito prático, São Carlos Borromeo deu o exemplo, fundando um hospital em Milão e obrigando os diretores a apresentar relatórios de sua administração. Ele também determinou as condições para a admissão de pacientes de tal modo a excluir candidatos indignos (Primeiro Concílio de Milão, parte III, c. i, em Harduin, X, 704). Em Roma as fundações principais durante este período foram: o hospital estabelecido em 1581 na ilha no rio Tibre, onde a Esculapium da Roma pagã havia estado, o hospital para os sacerdotes pobres fundada por um leigo, Giovanni Vestri (morto em 1650); a de Lorenzo, em Fonte (1624) para as pessoas que tinham passado pelo menos 14 anos ao serviço dos papas, cardeais, bispos e a de San Gallicano para doenças de pele, erigida pelo Papa Bento XIII em 1726. Na França, o controle dos hospitais já tinha passado para as mãos do Rei. Luis XIV estabeleceu em Paris um hospital especial para quase todas as necessidades: inválidos, convalescentes, doentes incuráveis , etc, além de um vasto "hospital geral" para os pobres. Ele contou com os esforços do episcopado para colocar em vigor os decretos tridentinos sobre a superintendência e visitação dos hospitais. Por outro lado, este período foi notável pelos resultados alcançados por São Vicente de Paulo, e especialmente pela comunidade que ele fundou para cuidar dos pobres doentes, as Irmãs da Caridade. Desde a Reforma, de fato, as mulheres tiveram um papel mais proeminente do que nunca no cuidado dos doentes. Mais de uma centena de ordens ou congregações femininas foram criadas para esta finalidade (ver lista em André-Wagner, “Dict. de droit canonique", Paris, 1901, II, s.v. Hospitalários). Uma tentativa notável de reforma durante o século XVIII foi a do Hôtel-Dieu de Paris no reinado de Luís XVI. Este hospital, que geralmente tinha 2.400 pacientes e, às vezes, 5.000, há muito sofria de superlotação, ventilação deficiente, e negligência aos pacientes. Para sanar esses defeitos, uma comissão foi nomeada, que incluía Tenon, Lavoisier e Laplace. A principal recomendação contida no seu relatório (1788) foi a adoção do sistema modelado de pavilhões como o do hospital de Plymouth, Inglaterra (1764). A Revolução Francesa, porém, interveio e foi só durante o século XIX que as melhorias necessárias foram introduzidas. Em outros países europeus, por sua vez, ocorreram muitas fundações: na Inglaterra, em Westminster (1719), Guy (1722), de São Jorge (1733); na Alemanha, a Charité em Berlim estabelecida por Frederico I (1710) e o hospital em Bamberg, pelo Bispo Franz Ludwig von Erthal (1789); na Áustria o hospital Geral de Viena, fundado por Joseph II, 1784. AMÉRICA O primeiro hospital na América foi construído antes de 1524, na Cidade do México, por Cortés, em gratidão, como ele declarou em seu testamento "pelas graças e misericórdias que Deus tinha lhe concedido e permitindo-lhe descobrir e conquistar a Nova Espanha, e em expiação por qualquer pecado que tivesse cometido, especialmente aqueles que ele não lembrava, ou qualquer culpa que pudesse haver em sua consciência, para a qual ele não poderia fazer uma expiação especial. Foi chamado de Hospital da Puríssima Conceição, e depois de Jesus Nazareno, devido a um santuário vizinho. Ele ainda existe e seus superintendentes são nomeados pelos descendentes de Cortes, os Duques de Terranova y Monteleon. O Papa Clemente VII, na Bula de 16 de abril de 1529, conferiu a Cortes o perpétuo patrocínio deste e de outras instituições similares fundadas por ele. Dentro da primeira década após a conquista, o Hospital de São Lázaro foi fundado com acomodações para 400 pacientes e o Hospital Real, também na cidade do México, foi criado por um decreto de 1540. Uma lei de 1541 ordenava que hospitais deveriam ser erguidos em todas as cidades espanholas e indianas (Bancroft, "História do México", II, 169, III, 759). O Primeiro Conselho Provincial de Lima (1583) e o Conselho Provincial do México (1585) decretaram que cada sacerdote deveria contribuir com a décima segunda parte de sua renda para os hospitais (D'Aiguirre, "Concil. Hispan.", IV, 246, 355). Os Irmãos de São Hipólito - uma congregação criada em 1585 por Bernardin Alvarez, um cidadão do México, e aprovada por Clemente VIII em 1594 - dedicava-se ao cuidado dos doentes e construiu numerosos hospitais. Os belemitas, ordem fundada por Pedro de Betancourt (morto 1667) e aprovado por Clemente X em 1673, estabelecidos na Guatemala e ao longo de quase toda a América Latina, realizaram um excelente serviço trabalhando nos hospitais, até a sua supressão, bem como a de todos os outros religiosos no México, em 1820.
O primeiro hospital dos Estados Unidos foi erguido na ilha de Manhattan por volta de 1663, "a pedido do cirurgião Hendricksen Varrevanger, para a recepção dos soldados doentes que haviam sido previamente alojados em casas de famílias privadas, e para os negros da Companhia das índias Ocidentais" (Callaghan, "New Netherland Register"). Casas para tratamento de doenças contagiosas foram estabelecidas em New York, Salem (Massachusetts), e Charleston no início do século XVIII. Em 1717 um hospital para doenças infecciosas foi construído em Boston e o Hospital da Pensilvânia começou a ser construído em 1751 (concluído em 1805). O primeiro hospital criado pela beneficência privada foi o Hospital de Caridade em Nova Orleans, por volta de 1720. Para sua fundação Jean Louis, um marinheiro,que virou oficial da Companhia das Índias, deixou 12 mil libras. Esse hospital foi destruído pelo furacão de 1779. O Novo Hospital de Caridade (San Carlos) foi fundado em 1780 patrocinado por Dom Andres de Almonester y Roxas: tornou-se Hospital da Cidade em 1811. Ainda está no comando das Irmãs de Caridade, é um dos hospitais mais importantes do país, recebendo anualmente cerca de 8.000 pacientes. O mais antigo hospital na cidade de New York é o New York Hospital, fundado em 1770 por contribuições particulares e doações vindas de Londres. Recebeu da Assembléia Provincial um subsídio de 800 libras por 20 anos e da Assembléia Legislativa do Estado (1795) um subsídio anual de 4000 libras, aumentado em 1796 para 5000 libras. O Bellevue Hospital, originalmente enfermaria da Casa de Esmolas da Cidade de Nova York (Alms House), foi fundado no local da atual em 1811. O Hospital São Vicente foi inaugurado em 1849; os edifícios atuais foram erguidos entre 1856 e 1860 e proviam alojamento para 140 pacientes. O número médio anual de pacientes excedia 5000. Há agora mais de 400 hospitais católicos nos Estados Unidos que cuidam de cerca de meio milhão de pacientes anualmente. A multiplicação dos hospitais nos últimos tempos, especialmente durante o século XIX, ocorreu devido a uma variedade de causas. A primeira delas foi o crescimento da indústria e a consequente expansão da população das cidades. Para atender as necessidades das classes trabalhadoras, hospitais com instalações maiores foram criados, e algumas associações constituíram fundos para garantir o cuidado adequado aos membros doentes. Em alguns países (por exemplo, Alemanha e Inglaterra) o seguro para operários, como prescrito por lei, permitia-lhes, em caso de doença, receber tratamento hospitalar. Outro fator importante foi o avanço da ciência médica, que trouxe consigo a necessidade de ensino clínico. A este respeito as universidades têm exercido uma influência salutar: nenhum curso de medicina é possível atualmente sem que haja uma formação prática em algum hospital. Por outro lado, a eficiência dos hospitais melhorou devido a numerosas descobertas relativas à higiene, anestesia e antissepsia, contágio e infecção. A experiência com as guerras ocorridas também propiciaram melhorias. As lições aprendidas nas guerras da Criméia e na Guerra Civil Americana foram aplicadas à construção de hospitais, e levaram à adoção do sistema de pavilhão. BRASIL O Primeiro hospital do Brasil é a Santa Casa da Misericórdia de Santos, do Estado de São Paulo, que foi inaugurado em novembro 1543. A construção teve início em 1542, por iniciativa do português Braz Cubas, líder do povoado do porto de São Vicente, posteriormente Vila de Santos. Ele teve o auxílio dos próprios moradores da região. Sua data de fundação foi o dia primeiro de janeiro, conhecido como o dia de todos os santos, e por isso o hospital recebeu o nome de Hospital de Todos os Santos, também para homenagear o maior hospital de Lisboa, em Portugal. Desse nome, saiu também o nome da cidade de Santos. Frei Gaspar, em sua Memórias para a História da Capitania de São Vicente, diz que Braz Cubas, "com esmolas e ajutórios dos confrades, edificou uma igreja com o título de N. S. da Misericórdia e junto a ela um hospital". A administração e assistência ao hospital ficou a cargo da Confraria da Misericórdia, confirmada por D. João III em Almerim, a 2 de abril de 1551. O hospital prestou atendimento aos colonos, nativos e escravos, passando pelos nobres do Império Português e do Brasil Imperial, tradicionais monarquistas e republicanos, até patrões, operários, empregados e desempregados. Serviu para a prática e o ensino da Medicina durante quase três séculos, antes da fundação da primeira faculdade de Medicina do país. No ano de 1560 foi criada a Confraria da Misericórdia de São Paulo dos Campos de Piratininga, alojada no Pátio do Colégio, depois nos Largos da Glória e Misericórdia, até ser inaugurada na Vila Buarque, em 1884 o Hospital Central - sua sede até os dias de hoje.No Rio de Janeiro a Santa Casa de Misericórdia foi instalada pelo Padre José de Anchieta para socorrer os tripulantes da esquadra do Almirante Diogo Flores Valdez, aportada à baía de Guanabara em 25 de março de 1582, com escorbuto a bordo. A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia chegou aos tempos atuais com várias misericórdias espalhadas no Brasil e em Portugal, dedicadas, sobretudo, a vocação hospitalar. A primeira Misericórdia que se tem notícia é a de Florença, fundada por São Pedro Mártir por volta de 1240, saída de uma “Società della Fede”. Em 1321 já se chamava “Santa Maria della Misericórdia”. Em 1502 havia misericórdias em Ceuta, Tanger, Arzila e Alcácer Seguer, além de outras onze no Reino Lusitano. Em 1520 já se tem notícia de uma misericórdia ativa em Goa. No século XX surgiram os hospitais particulares, com objetivos lucrativos, de propriedade de médicos. A partir de 1960 começaram a surgir os hospitais próprios da medicina de grupos, envolvendo tanto os grupos médicos quanto as cooperativas médicas. CONCLUSÕES A Organização Mundial da Saúde define que "o hospital é parte integrante de um sistema coordenado de saúde cuja função é dispensar à comunidade completa assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos à família em seu domicílio e ainda um centro de informação para os que trabalham no campo da saúde e para as pesquisas bio-sociais". Instituição multiprofissional, privada ou pública, os bons hospitais atualmente são os que adotam uma eficiente administração aliada à constante inovação dos serviços hospitalares, qualidade e a oferta de mais do que o simples atendimento às necessidades dos pacientes. Hoje em dia é impossível imaginar uma sociedade sem a presença de hospitais. Essa grandiosa instituição deve sua história à Igreja e aos religiosos e religiosas, leigos e leigas que, movidos pela caridade cristã, dedicaram suas vidas a cuidar dos doentes. Os hospitais de hoje devem muito de seu sucesso ao progresso científico, a investimentos generosos e administração eficiente, mas nenhum destes pode servir de substituto ao trabalho abnegado dos homens e mulheres que cuidam dos doentes. |
|
||||||||||||||
Notas: A Ordem de Malta (oficialmente Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta) é uma organização internacional católica que começou como uma ordem Beneditina fundada no século XI na Terra Santa, durante as Cruzadas. Atualmente, a Ordem de Malta é uma organização humanitária soberana internacional, reconhecida como entidade de direito internacional. A ordem dirige hospitais e centros de reabilitação. Possui 12.500 membros, 80.000 voluntários permanentes e 20.000 profissionais da saúde associados, incluindo médicos, enfermeiros, auxiliares e paramédicos. Seu objetivo é auxiliar os idosos, os deficientes, os refugiados, as crianças, os sem-teto e aqueles com doença terminal e hanseníase, atuando em cinco continentes do mundo, sem distinção de raça ou religião.A Ordem Soberana e Militar de Malta não tem sua sede no país de mesmo nome, mas sim no minúsculo território de apenas 6 km² que consiste em um prédio em Roma e seu jardim. Fontes: Walsh, James Joseph. "Hospitals." The Catholic Encyclopedia. Vol. 7. New York: Robert Appleton Company, 1910. 3 Oct. 2012 <http://www.newadvent.org/cathen/07480a.htm>. Woods Jr., Thomas E. Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental. São Paulo, Quadrante, 2008. Felipe Aquino. Uma história que não é contada. Editora Cléofas, 2008. Histórias e Lendas de Santos - Medicina - Santa Casa de Misericórdia. Consultado em 01/10/2012. 510 ANOS DA MISERICÓRDIA. VIRTUÁLIA - O Manifesto Digital. Publicado em 8 DE DEZEMBRO DE 2007. Consultado em 01/10/2012. Ordem Soberana e Militar de Malta. Wikipédia, a enciclopédia livre. Xenodochium de Masona
|
|||||||||||||||
Publicado no Portal da Família em 15/10/2012 |
Divulgue este artigo para outras famílias e amigos.
Inscreva-se no nosso Boletim Eletrônico e seja informado por email sobre as novidades do Portal
www.portaldafamilia.org