O Ministério da Saúde acabou de criar
uma rede nacional de bancos de células-tronco de cordão
umbilical para o tratamento de leucemia. Com isso mostra que há
um jeito mais eficaz, e, principalmente, mais lícito, para obtenção
de células-tronco do que tendo de recorrer à clonagem terapêutica
de embriões humanos.
Do artigo Coleta de esperança - O Ministério
da Saúde cria uma rede nacional de bancos de células-tronco
de cordão umbilical para o tratamento de leucemia, de Paula Neiva,
Revista VEJA - Edição 1872 . 22 de setembro de 2004:
Todos os anos 7.500 brasileiros recebem o diagnóstico
de leucemia, um tipo de câncer que compromete a produção
das células de sangue na medula óssea. Para 3.000 deles,
a única esperança é um transplante. Ou seja, substituir
as células doentes por células sadias. Menos da metade
desses pacientes, no entanto, encontra um doador entre seus parentes.
As outras vítimas do câncer têm de enfrentar uma
longa e angustiante busca por doadores não aparentados. Neste
momento, no Brasil, há 800 pessoas à procura de um doador.
Como o tempo médio de espera é de seis meses, algumas
chegam a morrer na fila. Na tentativa de reverter esse quadro, até
o fim deste mês o Ministério da Saúde inaugura uma
rede nacional de bancos públicos de células-tronco de
cordão umbilical, a BrasilCord.
O sangue encontrado no cordão umbilical é
rico em células-tronco aquelas células que, por
não terem sofrido diferenciação, têm a capacidade
de se transformar em células de vários tecidos do corpo
humano. Anunciadas como a grande promessa da medicina, essas células
vêm sendo utilizadas com sucesso extraordinário no tratamento
de leucemia. Nesse caso, o transplante de células-tronco de cordão
umbilical é mais simples e mais fácil do que o transplante
de células da medula óssea o tipo de tratamento
do qual depende a imensa maioria dos doentes brasileiros.
A retirada de células da medula óssea
para transplante exige que o doador se submeta a uma cirurgia, com anestesia
geral. É difícil encontrar pessoas que se disponham a
essa operação. Tanto que a lista de doadores brasileiros
de medula conta com apenas 72.000 nomes. O ideal seria que ela tivesse
2 milhões. A doação das células-tronco de
cordão requer somente a autorização da mãe
para que, no momento do parto, seja coletado o sangue do cordão
umbilical de seu bebê. Retirado o sangue, ele passa por uma série
de exames para afastar a possibilidade de que esteja de alguma forma
contaminado. Uma centrífuga, então, separa as células-tronco
e, na seqüência, elas são estocadas em tanques de
nitrogênio líquido, a menos 180 graus Celsius. Ficam ali
à disposição de futuros receptores. Os transplantes
de células de cordão têm ainda outra vantagem sobre
os de células da medula. Como as células-tronco de cordão
têm mais capacidade de adaptação, as chances de
encontrar o doador são maiores.
Calcula-se que, para suprir a variedade genética
da população brasileira, a BrasilCord tenha de trabalhar
com um estoque mínimo de 20.000 cordões umbilicais. A
idéia é criar centros de coleta e estoque de células-tronco
de cordão em várias regiões do país. O primeiro
a integrar a rede será o banco do Instituto Nacional de Câncer,
no Rio de Janeiro, que já conta com 700 cordões guardados.
Outro núcleo de coleta e armazenamento de células-tronco
é o de São Paulo, criado a partir de uma parceria entre
o Hospital Albert Einstein, a Universidade de São Paulo (campus
de Ribeirão Preto) e a Universidade Estadual de Campinas. "A
previsão é que em cinco anos nós já tenhamos
estocado ao menos 10.000 cordões", diz o geneticista Carlos
Alberto Moreira-Filho, diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa do
Hospital Albert Einstein.